FelipeMoura Brasil

O ciclo do poder

10.05.19

Rodrigo Maia disse à Jovem Pan que o tucano João Doria “pode ser o candidato do DEM a presidente” da República em 2022.

Para Maia, o DEM tem hoje “um espaço melhor na política brasileira” que PSDB e MDB e, portanto, “as melhores condições para liderar esse processo pós-eleição municipal de incorporar outros partidos”.

Nisto, ele está certo. Seu partido, no momento, tem a presidência da Câmara e do Senado — além do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni — e, apesar de um ou outro investigado, não tem um réu do peso do atual deputado Aécio Neves ou do ex-presidente já encarcerado Michel Temer para chamar de seu.

A imagem da sigla – que, segundo Maia, “acabou crescendo em relação à eleição anterior porque exerceu um papel mais de centro-direita” — está menos manchada que as de PSDB e MDB, embora, para uma eleição presidencial, ainda falte ao DEM um candidato carismático que vocalize os sentimentos da população, ou seja: o avesso do tucano Geraldo Alckmin, apoiado pelo partido em 2018.

“A nossa candidatura do Geraldo, que seria um ótimo presidente, acabou representando esse esgotamento da agenda do ciclo dos últimos 30 anos. Claro que depois da facada (de Adélio Bispo de Oliveira em Jair Bolsonaro) foi mais rápido (o esgotamento).”

De acordo com Maia, porém, esse “centro/centro-direita” – que priorize “sempre a agenda econômica, de reforma, de geração de emprego, de melhoria da qualidade de serviços públicos, uma coisa assim mais objetiva do que entrar nesse debate de valores” — “vai continuar existindo”.

“A gente não pode imaginar que, na democracia, as pessoas tenham vitórias absolutas. Na democracia, o diálogo, ouvir a sociedade, construir uma maioria, o consenso, é o caminho correto. E acho que esses partidos vão acabar reorganizando isso. Porque nós fomos ao extremo pelo fim do ciclo. Se o ciclo de fato teve esse pico para uma posição mais à direita, naturalmente — depois de se conhecer isso — a sociedade vai procurar algo mais com equilíbrio, com diálogo, uma posição menos radicalizada do que foi a posição construída e liderada pelo presidente Bolsonaro.”

O Bolsonaro que a sociedade está conhecendo é o chefe de um governo ancorado na rigidez econômica de Paulo Guedes, detonado por parlamentares desinteressados em fortalecer o governo com o equilíbrio fiscal; na intransigência moral de Sergio Moro, detonado por parlamentares que temem ser alvo da Justiça; e no pragmatismo técnico dos militares, detonados por Carlos Bolsonaro e outros bolsonaristas na internet.

Enquanto esses aliados do presidente se digladiam nas redes, o Centrão já conseguiu não só desidratar a reforma da Previdência na CCJ, mas retirar o Coaf do Ministério da Justiça, limitar poderes da Receita Federal e ganhar duas pastas (Cidades e Integração), recriadas pela comissão mista da MP da reforma administrativa.

Os alertas estão dados.

Na Argentina, onde Mauricio Macri não conseguiu debelar a inflação, a esquerda voltou a ganhar força com a liderança de Cristina Kirchner nas pesquisas. Na França, onde a Frente Nacional se queimou com o radicalismo de Jean-Marie Le Pen, a sociedade procurou “algo mais com equilíbrio” no alegado centrismo de Emmanuel Macron.

Se Bolsonaro não deixar de lado seus Steve Bannons para focar na construção possível de indicadores positivos na economia (como tem Donald Trump, que celebrou a menor taxa de desemprego desde 1969 nos EUA) e no combate à corrupção e à criminalidade, que também demanda apoio e verba, o poder tende a sair da direita na direção contrária.

Seja na esquerda ou no Centro, entre militares ou mesmo liberais não conservadores, bastaria alguém com maior carisma que Alckmin e Rodrigo Maia.

Felipe Moura Brasil é diretor de Jornalismo da Jovem Pan.

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