DiogoMainardina ilha do desespero

Vai faltar comida

20.09.19

Jair Bolsonaro está perdendo as redes sociais. É a primeira vez que isso ocorre. Ele ainda é capaz de impulsionar qualquer pauta, porque domina o Facebook e o Twitter. No universo malthusiano da internet, porém, ele cresce aritmeticamente enquanto seus opositores crescem geometricamente. Vai faltar comida para o bolsonarismo.

Duas semanas atrás, Carlos Bolsonaro licenciou-se do cargo para o qual foi eleito no Rio de Janeiro e grudou no pai. Ele deve ter sido chamado para comandar aqueles que Felipe Moura Brasil apelidou de blogueiros de crachá: os militantes semianalfabetos que foram instalados nos gabinetes dos bolsonaristas. O movimento vai dar errado. Por um motivo: a propaganda nas redes sociais só cola quando a mensagem é minimamente verdadeira.

Sim, o Congresso Nacional armou uma CPI das Fake News e o STF armou um inquérito das Fake News. Mas a internet sabe separar as verdades das mentiras, sobretudo aquelas contadas pelo Congresso Nacional e pelo STF. Isso vale também para Jair Bolsonaro. Ele não perdeu apoiadores por causa do golden shower ou pelas ofensas rasteiras à mulher de Emmanuel Macron. Ele perdeu apoiadores porque seus milicianos digitais passaram a mentir descaradamente sobre a CPI da Lava Toga, ou sobre o filé mignon americano de Eduardo Bolsonaro, ou sobre o acordão com Dias Toffoli, ou sobre os atritos com Sergio Moro. Os milicianos digitais tentaram acobertar os fatos, soterrando-os sob uma avalanche de xingamentos e imposturas, mas o eleitorado de Jair Bolsonaro não é idiota – e não quer ser tratado como tal.

O derretimento bolsonarista não deve ser medido apenas pelo número de cliques ou de seguidores. Ele tem um efeito muito mais devastador: a perda do discurso. Os traques de Jair Bolsonaro contra o sistema ainda despertam editoriais escandalizados na imprensa, mas ninguém mais tem medo dele, porque seus interesses pessoais se sobrepuseram à retórica aloprada. Os blogueiros de crachá podem espalhar a propaganda bolsonarista nas redes sociais, mas sempre haverá um YouTuber sem crachá para desmascará-los. É assim que funciona, tanto na internet quanto fora dela: os fatos costumam prevalecer. E isso vai confirmar-se mais uma vez.

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