RuyGoiaba

Lula está lendo feito um condenado

08.06.18

A mais divertida polêmica inútil das redes sociais na semana passada começou com um tuíte da assessoria de Lula: o hóspede da carceragem da PF em Curitiba, ora vejam, tinha lido 21 livros em 57 dias, “leituras que compreendem dos romances à política”.

Não ficou claro se as leituras do político preso com tempo livre de sobra incluíam o “Finnegans Wake”, “Minutos de Sabedoria”, o “Almanacão de Férias da Turma da Mônica” ou a coleção encadernada da “Playboy” – obras culturalmente mais enriquecedoras que o livro do picareta citado pelos assessores do Grande Líder no tuíte em questão.

Seja como for, uma moça que não gosta do Lula fez as contas e concluiu que isso dá umas 55 páginas por dia, um nível de leitura “irrealista” para quem é “semianalfabeto”. Recebeu uma enxurrada de respostas — na maioria, de gente jogando confete em si mesma e dizendo que 55 páginas são fichinha (“eu leio 550, passo o dia nas redes sociais, malho e tenho uma vida sexual invejável!”).

(O saudoso Chorão do Charlie Brown Jr., que dizia “não faço música pra meia dúzia de filhadaputa que lê livro”, estava enganado: na internet, os “filhadaputa que lê livro” são muitos mais. Quase uns dez, talvez.)

Inexplicavelmente, em um mundo cada vez mais ágrafo como o nosso, em que o Facebook (com seus textões) é coisa de velho e o Instagram (só figuras) é cool, persiste a noção de que “ler livros” confere status às pessoas – talvez derivada daquela ideia de fundo iluminista de que ler faz os seres humanos melhores. Não faz. Basta ter frequentado alguma universidade brasileira para constatar que é possível ler centenas, milhares de livros e continuar sendo um perfeito idiota.

Por isso, não acho bom Lula continuar a ser esse leitor voraz, a não ser que isso conte pontos para a redução da pena. O Grande Líder correrá sério risco de perder aquela aura de “bom selvagem” (que ele manteve, mesmo depois de todos esses anos como lobista de empreiteiras) e adotar um estilo “professor da Fefeleche”, talvez de écharpe e fumando Gitanes. Ou seja, tornar-se algo parecido com Vladimir Safatle — um daqueles destinos piores que a morte.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Esse santo homem que é Leonardo Boff escreveu no Twitter faz pouco tempo (cito em versão corrigida, sem os erros de português e digitação): “Se o preço da gasolina é estabelecido cada dia pelas variações do dólar internacional, então os salários deveriam ser também corrigidos diariamente pelo dólar. Isso seria o justo. Mas o povo não conta (…)”.

Não sei se o melhor é dar a entender que há “dólar nacional”, a total ignorância sobre como se calculam preços e salários ou o desconhecimento do que a dolarização da economia provocou na Argentina, aqui ao lado. Mas a Igreja Católica estava certíssima quando condenou o Bofe àquele silêncio obsequioso. Deve ser porque ele não passa incólume pelo mata-burro.

(Fernando Frazão/Agência Brasil)(Fernando Frazão/Agência Brasil)Faça o obséquio de permanecer em silêncio, Boff (Fernando Frazão/Ag.Brasil)
 

 

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