Reprodução/redes sociaisAs manifestações no Chile já deixaram mais de mil feridos e 23 mortos

Barril de pólvora

A turma do Foro de São Paulo tenta espalhar pela América Latina o clima de desordem e terror instalado no Chile
29.11.19

A América Latina é um barril de pólvora prestes a explodir. Desde que o Chile ficou prostrado diante de manifestações sem fim, governantes de diversos países colocaram-se de prontidão para apagar qualquer faísca dentro de suas fronteiras. Além da possibilidade de protestos surgirem do nada, políticos de oposição têm instigado o ódio ou tentado tirar proveito das ruas, na esperança de serem reconduzidos ao poder. Todos participam do Foro de São Paulo, o organismo que reúne grupos e movimentos de esquerda. Entre os que tentam acender o pavio estão o equatoriano Rafael Correa, o boliviano Evo Morales, o colombiano Gustavo Petro e, mais recentemente, Lula.

“Se a gente souber trabalhar direitinho, em 2022 a esquerda que o Bolsonaro tanto tem medo vai derrotar a ultradireita. A gente tem que seguir o exemplo do povo do Chile, do povo da Bolívia, e resistir”, disse o petista na semana passada. “Um pouco de radicalismo faz bem à alma”, emendou. Em entrevista ao jornal espanhol El Pais, ele comentou: “Certamente teremos manifestações no Brasil.”

Para os chilenos que há mais de quarenta dias vivem em meio à desordem, os eventos recentes não deveriam ser emulados por ninguém. Mais de mil pessoas ficaram feridas, 23 morreram e nenhuma das medidas anunciadas pelo presidente Sebastián Piñera ou pelo Congresso parecem capazes de conter os distúrbios e saques. “Entendo que Lula possa estar eufórico porque acabou de sair da prisão, mas um protesto como o do Chile pode facilmente se transformar em matança, em perdas de vidas humanas”, diz o sociólogo chileno Aldo Mascareño, do Centro de Estudos Públicos, em Santiago. “Qualquer político experiente precisa evitar o radicalismo porque as coisas podem sair do controle.”

Os políticos chilenos têm sido muito cautelosos em lidar com os protestos. Quando dizem que as demandas da população merecem ser ouvidas, também condenam a violência. Eles sabem que, em primeiro lugar, os manifestantes saíram para as ruas porque estão insatisfeitos com eles. O sucesso econômico do país também fez surgir expectativas na população que não foram atendidas. A insatisfação é difusa e devidamente manipulada. E todos foram chamuscados pela confusão nas ruas, que continua com os semáforos apagados e protestos diários.

Petro propôs organizar colombianos, equatorianos, bolivianos e chilenos
Nos demais países da região, políticos que tentaram tirar proveito das labaredas dos protestos acabaram sendo rechaçados. Na Colômbia, que teve uma greve geral na quinta-feira, 21, e desde então vem registrando protestos menores, quem acendeu o pavio foi Gustavo Petro. Ex-guerrilheiro e candidato derrotado nas eleições presidenciais do ano passado, ele postou diversas mensagens no Twitter. Malandramente, tentou vincular sua derrota eleitoral aos protestos. Deu orientações sobre como as decisões deveriam ser tomadas pelo comitê que convocou a greve e sugeriu uma organização conjunta com equatorianos, bolivianos e chilenos.

Petro foi escorraçado nas redes sociais e outros senadores pediram sua cabeça no Congresso. “Mesmo políticos de centro passaram a ficar totalmente contra Petro”, diz o cientista político colombiano Andrés Dávila, da Pontifícia Universidade Javeriana, em Bogotá. Enquanto o ex-guerrilheiro seguia ativo nas redes, as passeatas nas ruas perderam força. “A Colômbia é uma sociedade organizada e pacífica que não gosta muito de manifestações e, menos ainda, de ações violentas”, diz Dávila.

No Equador, o bolivariano Rafael Correa gravou um vídeo pedindo a renúncia do presidente Lenín Moreno durante as manifestações de outubro. “Com o final dos protestos, o movimento indígena ocupou o espaço da esquerda e assumiu a oposição ao governo”, diz o cientista social equatoriano Oswaldo Moreno, de Guayaquil. “A cada dia, surge uma nova sentença de prisão contra Rafael Correa. Além disso, as pessoas que poderiam executar suas ordens no Equador estão presas. Não há muito o que ele possa fazer”, explica. Foragido da Justiça de seu país, Correa vive hoje na Bélgica.

O boliviano Evo Morales, que segue como chefe de sindicalistas e narcotraficantes, perdeu influência. A presidente interina, Jeanine Añez, aprovou um projeto de lei no Congresso para convocar eleições, apesar de membros do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido de Morales, terem a maioria na Câmara e no Senado. Morales não poderá se candidatar. Jeanine também negociou com centrais sindicais e organizações sociais que estavam promovendo distúrbios. O cerco a La Paz, ordenado por Morales, já começou a arrefecer. Gasolina e botijões de gás já entram na cidade. Os alimentos ingressam aos poucos. Se Morales voltar ao país, poderá ser preso por incitação ao terrorismo, mas segue tentando insuflar as ruas.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisA greve dos petroleiros, que seria palco para Lula, foi um fiasco
Os brasileiros já provaram um pouco do radicalismo das redondezas. Na madrugada de 13 de novembro, um grupo ligado ao presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, entrou na embaixada da Venezuela em Brasília. Em poucas horas, integrantes do PT, PSOL, PCO, MST e MTST e diplomatas cubanos acorreram ao edifício para enxotar os aliados de Guaidó. Os venezuelanos a favor da democracia foram xingados e ameaçados. A confusão acabou por aí, mas o episódio ficou como uma demonstração da eficiência e organização dos grupos dispostos a atos violentos. Atualmente, integrantes do MST fazem a segurança da embaixada.

Não é certo que Lula conseguirá importar a confusão dos vizinhos em seu próprio benefício. A Federação Única dos Petroleiros, a FUP, cujos dirigentes faziam vigília no prédio da Polícia Federal em Curitiba onde o petista estava preso, marcaram uma greve para a segunda, 25. A paralisação deveria durar cinco dias. Caminhoneiros cogitaram se unir aos colegas e Lula preparou sua reestreia na cena sindical. Antes do início da greve, porém, o ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho, decidiu, em liminar, que a greve era ilegal e determinou que, em caso de desobediência, fosse paga uma multa de dois milhões de reais por dia. Mesmo assim, os petroleiros mantiveram a convocação. Doze sindicatos tiveram dinheiro bloqueado pelo ministro e a  greve foi um fiasco. Na quarta, 27, foi suspensa. Mas é bom ficar de olho em Lula e sua turma, sempre dentro dos marcos da democracia, claro. Eles não estão sozinhos na tentativa de explodir o barril de pólvora. A verdade é que a esquerda latino-americana não admite perder o poder, como acaba de ocorrer no Uruguai. O candidato de centro-direita foi confirmado como o novo presidente do país, depois de quinze anos de predomínio esquerdista. Não se exclui a possibilidade de os uruguaios terem entrado também no barril.

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