RuyGoiaba

200 milhões de tudólogos

15.03.19

Tenho saudade da época em que se dizia que o Brasil tinha 200 milhões de técnicos de futebol. Hoje, com a ajuda dos palanques que as redes sociais oferecem, o brasileiro não limita a sua expertise ao esporte, não, senhor. Qualquer acontecimento rumoroso desperta uma multidão de “tudólogos” – aquele pessoal que tem palpites e soluções infalíveis para absolutamente TUDO.

A terrível tragédia de Suzano trouxe consigo uma legião de psiquiatras e especialistas em comportamento humano, legislação criminal e porte de armas – muitas vezes, tudo na mesma pessoa, como naqueles antigos aparelhos de som 3 em 1. Antes, o desastre de Brumadinho já revelara ao país outra legião: a dos experts em barragens de rejeitos de minério. E o longo esquete dos Trapalhões que tem sido a política brasileira produziu 200 milhões de “analistas políticos”.

Alguns palpiteiros até ganham o pão com o suor dos seus chutes: tenho um conhecido que não sabia quem era Davi Alcolumbre até, literalmente, a véspera da eleição do presidente do Senado. Apesar disso, ganhou de um jornal – é verdade que o sobrenome ilustre ajudou – uma coluna de política, na qual se dedica à difícil arte de pensar o já pensado e escrever obviedades com o tom solene de quem vê como missão informar aos leitores que a Terra é redonda.

A grande maioria dos tudólogos brasileiros não tem essa sorte. Mas tem uma importante característica em comum: eles só aparecem depois das tragédias. Os 200 milhões de engenheiros de obra feita têm opiniões contundentes sobre por que a ponte caiu, mas nenhum deles estava lá para evitar que a ponte caísse. E, se você mora no Brasil, nem mesmo os profissionais pagos para evitar fazem isso – como os sujeitos que atestaram a “segurança” da barragem da Vale.

No fundo, não há saída senão se conformar com um mundo em que todo idiota com acesso à internet ganha de brinde o direito a seu megafone particular – é inevitável que aconteçam coisas como o tuiteiro que manda o papa ler a Bíblia. Enquanto os palpiteiros não se aventurarem em áreas como a neurocirurgia, talvez ainda tenhamos salvação. Mas um dia eles chegam lá, vocês vão ver.

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A GOIABICE DA SEMANA

Marcia Tiburi deu a um site da velha esgotosfera petista uma comovente entrevista em que narra como seu medo da “violência fascista” a obrigou a deixar o país – sem em nenhum momento citar o marido, juiz que obteve do TJ do Rio dois anos de licença remunerada em Paris. Embora os franceses historicamente não sejam muito bons nesse negócio de resistir ao fascismo, eu também adoraria uma resistência com passeios pelo Jardim de Luxemburgo e degustação do amargo caviar do autoexílio. Quem mandou nascer sem pedigree, né?

Tomaz Silva/Agência BrasilTomaz Silva/Agência BrasilMarcia Tiburi viverá plenamente o charme do exílio (Tomaz Silva/Agência Brasil)

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