ReproduçãoThiago Eliezer, o Chiclete: entorno repleto de transações vultosas e classificadas como suspeitas

A prisão do quinto elemento

A PF prende Chiclete, o parceiro brasiliense do hacker do Telegram cuja identidade foi revelada por Crusoé, e avança na tentativa de desnudar a trama por trás das invasões de telefones de autoridades
20.09.19

Dois meses depois das primeiras prisões de envolvidos no maior roubo de conversas privadas da história do país, a Polícia Federal bateu na manhã desta quinta-feira, 19, na porta de outros dois suspeitos de participar do esquema, em mais um desdobramento da investigação para apurar se o hacker responsável pelo ataque foi pago para expor conversas de procuradores da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro, agora ministro da Justiça. Um dos presos na segunda fase da Operação Spoofing é um personagem cuja identidade foi revelada por Crusoé em sua edição 67.

Thiago Eliezer Santos, o Chiclete, um programador de computadores com endereço em Brasília, é uma espécie de mentor de Walter Delgatti Netto, o Vermelho, que disse aos policiais ser o autor dos ataques às contas de Telegram de autoridades. Ele é o elo da quadrilha na capital do país – o que, desde o começo, tem levado os investigadores a suspeitar da existência de camadas mais altas no esquema e da participação de gente graúda interessada em minar a Lava Jato.

As suspeitas ganharam força a partir da descoberta de que Vermelho e Chiclete andaram metidos em transações nebulosas, como operações de câmbio. Foi das mãos do programador que o hacker de Araraquara recebeu uma Land Rover durante uma viagem a Brasília. À polícia, ele disse que comprou o carro de Chiclete, cuja evolução patrimonial recente vinha chamando a atenção de pessoas próximas, como mostrou Crusoé.

Os investigadores apostam que o brasiliense pode estar um degrau acima de Vermelho na escala dos responsáveis pela invasão. Delgatti não parece ter habilidades suficientes em informática a ponto de desenvolver a estratégia que resultou na invasão e os consequentes vazamentos em série do material roubado.

Além de Chiclete, foi preso um estudante universitário de Ribeirão Preto. Luiz Henrique Molição, de 19 anos, teria conhecido Delgatti no curso de direito. Ambos foram presos temporariamente. Ficarão detidos pelo prazo de cinco dias, que podem ser prorrogados se os investigadores e o juiz do caso, Ricardo Leite, entenderem necessário. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços de São Paulo, Brasília e Sertãozinho, no interior paulista.

Agora, a Polícia Federal vai poder avançar sobre pontos que Vermelho, sempre falante, evitou detalhar em seus depoimentos. Como mostrou Crusoé, nas três vezes em que esteve à frente do delegado responsável pela Operação Spoofing, Luís Flávio Zampronha, o hacker falou pouco sobre sua relação com o programador de Brasília. Para a PF, Chiclete é a pessoa por trás do codinome Crash, com quem Vermelho costumava conversar frequentemente na internet. Filho de um militar da reserva com passagem pela área de informática do Ministério da Defesa, o programador teria vasta experiência na identificação de falhas de sistemas.

Molição, o estudante de 19 anos que apareceu pela primeira vez como suspeito de envolvimento com o grupo, negou envolvimento com o roubo das mensagens. Ativo nas redes sociais, o jovem é autor de várias postagens ligadas à temática LGBT, algumas com críticas ao governo e ao presidente Jair Bolsonaro. Nos depoimentos dos presos e no material apreendido com eles, os policiais esperam obter mais pistas que possam mostrar os reais interesses por trás da interceptação das mensagens.

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