DiogoMainardina ilha do desespero

Um idiota de cabelo curto

29.11.19

Eu estava no barbeiro. Quando? Durante o julgamento de Lula, na quarta-feira. O STF de Dias Toffoli e de Gilmar Mendes havia sabotado o processo. Em primeiro lugar, prometendo anulá-lo com uma liminar matreira, que mudou a ordem dos depoimentos finais. Em segundo lugar, eliminando a possibilidade de mandar o chefe da ORCRIM de volta para a cadeia. Decidi cortar o cabelo.

Em vez de sucumbir às manobras do STF, porém, o TRF-4 praticou um ato verdadeiramente revolucionário: ele aplicou a lei. O julgamento de Lula, que havia sido esvaziado pelos ministros do Supremo, foi recheado com mais de trezentas páginas de conteúdo devastador. Dessa maneira, enquanto o barbeiro espalhava talco em minha nuca, lamentando-se das enchentes venezianas, o desembargador João Pedro Gebran Neto condenava Lula a dezessete anos de cadeia. Perdi a cena. Sou um idiota. Um idiota de cabelo curto.

A decisão do TRF-4, claro, é inatacável. Seu papel é condenar criminosos, e foi isso que ele fez. Se o STF quiser anular a pena de Lula, terá de atropelar não apenas a Lava Jato, como vinha fazendo com espantosa desenvoltura, mas também os magistrados de Porto Alegre, que usaram as nove horas de julgamento para desmontar todos os engodos da defesa do ex-presidiário. O STF de Dias Toffoli e de Gilmar Mendes não parece ter freios, mas a sociedade vai reagir a uma chicana ostensiva para salvar Lula – e vai reagir raivosamente. Ninguém sabe se os ministros do Supremo estão dispostos a enfrentar o Brasil inteiro.

Num momento de desalento, o TRF-4 conseguiu resgatar o respeito institucional, contestando um abuso que veio de cima. Isso é inédito. Isso é histórico. João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Carlos Eduardo Thompson Flores surpreenderam os idiotas de cabelo curto e os idiotas de cabelo comprido.

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