RuyGoiaba

Troque seu presidente por um gerador de lero-lero

28.06.19

Antes de quase se candidatar à Presidência – se isso tivesse acontecido em 1989, anteciparíamos em 30 anos a troca do globalismo pelo SBTismo –, Silvio Santos exibia um quadro chamado Domingo no Parque, com a hoje clássica brincadeira do foguete. A criança entrava no tal foguete com fones de ouvido, o apresentador perguntava se ela aceitava trocar X por Y e, sem ouvir a pergunta, ela respondia “sim” ou “não” quando a luz se acendesse.

Toda a graça da brincadeira, claro, eram as respostas absurdas: Silvio perguntando algo do tipo “você aceita trocar uma Lamborghini zero quilômetro por uma caneta Bic com a tampa mastigada?” e a criança gritando SIIIIM em resposta. Por algum motivo, consigo perfeitamente imaginar Jair Bolsonaro lá dentro da cabine respondendo SIIIIM à pergunta “você aceita trocar a Amazônia por uma caixa com meia dúzia de alfajores?” (Lula, por sua vez, parece combinar mais com quadros do tipo “quem quer dinheiro?”.)

Na verdade, a democracia ideal deveria permitir que a gente trocasse o próprio presidente por qualquer coisa, incluindo a caixa com alfajores, a caneta Bic com a tampa mastigada e um bonecão do posto – geralmente, muito mais presidencial que a grande maioria dos ocupantes do cargo. Não consigo pensar em nenhuma troca que não seja vantajosa nesse caso. Na verdade, TODOS os presidentes eleitos no Brasil desde a redemocratização poderiam ser substituídos por algum gerador automático de discursos na internet.

Se eu tivesse noções mínimas de programação, já teria colocado mãos à obra. Você joga numa caixa de busca qualquer palavra em português – sei lá, “banana”, por exemplo – e clica no botão do seu presidente preferido. O gerador do FHC, além de mandar um “o momento requer ponderação”, dirá que graças ao Plano Real os brasileiros hoje consomem mais frango, iogurte e bananas. O do Lula dirá que está convencido de que nunca antes na história deste país houve tanta banana, e as elites não toleram as bananas entrando na universidade e viajando de avião junto com o filho do pobre. O da Dilma vai saudar a banana e falar do cachorro oculto atrás, o que é muito importante.

E o gerador de falas do Bolsonaro, claro, dirá que, no tocante a essa cuestão daí das bananas, tem que liberar o porte de arma para as bananeiras, talquei? Talvez fazer alguma piada com o tamanho da banana e mandar um abraço hétero para os produtores. Agora me digam: sinceramente, precisa de presidente pessoa física para isso? Melhor trocar logo pelo gerador de lero-lero e deixar lá o Rodrigo Maia e o Paulo Guedes trocando sopapos. “Presidencialismo de coalizão”, aqui, já não tem a coalizão. Mal vão perceber se tirarem também o presidencialismo e, enfim, deixarem o anarquismo de Estado correr solto.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Não há como evitar: o assunto da seção hoje tem que ser o “Aerococa”, o caso do militar que foi pego levando 39 kg da chamada caspa do capeta – 16 kg além do limite para bagagens – em um avião da FAB. O problema é que TODAS as piadas possíveis já foram feitas desde ontem pela máquina de memes da internet: Bolsonarcos, fuzileiros nasais, aviões de carreira etc.

Eu, francamente, não consigo me sair com nada melhor que FAB Assunção. É muito frustrante tentar fazer humor sabendo que a realidade brasileira já se encarrega disso todo dia, mas o roteirista do Bananão está de parabéns.

Sargento Johnson/Agência Força AéreaSargento Johnson/Agência Força AéreaChamar o avião da FAB de ‘FAB Assunção’ é maldade. Com o avião, claro

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