RuyGoiaba

Leve-me ao seu líder, talquei?

05.07.19

Chamar o Brasil de “país do futuro” é coisa que os próprios brasileiros sacaneiam desde que Stefan Zweig lançou o livro com esse título — desde antes, talvez. Mas o Itamaraty está aí para esfregar essa grande verdade na cara do nosso ceticismo. No G1, Matheus Leitão conta que o ministério perguntou numa prova para alunos de um curso de formação o que eles fariam diante de “uma invasão de alienígenas oriundos de Beta Centauri” (vejam que não se trata de um alienzinho mequetrefe qualquer; é um alienígena com grife).

A pergunta completa, na verdade, é um greatest hits de desgraças ocorrendo ao mesmo tempo: “Um terremoto atingiu o posto [diplomático], ao mesmo tempo que um tsunami, a explosão de uma bomba atômica por um grupo terrorista e uma invasão de alienígenas (…). Qual deverá ser a prioridade do responsável pela gestão patrimonial?”, indaga o Itamaraty. Só faltou incluir queda de avião, surto de peste bubônica e festival de sertanejo universitário nas cercanias.

Infelizmente, a reportagem do G1 não traz o gabarito da pergunta — só o Itamaraty dizendo que a “resposta certa” é preocupar-se com as pessoas, não com os bens. Mas seria muito mais legal se fosse múltipla escolha. O que o “responsável pela gestão patrimonial” deve fazer numa situação dessas? a) morrer; b) sentar sobre os escombros, chorar, depois morrer; c) ordenar à faxineira que varra os caquinhos do terremoto, do tsunami e da bomba, colocando tudo nas lixeiras adequadas para a coleta seletiva (e em hipótese alguma morrer antes disso); d) pedir que o Centrão envie alguém para negociar com os alienígenas em troca de cargos para os ETs no governo (depois morrer).

Se o diplomata insistir em sobreviver, terá de saber se os aliens são de guerra ou de paz, enquanto espana do terno a poeira dos escombros. Talvez tenha de aplicar o Enem aos visitantes intergaláticos, para verificar se eles completaram primeiro e segundo graus e estão mesmo aptos para contatos imediatos do terceiro. Vai, principalmente, precisar saber o que fazer quando o chefe dos aliens disser “leve-me ao seu líder”. A quem os ETs serão levados? Trump? Putin? Lula-lá na cadeia? Olavo de Carvalho? Delegado Waldir? Joice Hasselmann? (Voto na Joice, que servirá chazinho e dirá no Twitter que os ETs são “fofos”.)

Só o que sei é que, se levados a Jair Bolsonaro, os aliens receberiam camisas do Palmeiras, provavelmente falsificadas, e ouviriam piadas sobre o tamanho da pistola. Enfim, espero que um dia as “dinâmicas de grupo”, idiotice corporativa na qual o Itamaraty se inspirou para essa pergunta futurista, também façam esse exercício com terremoto, tsunami e bomba atômica. Só que de verdade.

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A GOIABICE DA SEMANA

Verdevaldo, “jornalista investigativo” que não sai do Twitter e grande vencedor do Prêmio Putz (copyright do meu colega Claudio Dantas), conseguiu nas suas mais recentes revelações bombásticas sobre as mensagens roubadas da Lava Jato errar dois nomes de procuradores, citar como se fosse da operação gente que não fazia parte dela e publicar mensagem com data de outubro de 2019 – um vazamento do futuro. Fora o esquema de divulgar a conta-gotas, na melhor tradição do programa de João Kléber (“daqui a pouco tem uma bomba! Não saia daí!”). Entre um curso de jornalismo ministrado por Verdevaldo e um curso de babysitting com o casal Nardoni, o segundo seria claramente menos nocivo.

Reprodução/RedeTVReprodução/RedeTVJoão Kléber, que ainda não ganhou seu Prêmio Putz pelo “Teste de Fidelidade”
 

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