RuyGoiaba

O Dia da Boa Notícia

13.09.19

Pensei em começar este texto perguntando “onde você estava quando soube dos atentados de 11 de setembro de 2001?” (sim, se há uma coisa de que ninguém pode me acusar é originalidade. Aliás, “originalidade” é frescura: é coisa de quem concorre no Carnaval naquela categoria “alegorias e adereços”. Mas divago — melhor fechar o parêntese). Como vocês nem eram nascidos, deixemos a efeméride para depois. A pergunta é: onde vocês estavam quando aconteceu o apocalipse zumbi em Belo Horizonte?

Ah, vocês não ficaram sabendo, seus colonizados? Coisas gravíssimas acontecem no Brasil todos os dias, debaixo dos seus narizes, e vocês nem tchuns? Pois leiam esta chamada que o jornal mineiro O Tempo colocou nas redes sociais no dia 9 deste mês: “Mesmo após morte, moradores de BH são flagrados andando de patinete sem equipamentos de segurança”. O Bananão está numa lama tal que até os mortos circulam de patinete – sem capacete! — em uma das maiores cidades do país e ninguém está nem aí.

A ambiguidade na hora de redigir um título ou uma manchete é, desde sempre, uma das maiores fontes de humor involuntário no jornalismo. Todo mundo que trabalhou em redação conhece histórias semelhantes à do clássico (embora talvez apócrifo) cartaz de salão de barbeiro que anunciava “corto cabelo e pinto”, em que a ordem dos fatores altera MUITO o produto.

Faz alguns anos, houve um “manifesto contra a nudez de Pedro Cardoso”, que eu subscreveria se fosse exatamente nesses termos — mas era, ai de nós, um manifesto do ator contra a nudez. E, há mais tempo ainda, um jornal publicou o enunciado “Ministério Público apura contas fora do país de Maluf”. Nesse caso, tratava-se de jornal impresso, com título em uma coluna, e o redator não conseguiu fazer caber “contas de Maluf fora do país”. O resultado foi a fundação da MALUFOLÂNDIA, esse estranho lugar em que todo mundo fala pelo nariz e tem obsessão por Minhocão e a Rota na rua.

Mas o melhor exemplo de humor involuntário (e negro) que conheço foi proporcionado não por um jornalista, e sim por esse gênio da publicidade que é Nizan Guanaes. No início dos anos 2000, o publicitário era dono do iG e sentia falta de “boas notícias” — coisa 100% avessa ao espírito do jornalismo, essa profissão que existe exclusivamente para fazer as pessoas se sentirem mal — em seu site. Um belo dia, Nizan decidiu que o iG faria um Dia da Boa Notícia: só notícias positivas, edificantes, para levantar o astral e deixar o leitor felizão da vida, como se vivesse em um mundo decente.

E qual a data escolhida para implantar o Dia da Boa Notícia? Essa mesma que você pensou: 11 de setembro de 2001. O site bombou, mas não no sentido que Nizan imaginava. Ele merecia que a Al Qaeda lhe mandasse os parabéns.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Decidi decretar, mais uma vez, empate técnico entre duas goiabices. A primeira é de Eduardo Bolsonaro, colaborador frequente deste espaço, que defendeu o tuíte do irmão Carlos sobre a “lentidão” das vias democráticas com a citação “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. Segundo nosso futuro embaixador em Uóxinton, a frase é de WILSON CHURCH, desconhecido a ponto de não ter nem sequer verbete na Wikipedia. Talvez seja o Uílson da Igreja, parceirão lá de Rio das Pedras.

A outra é o seguinte tuíte de Zeca Dirceu, campeão da semana na categoria “what the fuck”: “A Apple lança o iPhone 11, enquanto isto Bolsonaro segue sem implantar 1 ação sequer para gerar empregos. Ouvi que iPhone terá 3 câmeras, não sei bem qual serventia terá. Pior é termos um presidente sem cérebro”. Não sei o que o filho do Dirça fumou, mas tem cara de ser da lata.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisZeca e seu iPhone com um Bolsonaro oculto atrás, o que é muito importante

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO