FelipeMoura Brasil

Os articuladores da impunidade

13.09.19

Uma assessora de gabinete do PSL na Assembleia Legislativa de São Paulo acusou O Antagonista de publicar fake news sobre a articulação de Flávio Bolsonaro pela retirada de assinaturas do terceiro pedido de criação da CPI da Lava Toga, no Senado Federal.

Para um blog com publicações de outra assessora de gabinete do PSL, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o senador declarou, porém, que a comissão “toca fogo no país”, que “haverá um conflito épico” entre os poderes Legislativo e Judiciário “num momento que tudo que a gente não precisa é uma guerra institucional”, que “precisa gerar emprego, recuperar a economia”, que “seria muito ruim uma CPI como essa” e que, “para deixar bem claro, é isso que eu falo para todos os senadores que vêm pedir minha opinião e perguntar por que é que eu não assinei” o requerimento.

Questionado se telefonou para eles, o filho do presidente limitou-se a dizer:

“Eu converso no telefone com quem pede minha opinião.”

Entendi.

Flávio Bolsonaro só faz, digamos, uma articulação “passiva”.

O senador questionou “qual o compromisso que uma CPI dessa tem com o futuro do Brasil” e “a quem interessa uma instabilidade política nesse momento”, mas convém imaginá-lo quietinho com sua opinião no canto dele (e no Youtube), sem tentar persuadir colega algum, a menos que eles tomem a iniciativa de pedir que ele opine.

Questionado por O Antagonista sobre pedidos de Flávio para que senadores retirassem assinaturas, o deputado Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, havia dito:

“Quando ele pede, está respaldado em cima do partido, com certeza.”

Bivar ainda justificou a posição partidária: “O que a gente quer é a governabilidade. Não adianta você ir contra os outros Poderes. O PSL não tem esse sentimento.”

Em nome da governabilidade, o governo Lula recorreu ao mensalão e ao petrolão. Em nome da governabilidade, a cúpula do partido de Jair Bolsonaro tenta blindar Dias Toffoli contra uma investigação que mira seu inquérito sem objeto definido, dentro do qual Alexandre de Moraes censurou a revista Crusoé por revelar o codinome de Toffoli na Odebrecht e suspendeu apurações da Receita Federal que poderiam atingir o presidente do STF e Gilmar Mendes. É o caso de perguntar:

– Se a CPI da Lava Toga investigar Toffoli, ele derrubará a própria decisão de suspender, entre outras, a investigação sobre Flávio, baseada na indicação pelo Coaf de movimentações bancárias atípicas no gabinete do então deputado estadual no Rio?

– Toffoli tem o governo Bolsonaro e o Poder Legislativo na mão?

Bivar ainda falou ao Estadão sobre a articulação contra a CPI: “Eu pedi para ele (Flávio) me ajudar nisso. Não sei qual foi a ação que ele teve.” O deputado não sabia, mas acabou emitindo nota do PSL em que negou a articulação do senador. A articulação “ativa”, quem sabe.

Os pedidos anteriores de criação da CPI da Lava Toga tinham escopo abrangente demais, que mirava até pedidos de vista de ministros do STF; e vieram num momento em que outras investigações avançavam sobre seus parentes e cônjuges.

Mas ministros do Supremo, em escalada autoritária, brecaram essas investigações e receberam a ajuda de Raquel Dodge, que arquivou os trechos da delação de Léo Pinheiro sobre Rodrigo Maia e o irmão de Toffoli, causando o pedido de demissão do grupo da Lava Jato na PGR por “incompatibilidade” com a complacência da procuradora-geral da República. Maia e Toffoli, curiosamente, haviam apoiado a recondução de Dodge ao cargo, que ela acabou perdendo para Augusto Aras, o crítico de “desvios”, “excessos” e “personalismos” da Lava Jato, indicado pelo pai de Flávio.

Se o Senado não reagir agora, seja com a CPI da Lava Toga, dessa vez mais objetiva, seja com o avanço do pedido de impeachment do presidente do STF, terá sido complacente também. Outros senadores do PSL insistem: Major Olímpio disse que “não adianta pressão, não” e continuou coletando assinaturas para a CPI, como a de Elmano Férrer, enquanto a Juíza Selma reclamou da “pressão partidária”, afirmou “que não irá retirar” a dela e, por coincidência, teve sua cassação rapidamente pedida por Dodge.

A esta revista, o ministro Jorge Oliveira havia dito que o acordo de Bolsonaro e Toffoli “é um acordo pelo qual a gente tem que superar questões importantes, mas menores, em prol de temas maiores para o país”, como salvá-lo da crise econômica – propósito, segundo ele, compartilhado por Bolsonaro, Toffoli, Dodge, Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (que já se disse “envergonhado” de discutir CPI e impeachment de ministro “enquanto os brasileiros estão pensando em empregos e comida” – como se a falta de empregos e comida não se devesse, também, à corrupção; e a Lava Jato não tivesse recuperado mais de 13 bilhões de reais roubados).

Quais são os temas “menores”, porém, Jorge Oliveira não respondeu. A investigação de suspeitos e a punição de corruptos só são “menores” para suspeitos, corruptos, aliados cínicos, militantes de gabinete e inocentes úteis, sempre dispostos a pegar emprestados do PT expedientes, narrativas e alegações diversionistas.

Onde a impunidade prevalecer, toda crise será, no mínimo, cíclica.

Felipe Moura Brasil é diretor de Jornalismo da Jovem Pan.

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