Shealah Craighead/The White HouseO presidente festeja: “Acho que é a primeira manchete positiva que já ganhei no Washington Post”

Trump larga na frente

Livre do impeachment e com aprovação recorde, Donald Trump sai com vantagem na corrida presidencial, enquanto democratas se embananam
07.02.20

Nesta quinta-feira, 6, o presidente americano Donald Trump convocou uma coletiva de imprensa na Casa Branca para celebrar. “Temos algo que acabou de dar certo. Passamos pelo inferno de maneira injusta. Não fizemos nada de errado. E este foi o resultado desta vez”, disse Trump. O presidente então levantou um exemplar do jornal The Washington Post com a manchete “Trump absolvido”. Sob aplausos, ele brincou que iria emoldurar o exemplar do jornal com o qual vive às turras. “Acho que é a primeira manchete positiva que eu já ganhei no Washington Post.”

Trump tem múltiplos motivos para se regozijar. Como previsto, o processo de impeachment iniciado pela Câmara dos Deputados em setembro terminou nesta quarta-feira, 5, com o presidente inocentado no Senado das duas acusações, de abuso de poder e obstrução dos trabalhos do Congresso. Ao dar a largada ao impeachment, a líder dos democratas na Câmara, Nancy Pelosi, esperava que as revelações dos interrogatórios e a descoberta de novas evidências inclinariam tanto senadores republicanos, que formam a maioria na casa, como a maior parte da opinião pública a virar-se a favor da deposição do presidente. Nada disso aconteceu.

Apenas um senador republicano, Mitt Romney, votou contra Trump, e isso em apenas uma das acusações, a de abuso de poder. Quarenta e oito senadores condenaram Trump, um número ainda abaixo da maioria, de 51 votos. Na votação sobre obstrução dos trabalhos do Congresso, Romney voltou a se alinhar com os demais republicanos. Desta vez, os democratas somaram 47 votos. Nas duas votações, eles passaram longe de alcançar os dois terços necessários (67 votos) para tirar Trump do cargo.

O momento em que Trump ignora o gesto da senadora Nancy Pelosi
Na tentativa de convencer os cidadãos, os democratas também fracassaram. Quando Pelosi iniciou o processo na Câmara, a aprovação do presidente era de 39% na pesquisa Gallup. Na última semana, chegou a 49%, um recorde histórico. Trump ganhou popularidade, principalmente entre republicanos, porque cumpriu as suas promessas. O PIB cresceu 2,3% no ano passado. Perto de 65% dos americanos aprovam a maneira como ele conduz a economia. O número de migrantes tentando entrar no país pela fronteira com o México caiu após acordos com países da América Central e deportações em massa. Na política externa, manteve a promessa de sair das guerras sem fim. E ele tem três prêmios para ostentar: as mortes do líder do grupo terrorista Estado Islâmico, Abu Bakr Baghdadi, do general iraniano Qassem Soleimani e do líder da Al Qaeda no Iêmen, Qassim Rimi, que morreu em um ataque de drones há duas semanas.

Na noite da terça-feira, 4, Trump proferiu o tradicional discurso do Estado da União, em que destacou suas conquistas e atacou seu antecessor, Barack Obama, ao longo de 77 minutos. “Em apenas três anos, nós aniquilamos a ideia de um declínio americano e rejeitamos a redução do destino da América. Estamos seguindo para um caminho que era inimaginável pouco tempo atrás e nunca vamos recuar. Se não tivéssemos revertido as políticas econômicas falidas do governo anterior, o mundo não estaria vendo agora este grande sucesso econômico”, disse.

Nancy Pelosi, que estava atrás de Trump durante o seu discurso no Congresso, protagonizou uma cena lamentável. Assim que recebeu uma cópia do discurso das mãos do presidente, ela segurou a pasta com a mão esquerda e tentou cumprimentá-lo com a direita. Trump a ignorou. Pelosi então recolheu rapidamente a mão, constrangida. Ao final do discurso, em retaliação à deselegância do presidente, ela rasgou teatralmente as páginas da cópia do discurso. No Twitter, a democrata publicou uma foto do exato momento em que aparece com a mão no vazio, para tentar justificar a sua atitude. Trump e Pelosi, que ocupam os dois cargos mais importantes na política americana, não se falam há quatro meses.

Phil RoederJoe Biden, que ficou em quarto lugar em Iowa: soco no estômago
O crescimento econômico e a absolvição de Trump no impeachment tornam mais árduo para os democratas encontrar bons argumentos contra o republicano. Também fazem com que seja mais complicado incentivar seus eleitores a sair para votar. Na segunda-feira, 3, foi dada a largada, em Iowa, nas eleições primárias que definirão os participantes da corrida presidencial. O pleito regional, que acontecerá em todos os outros estados americanos, serve para que cada partido escolha o nome que disputará a eleição geral em novembro. Estima-se que 170 mil democratas tenham comparecido às primárias de Iowa este ano, um número próximo do das primárias de 2016, quando o partido se decidiu por Hillary Clinton, que depois perdeu para Trump. Mas nada que se aproxime do comparecimento em 2008, quando 240 mil filiados do estado lançaram nacionalmente o nome de Barack Obama, que governou o país por dois mandatos.

Os democratas, portanto, ainda precisam encontrar um nome que empolgue a sua base eleitoral, assim como ocorreu com Obama em 2008. Em Iowa, a surpresa democrata ficou a cargo de Pete Buttigieg (pronuncia-se “boot edge edge”), ex-prefeito de South Bend, uma cidade de 100 mil habitantes no estado de Indiana. Com 38 anos, ele é o primeiro gay assumido a concorrer em uma eleição nacional. Também é veterano de guerra e cristão praticante. A votação em Buttigieg foi ofuscada por uma confusão na apuração dos resultados. Normalmente, o nome do vencedor das primárias é anunciado na mesma noite. Desta vez, o resultado foi atrasado em vários dias. Um aplicativo criado para facilitar o trabalho de contagem teve um problema de código. Resultados tiveram de ser transmitidos para uma central por telefone. Mesários ficaram horas esperando na linha para comunicar os números de seus distritos. Na quinta-feira, 6, Buttigieg aparecia empatado com Bernie Sanders, ambos com 26%. Em terceiro lugar estava Elizabeth Warren, com 18,2%.

Sanders e Warren podem ser nomes mais atraentes para os jovens democratas mais radicais, mas em uma eleição geral contra Donald Trump eles não motivariam os mais moderados. Essa fatia do eleitorado estava apostando principalmente em Joe Biden, que foi vice de Obama e está com 77 anos. Em Iowa, porém, Biden caminhava para um amargo quarto lugar até a noite de quinta-feira. O resultado, que ele classificou como um “soco no estômago”, deve desencorajar doações para a sua campanha. Quem mais arrecadou até agora foi Bernie Sanders. Entre os republicanos, Trump venceu em Iowa com 97% dos votos. “O espírito do Partido Republicano nunca esteve tão forte como agora”, disse o atual presidente na coletiva desta quinta. “Este é o pior pesadelo do outro lado.”

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