RuyGoiaba

Cenas da vida acadêmica

21.06.19

O jovem aos 17 anos ou é um Rimbaud ou é uma besta, dizia Nelson Rodrigues (sempre este homem fatal). Eu obviamente era uma besta, costume simpático que preservo até hoje, e fiz uma daquelas coisas cretinas que adolescentes dessa idade fazem — só que, em vez de engravidar a namoradinha (que eu não tinha), perder os sentidos depois de um porre ou bater o carro do meu pai, prestei vestibular para jornalismo.

Entrei numa universidade pública e logo percebi que, naquele templo do saber, havia uma acirrada disputa pelo título de pior professor DO MUNDO. Ignoro até hoje qual era o prêmio, mas o páreo era duríssimo. Havia a mestra da lenga-lenga interminável, com o bônus da babinha no canto da boca (imagem que, mesmo depois de décadas, jamais consegui desver). O que obrigava os alunos a comprar os seus livros e hoje é biógrafo de guru de autoajuda. O que nos informou que 1984 era do Orson Welles e mudou o sexo do escritor britânico Evelyn Waugh. O boa-gente que dava literalmente a nota que pedíssemos — se algum estudante pedisse “11”, passaria com 11/10.

E havia aquele clássico da picaretagem: o professor que, no começo do semestre, dividia os alunos em grupos e indicava livros para que cada grupo fizesse um “seminário”. Na prática, os alunos davam as aulas, e o sujeito que era pago para dá-las só assistia — muito a contragosto, o que não fazia a menor questão de disfarçar (certa vez, advertiu a classe nestes termos: “o debate está só entre um grupo de alunos e eu, que não estou interessado”).

Nós, os alunos, só tínhamos a zoeira como arma de legítima defesa. Minha turma pegou a lista de presença das aulas desse professor do parágrafo anterior e incluiu um “Romualdo Arppi Filho Júnior” — ou “Sammy Davis Jr. Filho”, não lembro ao certo. Em toda aula, alguém assinava a lista pelo Romualdo. Quando foram divulgadas as notas no final do semestre, nós descobrimos que o aluno fake tinha nota zero, mas 100% de presença. Ou seja: o estudante-fantasma teria tido presença E NOTA se a gente não tivesse se esquecido de incluir o nome dele no trabalho final de algum dos grupos.

E o contribuinte pagou por isso — por Romualdo e por essa miríade de professores picaretas — não só durante meus quatro anos na universidade pública como antes e depois desse período; até hoje, na verdade. “Contribuinte”, como se sabe, inclui operários, faxineiras e gente de famílias muitíssimo mais pobres que a minha e as de meus colegas. Um ou outro abnegado consegue entrar por cotas, mas a grande maioria, que não passa nem na porta da universidade, subsidia a palhaçadinha mesmo assim.

Antes que alguém levante a mão: sim, conheço trabalhos incríveis de universidades públicas, não só na área de ensino como nas de pesquisa e extensão — não raro, realizados com muitos sacrifícios, poucos recursos e sem nada da “balbúrdia” do ministro Gene Kelly. Também por isso acredito que os filhos da elite brasileira poderiam pagar para ajudar a mantê-los. Mas não deve acontecer. O “progressismo” que insiste em defender transferência de renda de pobre para rico continuará sendo receita certa para o Brasil ganhar mais um monte de Prêmios Nobel, todos imaginários.

***

A GOIABICE DA SEMANA

É difícil não dar o prêmio desta semana para Paulo Rocha. Na longa audiência de Sergio Moro na CCJ do Senado, o petista do Pará disse que conhecia o “método” de Moro desde que o então juiz atuava como auxiliar de Rosa Weber no STF, na época do mensalão — processo em que Rocha foi absolvido. “Havia um conluio para condená-lo e o senhor foi absolvido?”, perguntou o ministro da Justiça, para as risadas de alguns dos presentes e dos telespectadores.

Se depender dessa oposição aí, Jair Bolsonaro terá de continuar sendo oposição ao próprio governo e cumprindo a cota semanal de tiros no pé.

Agência SenadoRocha, absolvido pelo ‘conluio para condenar’ mais incompetente do mundo

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  1. Qdo a Receita Federal invadiu o avião da Seleção Brasileira campeã do mundo para multar os atletas pelo excesso de compras, Paulo Francis disse que os caras deveriam ter inveja daqueles que traziam a grande alegria do futebol para os brasileiros. Tão estranho quanto os que querem taxar a riqueza dos que já pagaram impostos por ela. Ora, vão trabalhar e poupar. Goiaba curto demais seus textos.

