DiogoMainardina ilha do desespero

O nariz de Olavo

10.05.19

“Olavo é dono do próprio nariz”, disse Jair Bolsonaro. Além de ser dono do próprio nariz, ele é dono também de dois ministérios e de dois filhos do presidente da República. A Apex, que Olavo de Carvalho disputava com o general Santos Cruz, foi perdida nesta semana. Mas ele ainda é dono da Secom e luta para afastá-la da órbita terraplanista daquele mesmo general Santos Cruz.

Olavo de Carvalho procurou-me quinze anos atrás, por meio de sua mulher. Trocamos meia dúzia de mensagens cordiais e, depois disso, resolvemos esquecer um do outro. Agora ele me chama de Diogo Maisnada, um apelido que, quinze anos atrás, era comum entre os petistas, e que atesta minha total desimportância. Eu, por outro lado, acompanho tudo o que ele diz, por dever profissional e por interesse antropológico. Depois de se alojar no governo, ele passou a empesteá-lo por dentro, como um parasita que mata seu hospedeiro. É um caso que tem de ser examinado com lupa.

Ainda mais fascinante do que Olavo de Carvalho é Jair Bolsonaro. Ele deve saber que o parasita olavista lhe faz mal. Em vez de expurgá-lo, porém, ele continua a alimentá-lo. A estratégia dos seguidores de Olavo de Carvalho, com seus ataques a outros membros do governo, só debilitou o presidente, tornando-o refém daqueles que ele pretendia evitar. O Congresso Nacional, assim como Olavo de Carvalho, agora é dono de dois ministérios. Rodrigo Maia ganhou o primeiro, e o segundo está sendo disputado pelo MDB de Romero Jucá.

Desde o fim do ano passado, estava claro para qualquer idiota – inclusive eu, que fiz um monte de colunas sobre o assunto – que Jair Bolsonaro teria de escolher entre a falange comandada por Olavo de Carvalho e os militares e tecnocratas que tentavam evitar a ruína do Brasil. A questão só se agravou de lá para cá. Se quiser salvar seu governo, Jair Bolsonaro terá de cuidar de seu próprio nariz, e esquecer Olavo de Carvalho, exatamente como eu fiz, quinze anos atrás. Garanto: ele não vai sentir falta nenhuma.

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