DiogoMainardina ilha do desespero

A missa do padre Diogo

01.06.18

Crusoé é minha ilha.

Eu, jacobino, passo seis dias por semana em O Antagonista, agarrado à guilhotina, encharcado de sangue, comemorando a degola de Lula, Michel Temer e o resto do Ancien Régime. 

Às sextas-feiras, afasto-me momentaneamente da Place de la Concorde informática e naufrago nesta praia deserta.

O naufrágio de Robinson Crusoé ocorreu em 30 de setembro de 1659. Ele entalhou a data numa tábua e por 28 anos fez uma marca para cada dia.

O calendário improvisado tinha um propósito religioso: apesar de estar sozinho na Ilha do Desespero, Robinson Crusoé insistia em observar o Sabá – o dia de descanso semanal.

Quem está aqui me conhece. Eu gosto de sangue. Não me canso de ver sangue. Nunca vou me cansar.

Mas a prática de reservar um dia por semana para ignorar os acontecimentos terrenos e tratar de assuntos mais elevados – como, por exemplo, o papagaio de Robinson Crusoé – tem de ser preservada.

Sim, concordo: a missa do padre Diogo é muito mais aborrecida do que o espetáculo entusiasmante da guilhotina.

A Crusoé, porém, já é abundantemente ensanguentada. E umas gotas de sangue a mais não acrescentariam nada.

Tenha piedade de mim. E respeite o sétimo dia.

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