Nunca devemos tanto a tão poucos

07.06.19

Às 6:30 da manhã de 6 de junho de 1944, a primeira leva de tropas americanas, britânicas e canadenses pousou nas praias da Normandia, na França, naquela que seria a maior invasão marítima da história. Ao amanhecer daquele dia, 18 mil paraquedistas britânicos e americanos já estavam em solo francês. Um adicional de 13 mil aeronaves foi mobilizado para fornecer cobertura aérea e apoio para a invasão — e, ao fim do dia, 155 mil soldados das forças aliadas estavam nas praias normandas para lutar contra as tropas de Hitler.

Passados 75 anos do Dia D, tudo parece claro e óbvio. Bastava invadir a Europa pelas praias da Normandia com um suporte aéreo maciço, pegar as tropas alemãs desprevenidas e começar a retomar a França e depois o resto do continente. A maior invasão por mar da história deu certo, o mundo começou a ser libertado do monstro nazista no dia mais famoso da Segunda Guerra, mas de claro e óbvio não havia nada, apenas o heroísmo que anda tão em falta nos dias de hoje.

Além de lembrarmos o histórico Dia D, nesta semana também lembramos os quinze anos da morte de Ronald Reagan, o 40º presidente americano que lutou incansavelmente contra regimes totalitários no mundo nos anos 80 e que faleceu em 5 de junho de 2004. Em 1984, na celebração de 40 anos do desembarque das tropas americanas nas praias da Normandia, Reagan fez um discurso na presença de alguns dos “Rangers” americanos que sobreviveram àquela batalha: “Vocês eram jovens naquele dia em que tomaram esses penhascos; alguns de vocês eram apenas garotos com os maiores prazeres da vida diante de vocês e mesmo assim arriscaram tudo aqui. Por quê? Por que vocês fizeram isso? (…) Nós olhamos para vocês e de algum jeito sabemos a resposta. Fé e crença. Lealdade e amor”.

Ainda há veteranos da Segunda Guerra Mundial entre nós e, se você tiver o privilégio de conhecer algum, não deixe de dizer a ele o quanto somos gratos e eternamente devedores do que fizeram. Como muito bem disse Churchill, “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. A democracia liberal que herdamos não caiu do céu, ela foi construída com “sangue, suor e lágrimas”, somos apenas beneficiários de um presente que nada fizemos para merecer, mas que temos, a cada dia, a oportunidade de reverenciar, homenagear e agradecer. Reagan, que se firmou como líder mundial no combate ao comunismo, foi categórico quando afirmou: “A liberdade nunca está a mais de uma geração da extinção.”

O fim da Segunda Guerra não encerrou os problemas do mundo. A ela se seguiu a Guerra Fria e o risco real de uma hecatombe nuclear, como na Crise dos Mísseis de 1962, naqueles fatídicos “13 dias que abalaram o mundo” (não perca o filme homônimo com Kevin Costner), mas o risco de perdermos a Europa e depois o mundo livre para o nazifascismo foi incomparável com o que houve antes ou depois na história. Sem o desembarque na Normandia em 6 de junho de 1944, é difícil imaginar que a vitória viesse meses depois ou algum dia.

Em 1940, ainda no começo da guerra e sem a presença das tropas americanas, depois que belgas, britânicos e franceses foram cercados por tropas alemãs durante a longa batalha de seis semanas no norte da França, 198 mil soldados britânicos e 140 mil soldados franceses e belgas foram salvos na operação conhecida como Milagre de Dunquerque”. A evacuação maciça das tropas aliadas das praias e do porto de Dunquerque, que envolveu centenas de embarcações navais e civis e serviu como um ponto de virada para o esforço de guerra dos Aliados, é maravilhosamente retratada no excelente filme Dunkirk, de 2017, dirigido e produzido pelo britânico Christopher Nolan.

Sou fã confessa de Christopher Nolan e é de Dunkirk que lembro neste momento tão crítico no Brasil. O trecho que resume a ideia central do filme é quando um piloto de avião abatido, resgatado boiando no mar e traumatizado, grita com o homem comum que segue com seu pequeno barco para tentar resgatar soldados a pedido de Churchill na França ocupada: “Você tem que voltar! Seu lugar é em casa!”, grita o piloto abatido.

