O onipresente: Wilson Pudim, ao lado de Temer em confraternização de fim de ano no Palácio do Jaburu, em 2013 (Anderson Riedel/VPR)

O amigo oculto do presidente

Mais um misterioso personagem aparece no entorno de Michel Temer. Dono de uma empresa de transporte de valores na região de Santos, ele não sai de Brasília e entra no gabinete presidencial sem bater na porta
29.06.18

Em palácios, as pessoas costumam respeitar a liturgia. Era fim de fevereiro e um auxiliar de Michel Temer recebeu o aviso de que poderia entrar na antessala do escritório presidencial no Planalto. Nara de Deus, a chefe de gabinete de Temer, o receberia. Ao entrar na sala, o assessor viu que ali havia uma terceira pessoa que ele não conhecia. Um senhor de meia idade, corpulento, que rapidamente se levantou, abriu uma porta e, sem avisar, entrou no gabinete de Temer. A reação do assessor foi de estranhamento. Nem os funcionários do mais alto escalão têm tamanha intimidade com o presidente. E a tal porta não era a que costuma ser usada para o acesso das visitas. Soube-se depois que o homem em questão, que nem precisou bater ou esperar autorização para adentrar ao gabinete presidente, era Wilson Roberto Mendes de Sá. Ou simplesmente Wilson Pudim, para os mais íntimos.

Pudim é uma daquelas eminências pardas que trafegam no Palácio do Planalto como se ali trabalhasse. Não tem mandato, não tem cargo no governo, mas goza de passe livre onde quer que o presidente ou familiares estejam, numa situação que, no passado, já trouxe problemas para o ex-presidente Lula e até para o próprio Temer – ambos tiveram “amigos” com acesso irrestrito ao Planalto que foram presos justamente por confundirem o público com o privado. Discreto, Pudim tem outros privilégios. Emplacou um filho de 26 anos na Presidência e, acredite, mantém uma empresa que já transportou dinheiro para uma firma acusada de pagar propina a Lúcio Funaro, operador do MDB. Sim, Michel Temer tem um assessor informal que é dono de uma empresa de transporte de valores. E mais: a empresa fica na região de Santos, onde o presidente é acusado de manter influência sobre o porto e se beneficiar disso. Pode ser tudo uma grande coincidência? Claro que pode.

Pudim é um dos personagens de uma fotografia histórica para Michel Temer. Em um aposento do Palácio do Jaburu, o hoje presidente da República assistia pela televisão à votação do impeachment de Dilma Rousseff. Ao lado dele estavam algumas das figuras mais importantes do MDB: Eliseu Padilha (que viria a ser nomeado chefe da Casa Civil), Henrique Eduardo Alves (ex-deputado, preso pela Lava Jato), Rodrigo Rocha Loures (ex-assessor de Temer mais tarde flagrado correndo com a famosa mala contendo 500 mil reais em propinas da JBS). Mais no canto, mas não de fora da imagem, estava Wilson Sá, sorridente e em trajes bem mais informais do que o resto do grupo. É o tipo de parceiro que está sempre por perto, e sempre disponível.

No dia da votação do impeachment, Temer e seu séquito acompanham tudo pela TV: Pudim, à direita na foto, parece bem à vontade (Divulgação)
A relação de Pudim com Temer é ilustrada por uma declaração do próprio presidente em um velho discurso que passou despercebido. “Eu fiz amigos aqui na Praia Grande há mais de 25 anos. Quando eu venho para cá, é como se me sentisse em casa”, disse o emedebista, de microfone na mão. Era antevéspera do segundo turno de 2014 e ele discursava em busca de votos. “Eu me sinto muito bem recebido, meus…”, parou o então vice-presidente, de repente. Ele levara no braço três tapas vigorosos de um homenzarrão que, depressa, queria lhe dizer algo ao pé do ouvido. Temer, depois da pausa repentina, voltou a falar à plateia: “É, o Wilson está me lembrando que, quando eu era secretário de segurança, eu fui o primeiro a ter a coragem de mandar a Rota (o batalhão de choque da PM paulista) para a cidade nas férias”. Wilson era o agora conhecido Pudim. Em Praia Grande, aliás, ele gosta de se dizer “sobrinho” e “afilhado” do presidente da República.

