Marcos Oliveira/Agência Senado

O inferno de Mecias

Novos elementos reforçam as suspeitas sobre Mecias de Jesus, do PRB de Roraima, na investigação sobre a fraude na eleição para a presidência do Senado
01.03.19

A imagem acima mostra o instante em que o senador Mecias de Jesus, do PRB, passa em frente à mesa do plenário, a caminho da urna de votação, na polêmica eleição para a presidência da casa, no último dia 2 de fevereiro. Ele parece carregar duas cédulas, uma sobre a outra. A resolução da fotografia, porém, não é suficiente para a certeza. Mas Crusoé apurou que imagens de vídeo captadas nesse mesmo instante — e já em poder da equipe que analisa o caso — reforçam ainda mais as desconfianças que pairam sobre o parlamentar recém-eleito por Roraima. Se ele já era o suspeito número um da fraude na votação, em que apareceu um voto a mais na urna, agora é ainda mais.

Em texto publicado no Diário no último dia 20, Crusoé revelou que Mecias, o homem que derrotou Romero Jucá na eleição de outubro, já era tratado como o provável responsável pelo escândalo. Àquela altura, uma outra fotografia, feita em outro momento, era o principal elemento a colocá-lo nessa condição. A imagem do instante em que o senador depositou o voto na urna mostra um papel de superfície lisa, sem as características do envelope onde a cédula deveria ter sido acondicionada – não aparece nem a aba, de um lado, nem o brasão da República do outro. A cena, capturada por um fotógrafo oficial do Senado, indica que Mecias teria depositado na urna uma cédula encaixada a outra, sem envelope.
Agora, as imagens em vídeo coletadas pela equipe técnica do Senado para ajudar na conclusão do trabalho da Corregedoria da casa, que abriu uma investigação sobre o caso, dão força à suspeita. Ao passar diante da mesa diretora, Mecias parece realmente carregar duas cédulas. Há duas dobras sobrepostas a indicar que, em vez de ter na mão um envelope e uma cédula, ele na verdade tinha dois exemplares do pedaço de papel cartão onde estavam listados os nomes dos candidatos. “Não há dúvida”, diz um técnico que teve acesso ao vídeo e ouviu essa mesma avaliação de funcionários encarregados de dirimir as dúvidas.

Marcos Oliveira/Agência SenadoO detalhe dos papéis na mão do senador: o frame do vídeo, já em poder da Corregedoria do Senado, é mais elucidativo que a foto
O material deve ser remetido nos próximos dias à Polícia Federal para ser periciado, mas o próprio Senado já fez um trabalho minucioso, reunindo em um arquivo todas as imagens coletadas, seja em fotos, seja em vídeo, do momento do voto de cada um dos senadores. Além das gravações em alta resolução feitas pela TV Senado por câmeras do circuito de segurança, foram requisitadas imagens das emissoras de televisão que cobriam a sessão. Pode-se dizer que já foi feita uma espécie de perícia prévia. No arquivo, os frames dos vídeos são paralisados e cada imagem de interesse da investigação é ampliada de modo a permitir que se veja em detalhes o que os senadores carregavam na mão nos instantes anteriores ao voto.

Com Mecias de Jesus já na condição de suspeito principal, os técnicos se detiveram na tarefa de estudar as cenas do instante em que ele recebe, das mãos de quem estava comandando o processo, os papéis que levaria para a cabine de votação e, depois, para a urna. Dessa análise sobressai uma situação no mínimo estranha: o senador Fernando Bezerra Coelho parece ter passado às mãos de Mecias papéis que ainda não haviam recebido a assinatura do presidente da sessão, José Maranhão. É outro elemento a reforçar a suspeita inicial, já que as cédulas da fraude – as duas que estavam dentro da urna sem envelope, uma dentro da outra, e que faziam o número de votos extrapolar o número de votantes – tinham apenas a assinatura de Bezerra. A dúvida é se ele passou essas cédulas a Mecias por engano ou de caso pensado. Crusoé procurou Bezerra para tratar do assunto, mas ele não respondeu às tentativas de contato.

A partir do resultado da investigação, o corregedor, senador Roberto Rocha, deverá levar o caso ao Conselho de Ética, responsável por definir a punição aos envolvidos. Não há prazo para que isso ocorra. Apesar de internamente a apuração estar avançada, não se nota na casa muita vontade de punir exemplarmente o autor da fraude ou quem mais possa ter colaborado para que ela acontecesse. “Não dá para fazer nenhum juízo ainda sobre o caso. Não posso condenar ninguém por antecipação”, diz o senador Jayme Campos, do DEM de Mato Grosso, favorito para presidir o Conselho de Ética. À boca miúda, há quem defenda uma punição mais branda para o autor da fraude. O veredicto deverá passar por uma discussão prévia sobre a intenção por trás do ato. A discussão deverá girar em torno de uma questão: houve dolo ou não? O regimento do Senado prevê quatro tipos de punição para senadores: advertência, censura, perda temporária do mandato e cassação.

