RuyGoiaba

50 anos de ‘Homem na Lua’, o filme de Kubrick

19.07.19

Neste fim de semana, completam-se 50 anos desde que Stanley Kubrick, num estúdio de Hollywood, filmou atores vestidos de astronautas num tanque de areia. As imagens foram distribuídas pelos EUA para o mundo todo como se fossem “homens pisando na Lua” — mentira deslavada e facilmente desmascarável, até pelas supostas imagens da Terra feitas pelos supostos astronautas que mostram um planeta redondo, não plano como deveria ser.

Também faz 50 anos que mentes privilegiadas descobriram: Paul McCartney morrera em novembro de 1966 e havia sido substituído por um sósia. Os sinais estavam por toda parte – por exemplo, a capa do Abbey Road, com os Beatles atravessando a rua, era obviamente uma procissão funeral, com o defunto descalço (Paul) carregado pelos outros três. Admito: o sósia que encontraram era tão talentoso que compôs Hey Jude, Get Back e Let It Be e faz shows pelo mundo há cinco décadas. Não adianta, senhores. A mim vocês não enganam.

E quem são esses “vocês”? Podem ser a maçonaria, os illuminati, os reptilianos ou a Grande Conspiração Sionista Internacional, que também atende pelo nome de “George Soros”. Não importa. A mim não enganam. São eles que estão por trás da CIA comandando a Lava Jato por meio do chip implantado na nuca de Sergio Moro, do Brasil vendendo a Copa de 1998 (“se as pessoas soubessem, ficariam enojadas!”), do 11 de Setembro planejado pela Casa Branca e até da suposta morte de Bussunda. Ou vocês não sabiam que quem morreu na Copa de 2006 foi Ronaldo Fenômeno e quem jogou no Corinthians depois foi o humorista?

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Ah, o conforto de cobertor quentinho das teorias da conspiração. Elas são, alguém já disse, uma maneira de ordenar o caos – transformar a realidade, sujeita ao imponderável e a mil e um acasos e imprevistos, numa coisa que pode ser planejada (e executada com sucesso) até os mínimos detalhes. Também oferecem a quem acredita nelas a chave para a verdadeira verdade e, imagino, aquele gostinho de se sentir superior a todo mundo que não vê “o que está por trás”. Em geral o que está por trás não é nada, what you see is what you get, o mundo é esta porcaria mesmo – mas não para o teórico da conspiração, que leva a vida como o detetive protagonista de um thriller eterno.

Confesso aqui minha inveja de uma mulher com quem conversei em 2011 – ela ligou para a editoria internacional do jornal em que eu trabalhava, e eu tive a péssima ideia de atender o telefone. Barack Obama, então presidente dos EUA, chegaria ao Brasil dias depois — pelo menos era nisso que eu acreditava. A mulher, no entanto, me assegurou que a Casa Branca estava mandando não o presidente, mas um clone, e ela tinha certeza absoluta disso porque conhecia o VERDADEIRO Obama. Tudo isso num tom de bronca, na linha “vocês aí, da imprensa, são incompetentes demais e não estão fazendo direito seu trabalho” (o que aliás é verdade, mas não exatamente por esse motivo).

Aposto que, se eu trabalhasse na seção de cultura, a mulher me desancaria por noticiar mais um show de “Paul McCartney” no país; fosse a de ciência, lamentaria que continuássemos acreditando nessa história de “homem na Lua”. Seja como for, cortei a conversa da amiga íntima do Obama e desliguei o telefone na primeira oportunidade. Posso ter perdido o furo do século, mas paciência. Talvez um dia George Soros confesse que é o responsável pelo clone do Obama, pela bala que matou Kennedy e pelo chip na nuca do Moro.

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A GOIABICE DA SEMANA

O problema de escrever uma coluna semanal de humor é que, quando acontece uma grande goiabice logo depois de a Crusoé sair, você está lascado – todo mundo já terá escrito TUDO sobre ela ao longo da semana. Foi assim com Eduardo Bolsonaro, o 03, deputado federal de inglês britânico, ex-fritador de hambúrguer numa lanchonete que não vende hambúrgueres e provável futuro embaixador do Brasil em Washington. Observo apenas que ser favorito para o cargo por ter nascido filho do atual presidente é uma ideia muito peculiar de meritocracia. Ronald McDonald não teve a mesma sorte.

Nick Laham/Allsport/Getty ImagesNick Laham/Allsport/Getty ImagesRonald McDonald, que aguarda indicação para a embaixada dos EUA em Brasília

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