Ainda quando Michel Temer era vice, Pudim já destoava nas cenas oficiais. No fim de 2013, ele era o convidado da confraternização do Palácio que mais ficava colado ao presidente, superando até assessores pessoais. Na foto da festa, deu de ombros para o séquito contido, que estava de mãos para trás e postura sóbria, agachou-se como um jogador de futebol e estampou um sorrisão. Até hoje, a presença frequente de Wilson Pudim no entorno de Temer chama a atenção de militares que cuidam da segurança presidencial. O estranho no ninho, que vive entre Praia Grande e Brasília, costuma surpreender. Não faz muito tempo, Michelzinho, o filho de oito anos do presidente, queria passear no shopping. Quem o levou? Para a surpresa dos seguranças, Pudim foi o cicerone do menino. O amigão de Temer costuma presentear o primeiro-filho. Isso já aconteceu várias vezes, segundo uma pessoa próxima. No dia do passeio no shopping, onde há um espaço com brinquedos eletrônicos, Michelzinho passou mais de quatro horas. O simpático Pudim, pacientemente, fazia as suas vontades.

Todos os homens de Temer

Os parceiros de negócios e de operações políticas do presidente da República, investigado por corrupção

 

Quando não está no Planalto ou no Jaburu, Wilson Pudim mantém um interlocutor sempre próximo de Michel Temer. Seu filho, Fernando Roberto Campos de Sá, ganhou um cargo de confiança no gabinete pessoal do presidente um mês após a queda de Dilma, ainda no governo interino – ele tinha 24 anos de idade. Hoje, aos 26, e com salário de 13 mil reais, é encarregado de fornecer “informações em apoio à decisão” do presidente da República. Ele costuma acompanhar reuniões presidenciais. A vaga no palácio para o filho não foi o primeiro agrado que Pudim conseguiu do governo. Em 2012, o amigo oculto de Temer foi agraciado com a Medalha da Vitória, uma honraria do Ministério da Defesa. Temer àquela altura era vice-presidente. Outro de seus homens de confiança também receberia a medalha no mesmo dia: Rodrigo Rocha Loures, que cinco anos depois foi pilhado recebendo a mala da propina da JBS.

Wilson Pudim é dono da WR Mendes de Sá, em Praia Grande. A atividade principal da firma, de acordo com o registro na Receita Federal, é “transporte de valores”. Segundo consta de ações trabalhistas contra Pudim, o serviço principal da empresa seria o de escolta, para garantir a segurança no transporte de dinheiro. O amigo do presidente foi processado por policiais que o acusaram de não reconhecer o vínculo empregatício que supostamente mantinham com a WR. Numa das ações, um policial civil diz que prestou serviços para a Viação Piracicabana, por meio da empresa de Pudim. À semelhança de Temer e companhia, a Piracicabana é encrencada na Lava Jato. Pelo menos 500 mil reais da Viação Piracicabana e da Princesa do Norte, empresas do empresário Henrique Constantino, foram repassados à Viscaya Holding, de Lúcio Funaro, em 2012. Naquele ano, a Caixa liberou 300 milhões de reais para a ViaRondon, da família de Constantino. Funaro é um ex-operador do MDB que delatou Temer, Constantino e correligionários. Coincidência? Talvez.

O craque do Brasil e o amigo presidencial: Pudim, que na imagem aparece entre Temer e Neymar, acompanha visita ao instituto do jogador (Anderson Riedel/VPR)
Constantino também tinha sociedade à época na Global Aviation, contratada em série pela chapa Dilma-Temer em 2014 e pelo MDB. Em uma das viagens, o pagamento à Global para que ela providenciasse um de seus helicópteros para transportar Michel Temer durante a campanha foi feito por uma empresa curiosa, da mesma Praia Grande de Pudim: a Rubão, especialista em “comércio varejista de materiais de construção em geral”. O helicóptero da Global alugado pela Rubão serviu para levar Temer e mais alguns acompanhantes do aeroporto do Galeão, no Rio, até a cidade de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Era 23 de julho. Na comitiva do então vice-presidente e candidato à reeleição estavam o então prefeito do Rio, Eduardo Paes e… o onipresente Pudim.

Ao longo da campanha daquele ano, Pudim esteve em mais de 100 voos em jatinhos com Temer, sempre com entourage mínimo, coisa de cinco pessoas. Não se tratava de caronas à Praia Grande. Wilson voou com o presidente a mais de uma dezena de estados, em todas as regiões. Ritmo de candidato. Em terra, abria caminhos, ciceroneava Temer, vigiava o entorno e, quando o candidato posava para fotos, postava-se atrás dele para garantir a retaguarda – exatamente como continuou fazendo depois que Temer assumiu a cadeira de presidente. Nos palácios, as pessoas costumam respeitar a liturgia. Mas, como a história recente mostra, sempre há exceções.

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  1. Conselho ao Pudim, o Temer não tem nenhum amigo honesto. Na verdade estão todos sendo presos ou pendurados por questões de imunidade. Afaste-se enquanto é tempo de salvar alguma imagem de cidadão de bem que ainda possa ter.

    1. a melhor imagem desse sujeito é a de um pudim de corrupção com calda de caramelo.