Pedro França/Agência SenadoTelmário Mota diz que não sabe quem foi, mas já faz defesa intransigente do futuro acusado: “O erro foi involuntário”
Curiosamente, embora não admitam em público que há um suspeito, já há senador fazendo a defesa prévia do futuro acusado. É o caso de Telmário Mota, do PROS de Roraima, o mesmo estado que elegeu Mecias. Embora diga que ainda não sabe quem foi o autor da fraude, ele já tem o discurso na ponta da língua para absolvê-lo. “O erro foi involuntário e a pena tem que ser mínima. E incluir também o presidente e o secretário da mesa na ocasião. Tem que ter coerência. Você imagina, vai punir um cara que recebeu duas cédulas assinadas? Não pode ter dois pesos e duas medidas”, afirmou a Crusoé. Antecipando-se à discussão que se desenha, ele diz que não será possível atestar a existência de dolo porque o “crime” não foi consumado, uma vez que a eleição foi anulada e deu-se um novo escrutínio, vencido por Davi Alcolumbre. “A eleição foi nula. Então o dolo, se houve, não foi consumado”, elaborou.

A postura de Telmário pode ser explicada pela política local de Roraima, onde ele e o principal suspeito da fraude são adversários de Romero Jucá, derrotado por Mecias de Jesus nas eleições de outubro. O enfraquecimento de Mecias significaria o fortalecimento de Jucá, que pretende voltar ao Senado daqui a quatro anos em disputa provável contra Telmário por uma vaga apenas. É um jogo de médio prazo que precisa ser jogado com atenção e estratégia desde agora.

O franzino Mecias é um dos políticos mais poderosos do estado que o elegeu. Maranhense de nascimento, ele migrou com a família para Roraima e começou na vida pública como vereador da pequena São João da Baliza, na divisa com o Amazonas. Depois, conseguiu se eleger para seis mandatos consecutivos de deputado estadual. Chegou a presidir a Assembleia Legislativa. Os governadores da vez sempre o buscaram, interessados no controle que ele tinha, como tem até hoje, do parlamento local. Quem o conhece diz que, a despeito da imagem que projeta, é um hábil estrategista. Costuma ter apadrinhados em cargos importantes da máquina estadual.

Na eleição para a presidência do Senado, Mecias era voto certo em Renan Calheiros, seguindo a vontade de seu partido, o PRB, que foi preterido na formação do governo de Jair Bolsonaro e buscou se aliar com os favoritos nas eleições para presidente da Câmara e do Senado. Procurado nesta semana, o senador não quis dar entrevistas. Ele falou apenas durante a posse como presidente da Comissão do Futuro, um colegiado interno do Senado que, na prática, serve para acomodar quem não ficou com outras comissões relevantes — mas que, ao contrário do Conselho de Ética, já está em funcionamento.

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  1. A PUNIÇÃO DOS CULPADOS TEM DE SER A CASSAÇÃO DE QUEM COLOCOU AS CÉDULAS NA URNA E DOS DOIS SENADORES QUE ESTAVAM RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO ELEITORAL. HOUVE DOLO SIM, É UMA INDECÊNCIA QUE NÃO PODE SER ACEITA NO SENADO FEDERAL. SERÁ QUE ESSES CARAS SABEM O QUE É DECÊNCIA?

  2. Eu sou Presbiteriano desde 1955, e já participei de milhares de eleições. Nesta eleição do Senado, há um elemento muito importante: O Presidente NÃO PODERIA ASSINAR UMA CÉDULA A MAIS. Fácil concluir que o MECIAS - e não MESSIAS - é culpado deverá receber uma dura pena: pedir desculpas por escrito.

    1. Concordo e assino embaixo... Não sei pra que existe senado no Brasil. Aliás, sei sim, só pra gastar o nosso dinheiro.

  3. Esse SENADOR MECIAS, e um otario , votou fraldado em Renan Calheiros, e RENAN CALHEIROS, e que esta divulfando seu voto duplo,,Para beneficiar seu grande amigo ROMERO Jucá , que perdeu a eleição para o MECIAS, tinha que perder o mandato esse MECIAS, pela burrice, pelo roubo, e por confiar no Renan Calheiros

    1. "votou fraldado" seria algo como votar vestido de fralda geriátrica?

    1. Concordo! Devia ser cassado. Aliás, não deveria ter Senado. O Brasil não precisa dessa casa. É mais uma inutilidade.

  4. Se isto não é deshonra, nada mais será!... Esta mão ‘leve’ não apenas colocou 2 votos na urna; ela deu um pesado tapa na cara do país!!! Segunda vez, em pouco tempo, que o Senado permite que um dos seus deshonre a nação, como fez pela mão do Renan ao mijar na Constituição, não cassando os direitos políticos da Dilma Janete.

  5. Interessa muito essa cassação para o ex-senador daquele estado. Se o Senador Mecias fez mesmo isso, caiu como um patinho em um golpe que na verdade, terá sido duplo.

