LeandroNarloch

Por que Maduro e Khamenei não caem?

10.01.20

Tanto Nicolás Maduro quanto o aiatolá Khamenei esculhambaram os países que governam, mas seguem mais firmes que muitos sensatos líderes democráticos. A teocracia islâmica no Irã já dura 40 anos; o chavismo na Venezuela, mesmo com fome, hiperinflação e migração em massa, vai completar duas décadas.

Por que duram tanto? Uma resposta é a pobreza. Maduro e Khamenei não caem porque conseguiram obter a maior vantagem de um ditador: empobrecer a população.

Gente faminta não tem tempo para protestar: precisa revirar o lixo para arranjar comida e passar horas na fila do supermercado subsidiado. Gente faminta tem mais a perder se recusar uma boquinha do emprego público em troca de apoio ao governo.

Ditaduras não se baseiam apenas na violência. Se o ditador se valer apenas do terror, corre grande risco de ser alvo de seu próprio sistema de repressão. Precisa se equilibrar num balanço entre repressão e privilégio a seus apoiadores. O regime não é fruto da vontade apenas da sua vontade, mas de todos os políticos, militares, jornalistas, intelectuais, religiosos, funcionários e empresários que lucram com ele. Essa minoria interessada em manter a boa vida que a ditadura lhe proporciona pode conter a maioria descontente e desorganizada.

Se a economia vai mal, ceder ao governo se torna o único jeito de ganhar algum dinheiro e não passar fome. A ditadura acaba conseguindo comprar apoio com um simples alvará ou licença de táxi. Quanto mais pobre a população, mais vulnerável ao ditador.

A relação entre renda e democracia é um tema antigo dos estudiosos. O cientista político Seymour Lipset publicou um estudo em 1959 afirmando que o desenvolvimento econômico é requisito da democracia. Sem prosperidade, é muito difícil um país se tornar ou se manter democrático. A Índia, pobre e democrática, é uma das poucas exceções.

A riqueza aumenta expectativas, fortalece visões dissonantes e reforça o valor da liberdade individual. Talvez seja por isso que diversas ondas de protesto surgiram logo depois de períodos de prosperidade, como o Maio de 1968 na França, Junho de 2013 no Brasil ou as manifestações do Chile em 2019.

Desse ponto de vista, embargos econômicos têm grande chance de ser um tiro no pé, a favorecer o ditador que deveriam prejudicar. A retaliação pode impedir o crescimento da economia e da classe média, dificultar o comércio e o acesso do país a ideias e produtos vindos de fora. Mantém a pobreza e, assim, a força das ditaduras. Os Estados Unidos impõem sanções ao Irã desde 1979: não parece que está funcionando.

No começo do regime, o revolucionário-ditador precisa descobrir onde está o dinheiro do governo, montar uma coalizão de aliados e arranjar formas de remunerá-los pelo apoio. Por isso, ditaduras têm 50% de chances de caírem nos primeiros seis meses, mas só 10% depois de dez anos no poder. “Uma vez que os autocratas reformulam e selecionam seus apoiadores, a sobrevivência fica mais fácil”, diz o cientista político Bruce Bueno de Mesquita em “The Dictator’s Handbook”. Quanto mais tempo Maduro e Khamenei permanecem no poder, mais difícil se torna derrubá-los.

Leandro Narloch é jornalista e autor do 'Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil'.

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