Poit, um dos recém-chegados ao Congresso: ele enxerga perda de tempo no trabalho dos colegas

O espanto de um novato

Vinícius Poit, deputado de primeiro mandato que foi eleito pregando a necessidade de renovação da política, fala sobre as agruras do primeiro contato com o universo de Brasília. Decifrar uma máquina criada para velhas raposas é tarefa difícil
22.02.19

Vinicius Poit, 33 anos, tem um discurso afinado com o assunto recorrente entre jovens empresários, sobretudo nas redes sociais. Ele defende o espírito empreendedor do brasileiro, o liberalismo e se apresenta como especialista em reestruturação de empresas. Até se coloca como coaching, uma das profissões que emergiu no país graças ao novo de mundo de startups, carreiras e inovação, e que ainda engatinha no capitalismo brasileiro. Poit só começou a se interessar pela política nos últimos dois anos, mas conseguiu rápida ascensão. Eleito deputado federal por São Paulo com 207 mil votos, ele é um dos oito deputados do partido Novo e tem a oportunidade de levar esse discurso para o mundo real (e pragmático) de Brasília. Endossado pelo “Renova Br”, que reuniu candidatos da chamada “nova política” em uma espécie de antítese do que é o Congresso Nacional, agora ele promete atacar privilégios. Nesta entrevista a Crusoé, o deputado revela seu estranhamento com o mundo do poder em seus primeiros dias no Congresso (admite que chegou sem saber nem o que é um projeto de lei, por exemplo). E reconhece as dificuldades que se impõe aos que querem mudança, mas se mostra otimista. A entrevista:

Como é cair de repente no Congresso?
Como a gente diz em reestruturação de empresa, o mato é muito alto. Quando você vai em algum lugar em que o mato é muito alto, com qualquer enxadada ali você limpa a área e começa a ver eficiência. Então o ganho de eficiência, a oportunidade para você melhorar, é muito forte, é latente. Quando eu trabalhei no Citibank e na empresa da família que assumi e depois vendi, montei um negócio de reestruturação, de pegar uma empresa quebrada, cortar gastos e ganhar eficiência.

O Congresso é muito ineficiente?
Aqui tem muita eficiência para ganhar. Se quero eficiência, preciso votar o que está na pauta. E o pessoal (refere-se aos colegas deputados) fica na obstrução, fica pedindo tempo da liderança, tempo disso, tempo daquilo, para falar sobre outros assuntos, e atrasa um monte a votação. Tem um cara que quer ficar protestando contra o presidente, contra a reforma da Previdência. Eu chego extremamente animado e motivado porque dá para mostrar o jeito novo de fazer política muito rápido.

O que mais causou estranhamento?
O que mais causa (estranhamento) é o processo de plenário. Como eu nunca fui eleito para nada, não tinha conhecimento. O meu interesse mais forte pela política nasceu de uns dois anos pra cá. Então, o que é uma obstrução? O que é um destaque? Uma emenda? O que é uma supressão de um texto da pauta? O que é um projeto de lei? Uma PEC, ou uma medida provisória ou um PBC, ou um tratado internacional da educação? Quando se está ali no plenário, as coisas acontecem muito rápido. Mas nos primeiros dias, enquanto estávamos formando a liderança da bancada, a liderança ia assoprando para a gente: “Olha, está acontecendo isso, está acontecendo aquilo”. E, cara, acontecia.

“Se quero eficiência, preciso votar o que está na pauta”
Qual é a sua impressão sobre os colegas?
A gente não pode cair na armadilha dos extremos, enquanto essa turma que não gosta de eficiência, não gosta de eficácia e não respeita o dinheiro público fica enrolando ou obstruindo pauta, reclamando, levando cartaz (na véspera, deputados da oposição fizeram um protesto contra Bolsonaro, que foi ao Congresso levar a proposta de reforma da Previdência). Ontem tomaram bronca do Rodrigo Maia, que avisou que eles estavam desrespeitando o regimento.

E qual é a consequência desse tipo de atitude?
Enquanto essa turma faz isso, a outra cai na armadilha de entrar na provocação e fica brigando.

Essa turma dos extremos é maioria hoje, não?
Tem um grupo importante que está a fim de trabalhar. Principalmente o da renovação. Nele estão pessoas de outros partidos e de diferentes correntes de pensamento que mostram que, não interessa a corrente, é preciso discutir as pautas.

O grupo, aparentemente, é minoritário.
É menos do que a metade. Mas já é uma esperança. Acho que nunca deve ter havido tanta gente querendo ser diferente assim no Congresso.

“O Brasil não poderia estar melhor para crescer, para gerar emprego”
Qual é a principal meta de seu mandato?
Uma das medidas é conseguir dar outro destino para os recursos do fundo partidário e do fundo eleitoral. Acho que essa seria uma medida de sucesso, Já protocolamos esse projeto da bancada do Novo no primeiro dia do mandato. É difícil todo mundo aceitar, mas vamos brigar. Por que não aceitariam? Eu tenho o direito de usar o dinheiro para outra coisa.

Qual é a ideia?
O Novo vai receber quase 30 milhões do fundo partidário este ano por causa de oito cadeiras. Tem 4 milhões de reais parados em conta que a gente não consegue devolver. Eu não vou devolver ao fundo para compartilhar com outros partidos, se não acredito nisso. Você não consegue doar para uma instituição de saúde, não consegue doar para a Polícia Federal em apoio à Lava Jato ou outra operação. Não consegue doar para o MEC investir em educação básica, que a gente acha que é prioridade para o país. Poder fazer isso seria uma baita vitória.

O projeto é para permitir a devolução do dinheiro do fundo eleitoral que não é gasto?
O projeto permite aos partidos políticos pegar o dinheiro do fundo partidário e eleitoral que não utilizaram, para investir ou para direcionar para o que acreditamos ser as três áreas prioritárias: educação básica, saúde e segurança.

Qual é a sua avaliação do governo até aqui?
O governo, obviamente, está sofrendo alguns baques. Acho que tudo tem que ser investigado, e tem que haver punição para os envolvidos. Mas prefiro olhar o lado cheio do copo. Por exemplo, o Ministério da Economia. A impressão sobre esses caras é extremamente positiva. O Brasil não poderia estar melhor para crescer, para desenvolver, para gerar emprego. Na cerimônia de protocolo da reforma da Previdência, o discurso do presidente Bolsonaro foi muito bom. Colegas aqui dizem que ele era uma pessoa enquanto deputado e que agora é outra, enquanto presidente da República. O discurso dele foi no sentido de pedir responsabilidade de todos nós. Todo mundo tem que se doar um pouco. Acredito que o Ministério da Economia vai mudar a cara do nosso país. Estou extremamente motivado com o jeito que eles estão trabalhando.

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