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Cai, não cai

O ditador venezuelano Nicolás Maduro abafa mais uma tentativa de retirá-lo do poder e manda perseguir seus opositores até no Brasil
03.01.20

Desde que o líder da oposição da Venezuela, Juan Guaidó, foi proclamado presidente interino, há um ano, o ditador Nicolás Maduro tem aproveitado toda e qualquer ocasião para posar para fotos com militares, acompanhar manobras bélicas e elogiar a lealdade de suas forças armadas. Apesar disso, levantes de homens fardados contra a ditadura têm sido recorrentes. O mais recente ocorreu no dia 22 de dezembro.

Batizada de Operação Trilogia, o plano dos rebeldes era realizar sublevações em três pontos da Venezuela. Um deles seria próximo da fronteira com a Colômbia. Outro, em uma cidade costeira. Um terceiro, perto da fronteira com o Brasil.

Na noite do dia 22, dezesseis homens uniformizados e um grupo de indígenas pemones — que vivem em comunidades dispersas na Venezuela e no Brasil — invadiram o Batalhão de Infantaria de Selva Mariano Montilla, a 230 quilômetros de Roraima. Soldados leais a Maduro foram feitos reféns. Segundo o governo, os rebeldes levaram 130 fuzis e mísseis antiaéreos do destacamento.

ReproduçãoReproduçãoTenentes que invadiram Batalhão de Infantaria de Selva, perto de Roraima
Tropas leais ao ditador foram no encalço dos rebeldes, que penetraram em território brasileiro. Na perseguição, nove indígenas foram presos e parte das armas roubadas foi recuperada. Um militar venezuelano foi morto. Em duas comunidades indígenas no Brasil, os moradores avistaram dezenas de homens armados e relataram o episódio por rádio. Eles não sabiam dizer se o que viram eram os rebeldes ou os que estavam tentando capturá-los. O Exército brasileiro afirmou que não localizou militares armados do lado de cá da fronteira.

Os outros dois focos de rebelião que estavam incluídos no plano, contudo, não aderiram. “Em nenhum momento nos últimos doze meses aconteceu o tão esperado ‘efeito dominó’, com o descontentamento que existe no interior das Forças Armadas levando a diversos quartéis a se rebelarem, um após o outro”, diz o analista venezuelano Agustín Blanco Muñoz. No dia 30 de abril, quando Juan Guaidó apareceu dentro de uma base militar em Caracas e anunciou a Operação Liberdade, nenhum outro grupo obedeceu a sua convocação. “Essas coisas acabam tendo um efeito favorável ao governo, que mostra sua força ao derrotar os descontentes.”

Em grande parte, a explicação para o fracasso dos levantes está na eficiência do sistema de inteligência venezuelano, construído com ajuda cubana. Outro ponto a se considerar é que não existem apenas dois lados na crise. Entre grupos irregulares e entre as forças de segurança, há uma fragmentação enorme. Há regiões do país dominadas por paramilitares, por dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc, por membros do Exército de Liberação Nacional, por milícias chavistas e por militares ligados ao narcotráfico e à mineração ilegal.

“Mais do que entrar no jogo de poder nacional, eles estão interessados em perseguir seus próprios interesses. Essa diversidade torna muito mais complexa uma ação organizada contra Maduro”, diz o venezuelano Andrei Serbin Pont, diretor de um think tank baseado em Buenos Aires.

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