RuyGoiaba

Relaxem, o Brasil não corre
o menor risco de dar certo

01.06.18

Roubei de um amigo a frase do título, que resume a única sensação possível depois da greve dos caminhoneiros (aliás, acabou?). Não há outra. Devolve o país para os índios e pede os espelhinhos de volta. Passa a motoniveladora em tudo e transforma em estacionamento para argentino ir à praia. Qualquer coisa, menos esse Brasil aí.

Neste país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza, o Datafolha informa que a maioria esmagadora (87%) é a favor da greve, mas não quer saber de pagar seus custos, seja pelo aumento de impostos, seja pelo corte de gasto público. O brasileiro, esse maravilhoso ser incapaz de operações aritméticas básicas, quer menos imposto e mais estado AO MESMO TEMPO. Talvez ache que se deixar duas ou mais cédulas juntinhas o dinheiro procria.

E os vídeos que circularam? Meu Deus! Ou eram cenas de pancadaria dignas dos velhos filmes de Bud Spencer e Terence Hill — sem a comédia — ou esquetes dos Trapalhões. Num deles, um caminhoneiro apresenta a militares sua “tropa” de colegas, batendo continência e tudo. Fiquei esperando a aparição de Vittorio Gassman fantasiado de Brancaleone da Norcia. Ou Didi Mocó e Sargento Pincel.

As únicas coisas que o país continuou produzindo durante a greve, com admirável profissionalismo, foram sacanagem – como na obra-prima de Moisés do Arrocha, “bota álcool aqui pro meu ponteiro subir”— e memes de internet. A equipe econômica já deve estar estudando um ICMS, Imposto sobre a Circulação de Memes e Sacanagem, para fechar as contas.

De positivo, houve também a renovação dos clichês das autoridades brasileiras: a “minoria de vândalos” daqueles protestos de 2013 hoje atende por “alguns radicais que não têm nada a ver com o movimento”.

Mas o fato é que um bando de tiozões do WhatsApp parou o país e o governo ofereceu tudo o que eles queriam, exceto Michel Temer em pessoa fazendo massagem tântrica nos caminhoneiros. Muita gente insatisfeita com-tudo-o-que-está-aí, com boas razões, aderiu sem perceber que vai pagar a conta. E Temer foi mais longe que aquele slogan desastrado: o Brasil voltou 30 anos em dois.

1989 vai ser um grande ano.

As tintas do Sargento Pincel não pertencem ao passado (Reprodução/Globo)
 

  A GOIABICE DA SEMANA

Hoje o prêmio vai para os manifestantes que fecharam uma rodovia em Cuiabá, em apoio à greve dos caminhoneiros, pedindo intervenção militar. Dispersados por militares à base de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, reagiram com gritos de “Exército filho da puta!” – é, amor não correspondido dói.

Intervenção, irmão caminhoneiro, é isso aí. Não é o Exército servindo café com biscoitinhos e batendo só em gente de que vocês não gostam.

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