DiogoMainardina ilha do desespero

O deputado A

25.10.19

A frase do ano:

“Não me interessa se o deputado A responde a 20 estupros, 80 homicídios ou seja lá o que for”.

O autor da frase é Rodrigo Bacellar, do Solidariedade, relator da manobra por meio da qual os legisladores do Rio de Janeiro decidiram soltar cinco deputados estaduais presos pela Lava Jato.

É o melhor resumo de 2019: o deputado A pode cometer as piores monstruosidades, mas ninguém tem o direito de mandá-lo para a cadeia.

O STF, claro, foi ainda mais longe. Além de blindar o deputado A, contorceu a lei a ponto de blindar igualmente estupradores e homicidas, com ou sem mandato. A Crusoé cravou o momento exato em que a reviravolta ocorreu: 16 de julho. Naquele dia, Dias Toffoli travou o inquérito de Flávio Bolsonaro e, com uma canetada marota, conseguiu domesticar o presidente da República. Uma semana depois, de fato, o chefe do Supremo exibiu publicamente sua besta enjaulada, anunciando que, sem ele, Jair Bolsonaro teria sido cassado.

Os golpes contra a Lava Jato sucederam-se desde então. E ainda falta o maior de todos: o julgamento para anular as penas de Lula, que deve causar um tumulto danado. Os ministros do STF sabem disso, tanto que instauraram um inquérito inconstitucional para criminalizar o esperneio digital (e, de quebra, censurar as reportagens do nosso site).

É um fato: a fúria nas redes sociais sempre transborda para as ruas. Está ocorrendo no resto da América Latina, e vai ocorrer também no Brasil — agora ou daqui a algum tempo. A única certeza é que o annus horribilis da Lava Jato, sintetizado na frase do deputado estadual do Rio de Janeiro, vai encontrar uma resposta inconformada da sociedade. E ninguém é capaz de prever o resultado desse duelo.

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