  2. Como pode o Comandante em Chefe das Forcas Armadas estar rodeado pelo submundo do crime e os militares q servem o gabinete presidencial engolirem esse tipo de coisa?

  3. Situação inusitada e gravíssima! A leitora Daisy (abaixo) postou um link de uma matéria que conta que o tal Pudim foi acusado de porte ilegal de arma de fogo e falsidade ideológica, por se passar por policial civil, quando era funcionário da Prefeitura, tendo dado ordem de prisão a um manifestante, durante um protesto. Nada aconteceu com Pudim. A Prefeitura não levou o caso adiante. Pudim que tem padrinho poderoso se mantém intacto....

  4. Sempre achei que o operador de dinheiro em espécie do Temer fosse o Padilha, por meio da Concessionária Eliseu Padilha (Concepa) e seus pedágios no sul. Essa empresa mudou o nome para Triunfo-Concepa e se espalhou pelo país, sabe-se que o "bicuíra" está no comando de tudo.

  5. ESSE PUDIM DEVE SER DE LARANJA. A MANEIRA FÁCIL DE CONSEGUIR $$$$ EM PAPEL MOEDA É VIA TRANSPORTADORAS DE VALORES. JÁ PENSARAM NISSO !!!!!

  6. Gostei do formato da matéria (dests e também a do Ciro). Em outubro, voto Novo! Segundo turno entro em colapso, se der Bolsonaro x Ciro. Que Lula não seja solto e que em janeiro Temer seja preso! Agora, se Gleisi, Dilma, Aécio e Renan ganharem eleição para algum cargo, realmente proponho suicidio coletivo, rs

    1. Realmente não está fácil, Maria! A ex-presidente saiu pré-candidata ao senado por MG e, pasmem, segundo pesquisas, será eleita juntamente com quem? O Sr. Aécio Neves. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come... o Brasil acabou. Se o Ciro for eleito, acho que a tua proposta é realmente válida.

  7. Brasil é isso. E será para sempre. Cada povo tem o governo e os políticos que elege e merece. Tudo e todos piorando de dois em dois anos. E tem muito para piorar ainda.

  8. Kkkkk Quem diria que o amigão do peito de Temer pudesse ter um codinome digno de Lula. Qual a origem do nome pudim? É por conta das banhas? Seria pq o sujeito enxuga muito? To curiosa.

  9. Desde que me mudei pra Santos - há uns 30 anos - escuto que " temer manda no Porto de Santos ". Muitas pessoas comentaram isso é quando é assim uma coisa quase vital, a gente começa a levar a sério.

  10. Pudim é o Bumlai de Temer. Esse presidente é uma raposa. Não quis residir no palácio Alvorada para receber mais à vontade seus amigos especiais sem as burocracias de praxe.

  11. Uma pena que quando vier à luz tudo o que este rato seboso nos roubou durante toda sua vida, pra nossa infelicidade este tipo de roedor é longevo, não mais existirão nem os ossos deste câncer!!!!!

  12. Tudo tem o jeito, o cheiro, a forma e o focinho de maracutaia. Mas, como todos que integram a equipe de assalto, o mordomo vai jurar que não, lógico. O Brasil padece de todas as liturgias: da hombridade, da ética, seriedade, honestidade e respeito. Os que estão por aí, soltos ou encarcerados, perderam qualquer vestígio de vergonha. E ainda fazem discursos com cara de quem é sério, honrado e honesto. E ainda posam de estadistas. A justiça precisa ser feita. Impossível um país assim.

  13. O Pudim é ou foi funcionário comissionado da Prefeitura de Praia Grande e esteve metido em confusão: http://www.diariodolitoral.com.br/policia/funcionario-publico-de-praia-grande-e-alvo-do-mp/49900/

  14. Não é só este que circula livremente pelo palácio e pela esplanada, um tal de JS que vem lá do Maranhão e que se diz aposentado e sem mandato, esta eminência parda está por trás de muitos bodes que tentaram colocar nas salas.

  15. 12 amigos: 1 - morto 6 - enrroladíssimos 4 - presos 1 - ??? A gravação do encontro com W.Batista e a célebre, infame, "tem que manter isso, viu?!?!" . . . Conclui-se que o presidente é . . .

  16. WILSON PUDIM ?! RA RA RA RA RA ... ESSE SACO DE MERDA DEVE SER OUTRO MEMBRO DA QUADRILHA DO TEMER !!! CLARO QUE É !!! ATÉ QUANDO OS SUPORTAREMOS !!! VENHA LOGO BOLSONARO E ACABE COM A FARRA DESSA PUTADA !!!

  17. Sou hj monarquista, por essas e outras. Tiraram o monarca mas mudaram so o nome. Não consta q Pedro segundo tivesse um pudim.

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