Porto de SantosCarregamento de navio no porto de Santos: acordo entre Mercosul e Reino Unido poderia sair em até um ano e meio

A janela do Brexit

A saída do Reino Unido da União Europeia abre oportunidades de bons acordos para exportadores brasileiros
31.01.20

Após 47 anos como membro da União Europeia, o Reino Unido deixa oficialmente o bloco no fim da noite desta sexta-feira, 31 de janeiro. Será o ápice de um longo processo, deflagrado por um referendo realizado há três anos e meio. Desde 2018, pelo menos, os negociadores brasileiros já estão à espreita. Eles estão ansiosos para fazer tratativas comerciais diretamente com os britânicos. A expectativa no Itamaraty e no Ministério da Economia é a de que um acordo entre o Mercosul e o Reino Unido possa ser fechado em um ano e meio.

O tempo para finalizar o processo seria breve porque as negociações não partirão do zero. Elas se basearão em um tratado firmado entre a União Europeia e o Mercosul no ano passado. Como os britânicos sempre foram mais liberais do que os demais europeus, imagina-se que o trabalho será basicamente o de limar impostos e anular medidas protecionistas desnecessárias. Entre elas, estão as limitações a produtos transgênicos.

“A União Europeia sempre foi um bloco com instintos protecionistas. O Reino Unido, por exemplo, não pôde importar vinho barato da Nova Zelândia por causa do lobby da indústria vinícola italiana. É uma situação ridícula, mas que é típica da UE”, diz o economista irlandês Kevin Dowd, da Universidade Durham. Dowd é um liberal típico. Ele defende que o Reino Unido faça acordos de livre-comércio com o maior número possível de países e blocos. “Um tratado entre o Reino Unido e o Mercosul beneficiaria importadores e exportadores de ambos os lados do Atlântico. Isso elevaria a eficiência econômica e o bem-estar em todos os países envolvidos. Como não gostar de algo assim?”, diz.

ReproduçãoReproduçãoO Parlamento Europeu aprova o Brexit na quarta, 29
Um estudo divulgado pela ONU em abril do ano passado listou os países que mais podem faturar com o Brexit. No topo da lista estão China, Estados Unidos e Japão. O Brasil aparece em sétimo, podendo faturar 1 bilhão de dólares a mais ao ano com exportações. O país poderia ganhar principalmente com a exportação de produtos agrícolas, carnes e laticínios. Atualmente, o Brasil exporta 3 bilhões de dólares por ano para o Reino Unido, que é o 17º maior destino de produtos brasileiros.

Uma área promissora é a de cafés especiais. Os britânicos, tradicionais consumidores de chá, começaram a tomar mais a bebida com a inauguração de várias cafeterias nos últimos anos. Atualmente, o café brasileiro em grão chega à Europa pelo porto de Roterdã, na Holanda. Empresas alemãs misturam os grãos, processam o produto e o reexportam para outros países da União Europeia e para a Turquia. “Com um acordo bilateral, o café gourmet brasileiro poderá chegar diretamente ao Reino Unido, onde empresas locais apenas torrariam o grão”, diz o engenheiro agrônomo Celso Rodrigues Vegro, do Instituto de Economia Agrícola, em São Paulo. “Se o Brasil trabalhar bem esse mercado, poderá se tornar a grande força de cafés especiais no Reino Unido.”

O maior empecilho para um acordo com o Reino Unido não é a divergência de visões, mas a falta de pessoal. Do lado brasileiro, a equipe é reduzida. Não passa de setenta negociadores. Eles estão divididos em várias frentes: Canadá, Coreia do Sul e Líbano. Também precisam revisar os acordos que já foram feitos com a União Europeia e com a Associação Europeia de Livre Comércio, a EFTA, que inclui Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. De qualquer forma, as circunstâncias são boas para o Brasil. “O Reino Unido não estará em uma posição forte fora do bloco europeu. Com isso, países da América Latina, como o Brasil, não terão dificuldade para obter acordos favoráveis”, diz o economista alemão Christian Kastrop, diretor do departamento europeu da Fundação Bertelsmann.

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