  2. Tivemos excelentes mestres na Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz - Esalq. no periodo 72/76. A maioria altamente comprometidos. A maioria dos alunos também eram comprometidos e não tem peso na consciência por ter estudado em escola pública.

  3. tive sorte , então ! cursei Medicina na UnB de 1970 a 1976. o REITOR era Almirante da Marinha-José Carlos de Azevedo, homem inteligentissimo !!! Não se fazia greves e os professores não faltavam !!!-Foi um primoroso curso do qual ME ORGULHO POIS eu e meus colegas , apos a Residencia Medica , exercemos a profissão em hospitais publicos , depois SUS. Alguns colegas IMBECIS queriam fazer politicagem mas 95% queria ESTUDAR.Na area de HUMANAS os "babacas" eram doutrinados pelos professores mas

  4. George Orwell pra essa tua professora foi um grande cineasta da década de 40 então haha. Nos meus anos de universidade pública, sempre era incluída na lista de chamada o famoso "Beto Jamaica", ele também reprovou com zero mas teve mais presença que qualquer outro aluno.

  5. Entendo o sucesso de sua carreira, aluno dedicado, estudioso e mamador de recursos publicos para fazer de conta que estudava. Se existiam prifessores ruins, o mesmo pode ser afirmado sobre os alunos que ao invés de estudar passavam o tempo na baderna. Articulista, a sua mascara caiu. Aproveitou recursos de pobres pagadores de impostos, para fazer de conta que estudava.

    1. É curioso como o brasileiro médio não entende ironia.

    2. Se algum dia a Crusoé promover um concurso de críticas imbecís e despropositadas, sugiro está da Maria como hors-concours...

    3. Você entendeu mesmo ou você é que não será entendida? Meus dois neurônios simbilaram.

  6. Paulo Rocha (PT do Pará) exemplo de analfabetismo funcional. A fazendona dos Barbalho pelo menos produz castanha, não está de todo perdida.

    1. tenho vergonha de ser brasileiro e, principalmente,PARAENSE.

  7. Na Faculdade de Letras da UFRJ, na década de 60 também havia muitos professores que se utilizavam do método dos seminários. Poucos aplicavam provas individuais! Corrigir dezenas de provas e trabalhos individuais, dar aulas, enfim, tudo isso era muito trabalhoso! Fora os "ilustres", que tinham mais horas de voo para conferências e congressos do que de aulas efetivamente dadas! A prática é velha! Fui vítima dela desde o ginásio no Colégio Pedro II !

  8. Me perdoe Rui,as Universidades continuam aquém das expectativas, continuamos a bancar pós,mestrados,doutorados,até fora do País,pra um contingente de profissionais que fazem Turismo e quando regressam,continuam a fazê-lo,não se importando a repassar seus "conhecimentos" aos seus financiadores.Pobre Brasil,de varonil,não tem mais nada e isso se perpetuará a continuarmos em berço esplêndido, assistindo essa barbárie.

    1. No meu tempo, faculdade era só pra quem tinha dinheiro. Mestrado? Doutorado? Raríssimo. Hoje, ao contrário, o que vejo são "estudantes profissionais", que se formam na graduação, depois recebem pra fazer mestrado, depois recebem pra fazer doutorado. Mas, na prática, não vejo espelhada essa "qualificação" dos profissionais.

  9. Goyaba, voçê precisa ver os professores de hoje: além de tudo o que você citou, os alunos ainda tem que aguentar o ' Lula livre'. É pr'a acabar!

    1. lula livre não!!!! Nesse caso, eu abandonaria a Universidade e faria um curso técnico. Teria melhor proveito.

  10. Com relação aos professores, sinceramente não entendo por que a media, congresso etc, defende tanto os professores. O trabalho deles não é exaustivo, por que o contribuinte tem que pagar privilégios para eles? Além de que, faltam muito ao trabalho, além das férias, acima do que os trabalhadores comuns. De acordo com a Secretaria de Educação de SP, todos os dias faltam 30% dos professores nas salas de aulas, com “atestados médicos”

  11. Muito bom artigo. Estes tipos estão espalhados em todas as áreas de formação profissional , bem como, na formação geral de base e nas humanidades. A Nota ainda é um método questionável de aferição da apropriação de saberes e competências, mas é o que temos aplicado por séculos. Além do mais , isto agrava o problema do ensino, pois temos muito mais professores profissionais nas escolas, do que profissionais- professores. Estes últimos ensinam o que sabem fazer . Os outros o que não sabem .

