RuyGoiaba

O pior do Brasil continua a ser o brasileiro

22.06.18

A bipolaridade do torcedor fanático de futebol –- do céu ao inferno sem escalas — é fenômeno conhecido, mas se torna especialmente irritante numa Copa. Porque, no Brasil, ela contagia também os palpiteiros da imprensa esportiva, que ganham crachá, microfone e remuneração por, em tese, saber mais que o Zé do boteco (spoiler: não sabem).

Como já escreveu Tostão, fomos do oba-oba à depressão: do “agora temos técnico, o esquema do Tite é bom, somos favoritos” ao “meu Deus, empate com a Suíça, que desastre” –como se o 7 a 1 não tivesse acontecido, em termos de história do futebol, anteontem.

Hoje mesmo, posso apostar, será igualzinho: se fizer gols contra a Costa Rica, Neymar será louvado como gênio e melhor do mundo (e todos vão esquecer que, bom, é a Costa Rica). Se não fizer, continuará sendo execrado como garoto mimado que cai em campo a cada dez minutos e leva dois cabeleireiros à Copa para cuidar daquele penteado ridículo. Não adianta, como fez Diogo Mainardi outro dia, lembrar que é ele que está pagando pelo Pomba’s Coiffeur – diferente da Dilma, que ia tosar a juba no Celso Kamura com o nosso dinheiro.

Termos tido mágicos como Pelé e Garrincha acostumou muito mal os torcedores brasileiros, que passaram a ver mágica como obrigação – é exceção absoluta– e se frustram quando ela não acontece.

Pior: não é só no futebol. O gosto dos brasileiros por “soluções mágicas” — com o mínimo de sacrifício e o máximo de resultado — contamina a eleição. Ora, direis, todo mundo quer sacrifício mínimo e resultado máximo, inclusive eu. Também quero acordar com a Monica Bellucci do meu lado todo dia: you can’t always get what you want.

Política, meus dois ou três leitores, tem de ser um troço tedioso e, idealmente, o mais irrelevante possível para nossa vida cotidiana. Sem “gente carismática” que promete baixar os juros e a gasolina na marra ou acha que resolver os problemas da segurança é questão de ser macho o suficiente. Ou assegura que, uma vez “acabando com a corrupção”, sobra dinheiro (sim, amigo, a corrupção tem custos altos, mas você não faz ideia de quão mais embaixo é esse buraco).

O Brasil, porém, parece preferir aprendizes de feiticeiro na política — o que é receita perfeita para o 7 a 1 pós-eleitoral, como se viu em 2014. O lema da bandeira tem mesmo de ser SETE A UM FOI POUCO.

André Mourão / MoWA PressAndré Mourão / MoWA PressNeymar em sua posição favorita no Brasil x Suíça (André Mourão/MoWA Press)

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A GOIABICE DA SEMANA

Muito já se escreveu sobre os idiotas que foram à Copa fazer a mocinha russa gritar “b*ceta rosa” junto com eles. Faltou, porém, reconhecer nesse e em outros casos que circularam pelas redes uma das maiores tradições brasileiras: a exportação de gente babaca.

O brasileirinho sabe que venceu na vida quando ganha dinheiro suficiente — não raro por meios escusos — para sair do país e envergonhar seus conterrâneos. Passou da hora de garantirmos superávit ETERNO para nossa balança comercial oficializando a babaquice na nossa pauta de exportações. Desconfio que só não acontece porque os políticos são, eles mesmos, grandes produtores.

 

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