  6. A imagem nesta foto, não deixa nada a desejar, já que além de mostrar os “2 envelopes”, com absoluta clareza, mostra com igual nitidez os dedos do cara, muito bem visíveis, focados com total perfeição, tão íntegros quanto não o é o esperto dono da ‘mão’ (..”leve” ela, né?).

  7. Fraudador como esse tem um único caminho: a cassação. Não se está falando em um menino de grupo escolar e sim de um senador da República. Quer dizer que o inocente recebeu duas cédulas e não percebeu? É conversa para boi dormir. Não deve haver condescendência se não a imagem do Senado ficará sempre arranhada por esse ignomínia. O Senado não pode ser destinado a aventureiros que, em vez de pensar no povo do seu Estado, já está pensando no seu futuro mesmo antes de começar a sua legislatura.

  8. Se ele não perder o mandato ninguém mais pode perder. Não há motivo que supere esse. Um senador que cometeu no senado um crime na frente de câmeras e do povo brasileiro que está assistindo já tinha que estar afastado do cargo enquanto investiga para depois nunca mais pisar no senado nem para pegar suas coisas. Envergonhou o Brasil inteiro.

  9. É melhor ficar com o Mecias. O canalha do Jucá é muito mais difícil de ser varrido. Lamentável. O que fizeram do nosso país?

  10. #ladraabreu também deveria ser indiciada na apuração caso fosse séria. Contudo, um Senado desmoralizado com figuras desprezíveis, acaba sempre em pizza. Patético!

  11. Bandidos..! É preciso uma intervenção militar no norte e nordeste para acabar com essa fonte inesgotável de malandros no governo....!!!

  12. Se a eleição foi nula, não houve o dolo. Sem noção uma figura dessa. Se a eleição foi anulada por causa do dolo... zero de lógica um comentário desse.

  13. Bem antes do fato, há que se considerar a cabeça oca do Becias- será que ele não pensou que o seu ato não levaria a NADA, pela simples apuração de 82 votos e não 81? Esperto que é, por que ele não arranjou mais uns 5 votos pro seu candidato?

    1. A ideia era melar a votação e partir para o voto secreto a favor de Renan. O próprio Flávio Bolsonaro mudou seu voto quando em aberto. Bezerra assinou dois votos sem a assinatura do Maranhão. Há uma dupla mancomunada nisso. Punição exemplar seria o caso, mas irá dar em nada. Isso é Brasil.

  14. Segundo Telmario Mota, não se pode "atestar a existência de dolo pq o crime não foi consumado". Então, por analogia, tentativas de assassinato não devem ser consideradas crime pq a morte do indivíduo não aconteceu... Esse é o argumento de um SENADOR para acobertar seu colega de parlamento...

    1. Andrea, existem Senadores (com S maiúsculo) e senadores (com s minúsculo). Quem acompanha a TV Senado assiste as pataquadas do Telmário. Divertidíssimas. Mas vergonhosas. .

  15. pode até ter mudado umas peças mais a falta de patriotismo contínua do jeito que sempre foi, o povo brasileiro infelizmente está perdido temos só que rezar.

    1. Rezar não adianta, até os pontífices deixaram o patriotismo pra trás.

  16. Este governo que se elegeu com o "tudo será dentro da lei doa a quem doer" está muito longe de ser de fato o que prometeu.

  17. Mudou-se algumas peças mas o jogo sujo continua o mesmo. Muda-se só as cadeiras mas as práticas dos novos que chegam para elas ocuparem continuam as mesmas ou talvez ainda pior por serem desconhecidos e ninguém conhecer suas índoles antes de belas se sentarem. São só bandidos novatos mas são tão somente bandidos como tantos outros que ali chegam para se esconderem por oito longos anos. Mudanças? Ninguém sem caráter muda da noite pro dia. Tá aí a prova. Se isso é o Novo o que dizer do Velho.

  18. De acordo com a reportagem, no penúltimo parágrafo, "é um excelente estrategista", portanto não há esse negocio de que não houve dolo, assim como o de o "ato não ter sido consumado", Cassação imediata de ambos, dele e do Fernando Bezerra que entregou a cédula, que aliás não foi o cara indicado para ser o líder do governo no senado?

  19. O que espero é Moro começar a punir imediatamente os filhos do demo que querem iludir, enganar, corromper e ser corrompido no palácio do planalto. Punição e enquadramento na lei no minuto seguinte ao mal praticado.

  20. Fraude eleitoral é o que? A lei vale para todos os brasileiros e deve ser levada à risca por um Senador da Republica em eleição da casa. Estamos de olho.

  21. Ao contrário do telmario deve-se punir com rigor todos os envolvidos nessa falcatrua orquestrada e vergonhosa. Esses senadores são tão imorais que querem passar a ideia de que foi um simples engano essa palhaçada nojenta transmitida ao vivo para todo país. Vergonha na cara senadores!

    1. Vejo um futuro muito promissor para Roraima. Mandam para Brasília os melhores do que têem. Telmário, Romero e agora Mecias. Parabéns.....

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