  12. É, Zé... Hoje em dia nem de diploma de jornalismo precisa...vejo carteiras sendo distribuídas para quem mal tem barbas no rosto, mal sabem o português...é só ter pai. Zão. E Q.I. (Quem Indique).

  13. eu tenho muito gosto de ler seus escritos, onde eu entendo tudo e rio muito; e se ter escolhido ser "uma besta'" aos seus 17 anos rendeu as Letras do País esse gênio da escrita, imaginem se tivesse escolhido ser um "Rimbaud"!' parabéns Crusoé, muito obrigada Escritor!!!!

  14. Piorou muito de lá pra cá. Os pedagogos esquerdistas conseguiram dominar a gestão das universidades e introduziram o "coitadismo freireano" no nível superior. O próximo passo é a progressão continuada. http://hpc.ct.utfpr.edu.br/calouro_informativo.html

  15. Paulo Rocha precisa entender o que silogismo. Mas é difícil para essa turma aprender o significado de qualquer conceito mais elaborado.

  16. Diz a lenda politica que O CONGRESSO é o RETRATO DA SOCIEDADE que o elegeu... (para pensar até a chegada das próximas eleições)

    1. Perfeita análise!!! Na última eleição modificamos bastante essa situação. Não podemos Parar com esse movimento!!!

  17. Muuto bem escolhida a Goiabada da Semana, eu levei horas para entender o sentido de tanta imbecilidade. Pior, ele tentou um efeito de trivela, mas deu mais uma chulapa com o grotescco “Quem com fero ferre...ferro ferre, bem, quem com fere fere... Depois do brilho humorístico, Paulo Rocha Mocó Sonrizal Colesteraol é o meu Petista favorito!

    1. Pior que não é deputado,é senador que teve o desplante de visitar Maduro.

  18. O pior é que nas faculdades privadas brasileiras existem os mesmos tipos de professores, inclusive os picaretas que dividem as turmas em grupos e a estes grupos atribuem a missão de mimistrar as aulas

  19. Hipótese 1. De tanta merda, contradições e o grande tiro que deu no proprio pé, uma ala PTralha está considerando que ele é na verdade um infiltrado Bolsanarista, Hipótese 2. É burro mesmo, segue a trupe!!

    1. Ops... falha (da minha) redação... Êle = Exmo. Sr. Senador: PAULO ROCHA

  20. Excelente texto. Há uma regra básica de administração que dita que ‘o que não se pode medir, não se pode gerenciar’. O resultado das escolas (pelo desempenho dos alunos) deveria ser mensurado e exposto ao conhecimento público. Instituições insuficientes seriam obrigadas a melhorar ou fechar.

  21. Excelente, brilhante artigo. Deve ter-lhe custado muita ‘lavagem cerebral’ pensar em meio a tudo descrito. Identifiquei-me bastante, com a ressalva de ter cursado ‘direito’, ao que deve se adicionar grandes doses da ’Escola de Frankfurt’ e de ‘nonsense francês’ ao ‘1984’.

  22. Impossível não se identificar na sala de aula com o colunista. O ensino superior de humanas no Brasil é uma piada de mau gosto. Há picaretas para todos os gostos e todos os credos. E os alunos também não se salvam. Todos querem fingir e se dar bem. Todos, no fim, se dão mal.

  23. Descrição precisa sobre os professores. Engraçadíssima e ao mesmo tempo triste. Mas o professor que quiser dar aulas e cobrar dos alunos será antiquado, não adaptado às novas tecnologias, etc. Ao final, é o seguinte: professor quer fazer de conta que ensina e os alunos que estudam.

  24. Ainda deixo opinião: que não se pague o ensino, mas o asseio e o material de consumo. Da mesma forma que se paga a roupa que se vai para a Universidade. Os alunos poderiam exigir boas condições físicas enquanto a sociedade exige boa formação técnica nas Universidades. Porque é interesse da sociedade bons médicos, engenheiros, biólogos, jornalistas, assistentes sociais...

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