LeandroNarloch

Obrigado, Europa, por ter conquistado a América

05.04.19

Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, enviou dias atrás cartas ao rei da Espanha e ao papa Francisco. Solicitou aos dois que reconhecessem os crimes da conquista da América e pedissem perdão “aos povos nativos pelas violações ao que agora se conhece como direitos humanos”. Disse à imprensa que só depois desse pedido de desculpas será possível uma reconciliação entre mexicanos e europeus.

Que bobagem, Obrador. Ninguém precisa pedir desculpas: os americanos é que deveriam agradecer a Espanha, Portugal e Igreja pelo descobrimento e a conquista da América.

É verdade que os conquistadores não agiram como ursinhos carinhosos por aqui. Sim, houve matanças, houve crueldade. Mas é difícil achar um povo sobre a Terra que não guarde uma tenebrosa ficha corrida de genocídios e injustiças contra outros povos. Eu, o caro leitor, os índios, os negros e o presidente do México somos todos descendentes de gente que ora oprimiu, ora foi oprimida. Como diz o economista Thomas Sowell, “como uma quantidade praticamente ilimitada de pecados pode ser encontrada ao longo da história de qualquer segmento da raça humana, raramente faltarão episódios ruins para explicar a causa da miséria pela culpa”.

Os próprios incas e astecas, antes de as caravelas chegarem à América, abusavam de seus vizinhos tanto ou mais do que foram abusados pelos espanhóis. Os astecas, logo depois de dominar um povo, cobravam impostos em forma de animais, alimento, armas ou penas. Quem não podia pagar oferecia pessoas, que serviam a enormes rituais de sacrifício humano, uma obsessão da época. Há relatos de 4 mil sacrifícios humanos num único dia nas pirâmides de Tenochtitlán. Quando os espanhóis chegaram ali, espantaram-se com a quantidade de sangue seco nas escadarias das pirâmides. E mandaram lavá-las.

No Peru, a conquista de povos vizinhos servia principalmente para conquistar mulheres. É difícil achar, em toda a história do mundo, haréns tão numerosos quanto os dos imperadores incas. Eles tinham milhares de mulheres à disposição e centenas de filhos. Guardas circulavam pelos vilarejos conquistados, recolhendo garotas de 8 a 10 anos para levá-las à “aclla huasi”, a “Casa das Mulheres Escolhidas”. Ali, elas ficavam à disposição do imperador, dos nobres e governadores.

Para muitos nativos americanos, a chegada dos espanhóis significou o fim de décadas de opressão. Eles se aliaram aos europeus e puderam enfim dar o troco aos dominadores incas ou astecas. Hoje, seus descendentes têm todo o direito de agradecer aos espanhóis pela ajuda nessa revolução.

Mas devemos agradecer à Europa não exatamente por ter apresentado uma cultura superior ou mais civilizada aos índios. O grande benefício da conquista foi romper com o isolamento dos povos americanos. A Europa não tem nenhuma barreira geográfica intransponível com o Oriente Médio, a China, a Índia e o norte da África. Esse contato possibilitou que desde a Antiguidade técnicas e ideias circulassem. A roda, o papel, a pólvora, o vidro, os animais domésticos, instrumentos de navegação, a matemática e os contratos financeiros – pouco a pouco, essas inovações se espalharam.

Já na América, isolados pelo Atlântico e pelo fim do gelo no estreito de Bering, os índios não puderam desfrutar desse intercâmbio. Os índios brasileiros não sabiam o que era a roda; os astecas até conheciam a roda, mas não a utilizavam para o transporte (as estradas do México pré-colombiano eram na verdade calçadas para pedestres). Quando a caravela de Cristóvão Colombo chegou ao Caribe, em 1492, rompeu milênios de isolamento que condenava os índios ao atraso. Foi um dos grandes momentos da história da humanidade – que merece comemorações, e não pedidos de desculpas.

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