RuyGoiaba

Legalizem a rinha de políticos

06.12.19

Esta quarta-feira (4) foi um dia glorioso para o chamado debate político no Bananão. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado youtuber Mamãe Falei escapou por muito pouco de virar Mamãe Apanhei na tribuna. Outro deputado estadual, Heni Ozi Cukier, que tentou apartar a briga, contou ter sido mordido por um colega petista (torço para que Cukier esteja em dia com a vacina antirrábica — temo que ele corra sério risco de começar a gritar FOI GOLPE e LULA LIVRE, do nada, no meio do plenário da Alesp).

Enquanto isso, na CPI das Fake News na Câmara, Margaret Thatcher e Angela Merkel — digo, Carla Zambelli e Joice Hasselmann — se engajavam em uma estimulante discussão intelectual, digna da Casa presidida por Winston Churchill (Rodrigo Maia): Carla perguntava no WhatsApp se chamar Joice de Peppa Pig seria considerado quebra de decoro, Joice chamava Carla de burra e Carla chamava Joice de louca. Ainda houve tempo, na mesma sessão, para Carlos Jordy (dur, dur d’être bébé) afirmar que Alexandre Frota tem uma prótese peniana e Nereu Crispim acusar Bia Kicis de difamá-lo (“minha esposa é chamada de prostituta, eu sou chamado de corno todos os dias”).

Eu me senti um pouco como quem assiste àquele jogo de futebol chatíssimo cujo melhor momento é a pancadaria entre jogadores no final — as famosas “cenas lamentáveis”. E não é só no Legislativo que isso acontece. Embora o Judiciário não tenha (ainda) chegado ao nível Gigantes do Ringue da Alesp, todo mundo sabe que a audiência da TV Justiça bombou no dia em que Luís Roberto Barroso mandou aquele “me deixe de fora desse seu mau sentimento” para Gilmar Mendes. Claro: até transmissão ao vivo de tratamento de canal é mais divertida que o decano Celso de Mello fundamentando seu voto por cinco horas.

Vamos ser francos? Chega dessa afetação de “debate de ideias”. Ninguém quer saber de ideias no Brasil, até porque os políticos brasileiros em geral não as têm: é uma gente burra e jeca, eleita por uma legião de jecas e burros (eu, você, a torcida do Flamengo e a dos secadores do Flamengo). A gente quer é acreditar em boatos de WhatsApp (mas só aqueles que corroborem o que já pensamos) e se dar bem na vida — passando rasteira em aleijado, se preciso. E, sinceramente, para que se dar ao trabalho de debater quando é mais divertido bater?

A solução óbvia é legalizar a rinha de políticos: vamos parar de fingir que somos civilizados e adotar logo o modelo “Parlamento ucraniano”. Quero assistir a luta no gel, puxão de cabelo, unhada, mordida, mata-leão, dedo no olho e joelhada no saco. Quero poder apostar dinheiro no meu lutador favorito, ajudando a movimentar a economia do país; se organizar direitinho, dá até para fazer Olimpíada e Paraolimpíada da porradaria política — coisa bacana, inclusiva. E quero ver um magistrado gritando para outro “Vossa Excelência sente na minha benga e rode!” — sempre respeitando a liturgia, como pede Marco Aurélio Mello.

MMA legislativo e Supremo Tribunal da Farofa são tudo o que eu quero para o Brasil. Se não tem pão — e a carne está cara –, é favor caprichar no circo.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Não aguento mais escrever por aqui que, no Brasil, todo dia os humoristas enfrentam a concorrência desleal, predatória mesmo, de políticos e celebridades. Mas eis que, na semana que passou, me deparei com essa mistura de Pelé com Jimi Hendrix do humor involuntário que é o novo presidente da Funarte. No pensamento vivo de Dante Mantovani, o rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo; Elvis Presley é fruto de um experimento de engenharia social dos soviéticos, que também se infiltraram na CIA para distribuir LSD em Woodstock; e a Terra, que surpresa!, é plana.

Não há a MENOR condição de competir com isso. Deve ser o que Roberto Alvim, novo secretário de Cultura e responsável pela escolha de Mantovani, chamou em um discurso de “nova atmosfera” para os “valores ancestrais de elegância, beleza, transcendência e complexidade” — tudo isso consubstanciado em Jair Bolsonaro de camisa falsa do Palmeiras, calça de abrigo e chinela Rider.

ReproduçãoReproduçãoMantovani, que vai presidir a Funarte em vez de usar uma camisa de força

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