Para o piloto, vivido pelo sempre enigmático e brilhante ator irlandês Cillian Murphy, o cidadão comum deve deixar a guerra para os profissionais, que o mais prudente é ausentar-se, omitir-se, proteger-se em sua própria casa, enquanto o destino da nação está sendo decidido entre as forças do bem e do mal na Segunda Guerra. A resposta de Mr. Dawson, interpretado com uma dignidade comovente por Mark Rylance, não poderia ser mais definitiva: “Se não ajudarmos, não haverá mais casa, filho.”

A grande geração que salvou o mundo do eixo nazifascista há sete décadas era composta de heróis na essência do termo, em pensamento e ação, em força e capacidade de sacrificar tudo por todos. Lembrando G. K. Chesterton, eram jovens que não foram movidos pelo ódio do que estava na frente mas por amor ao que deixavam para trás.

Há seis meses sob novo comando, o Brasil, país das forças aliadas na Segunda Guerra, ainda sofre com as consequências de uma dura batalha travada contra o assalto petista sem precedentes às instituições brasileiras. Não apenas pelo volume de dinheiro envolvido e pela desfaçatez, mas também pela clara e evidente intenção de usar a força e o braço do estado para subjugar o país ao projeto de poder do partido. Não é difícil reavivar a memória de quem não se lembra o que foi o PT no poder entre 2003 e 2016, o que fizeram e que país entregaram. A pilhagem bilionária dos cofres públicos, verdadeiras fortunas “emprestadas” a ditaduras companheiras, o aparelhamento do estado por militantes cleptomaníacos, a total incapacidade de viabilizar no país um ambiente favorável ao investimento e à geração de empregos e riqueza de forma sustentável e não com feitiçarias econômicas, como empréstimos sem lastro que acabaram gerando crise, recessão e milhões de desempregados e inadimplentes. Além de um verdadeiro cenário de guerra, com 60 mil assassinatos por ano.

Enquanto a bolha de celebridades hedonistas se preocupa com a proteção de seus próprios vícios e perversões em festivais patéticos a favor de um corrupto, enquanto usam a educação para arrastar estudantes às ruas em marchas que defendem um presidiário que bombardeou o país — e é nessas horas que se vê a quem serve a destruição da educação brasileira e a ideologização dos currículos –, um batalhão de primeira linha com ministros como Sergio Moro e Tarcísio Freitas tenta colocar o país nas frentes vitoriosas das batalhas. Sem contar a tropa de Paulo Guedes, com Mansueto Almeida, Rogério Marinho, Campos Neto, Salim Mattar, entre outros integrantes de uma das melhores equipes que o Brasil  já viu. A cada dia fica mais óbvio que a mais devastadora ameaça vem de quem atinge esses soldados espalhando crises imaginárias como minas terrestres.

Nossas batalhas são incrivelmente menores e incomparáveis àquelas vividas por homens de extrema bravura há 75 anos. No entanto, é deles que podemos tirar o exemplo de patriotismo — palavra tão demonizada pela atual geração mimada, afetada e egocêntrica — que pode e deve servir como combustível durante tempos de sacrifício, resiliência e compromisso com o futuro. Já há enormes ganhos em campos importantes como a MP da Liberdade Econômica, a Lei Anticrime, a MP 871 que combate fraudes no INSS e que pode economizar 10 bilhões de reais por ano. Testemunhamos atualmente o começo de uma importante e independente conscientização política de um povo acostumado com o estado onipotente e paternal e que hoje pede austeridade fiscal e um governo mais enxuto. Temos a chance de avançar ainda mais com a reforma administrativa, tributária e principalmente com a reforma da Previdência que pode nos dar um fôlego significativo e não nos deixar morrer na praia.

O Brasil não pode vacilar, não podemos mais nos condicionarmos ao fracasso e cultivar crises, é o futuro das próximas gerações que está no fronte. Se você não encarar essa guerra e apenas voltar para casa, pode não haver mais casa esperando você.

Ana Paula Henkel é analista de política e esportes. Jogadora de vôlei profissional, disputou quatro Olimpíadas pelo Brasil. Estuda Ciência Política na Universidade da Califórnia.

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