DivulgaçãoReed: "O socialismo corrói a produtividade, a eficiência e a moralidade"

O socialismo e o dinheiro dos outros

Crítico feroz da esquerda, o economista americano Lawrence W. Reed esmiúça o fracasso do ditador Maduro e aposta no sucesso do governo de Jair Bolsonaro
15.02.19

Com formação em economia, história, administração pública e direito, o americano Lawrence W. Reed é um paladino da liberdade. Presidente da Fundação para Educação Econômica, ele percorre o planeta dando palestras em que defende o capitalismo, o liberalismo e ataca sem piedade o comunismo e o socialismo. Para Reed, não há qualquer hipótese de o socialismo dar certo. Em entrevista para Crusoé, ele até mesmo chegou a adaptar uma frase da primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher (1925-2013), segundo a qual o socialismo chega ao fim quando acaba o dinheiro dos outros. Para o economista, também é preciso ficar atento à velocidade do processo: “O tempo que os socialistas levam para destruir uma economia depende da rapidez com que implementam o socialismo”. É o que ele próprio chamou de “Lei de Reed”.

Em janeiro deste ano, Reed lançou no Brasil o livro “Desculpe-me, socialista”, pela Faro Editorial. Organizada por Reed, a obra traz textos dele e de outros especialistas com o objetivo de desmascarar “as cinquenta mentiras mais contadas pela esquerda”, como diz o subtítulo. Reed já escreveu colunas para diversos jornais americanos, como o Wall Street Journal e o USA Today. Também publicou oito livros, entre eles um sobre os mitos da Grande Depressão americana. Antes de se tornar palestrante, ele foi jornalista e conheceu 81 países. Segue a entrevista na íntegra.

Por que o regime do ditador Nicolás Maduro fracassou?
O governo de Maduro, sendo socialista, sempre esteve moral e intelectualmente falido. Normalmente, demora um pouco para os regimes socialistas se arruinarem financeiramente e destruírem os países que eles administram, mas Hugo Chávez e Maduro conseguiram fazê-lo em um tempo quase recorde. Em menos de vinte anos, eles tomaram o poder de uma das nações mais ricas da América Latina e a transformaram em uma das mais pobres. Eles provaram aquilo que Margaret Thatcher disse uma vez, de que o socialismo parece funcionar “até que você acabe com o dinheiro dos outros”.

O senhor chegou a adaptar essa “lei”, não?
Exato. E pode chamar de Lei de Reed, se quiser: o tempo que os socialistas levam para destruir uma economia depende da rapidez com que implementam o socialismo. Eu já falei sobre essa regra em muitas palestras, mas é a primeira vez que a batizo com meu nome. Se um paciente bebe um veneno lentamente, ele pode viver por décadas. Mas, se tomar de uma mangueira de incêndio, a morte será mais rápida. De qualquer forma, estamos falando de um veneno. Por isso, digo que, nos países em que um socialismo parcial parece funcionar, é apenas porque o capitalismo que eles ainda não destruíram ainda é capaz de mantê-los vivos. Um dos maiores economistas de todos, Ludwig von Mises, disse algo muito parecido e mais profundo: “Um homem que escolhe entre beber um copo de leite e uma solução de cianeto de potássio não escolhe entre duas bebidas. Ele escolhe entre a vida e a morte. Uma sociedade que escolhe entre capitalismo e socialismo não escolhe entre dois sistemas sociais. Escolhe entre a cooperação social e a desintegração da sociedade”.

Quais seriam os objetivos do socialismo?
São três. O primeiro é a redistribuição forçada da riqueza. O segundo é a propriedade estatal dos meios de produção. O terceiro é a concentração de poder para planejar e comandar a economia. Nenhuma dessas coisas é produtiva, eficiente ou moral, e todas exigem coerção. Assim, desde o início, o socialismo corrói a produtividade, a eficiência e a moralidade. Quanto mais socialismo você tiver, mais rapidamente você mandará seu país pela descarga da privada.

O que aconteceu com a capacidade produtiva da Venezuela?
Eles acabaram com o empreendedorismo, com a criação de riqueza e com a propriedade privada. O socialismo não é nada mais do que um esquema para roubar e distribuir, que termina por destruir a produção. Ele está baseado no ódio, na raiva, na inveja e na vitimologia — uma mistura maligna que nunca acaba bem. Os governos de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro confiscaram propriedades e depois encarregaram burocratas e generais para cuidar delas. Eles impuseram todos os tipos de controles idiotas – congelamento de preços, de aluguéis, limites para exportações e importações. Nenhum deles funcionou nos últimos 5 mil anos. Então, eles imprimiram papel-moeda até que o dinheiro não valesse mais nada. Por que qualquer pessoa razoável esperaria algo diferente da falência tomando uma bebida tão tóxica?

Mas, então, como Maduro ainda continua no poder?
Ele tem muitas armas e balas – quase todas elas, na verdade. Tem a força bruta. Como o socialismo concentra e monopoliza o poder, as pessoas comuns são impotentes até que possam encontrar a coragem em massa para se erguerem e se libertarem. Maduro usa fundos públicos para comprar os altos mandos militares. Eles sabem que, se o regime for removido, terão de responder por seus crimes. Maduro também exerce um controle considerável sobre quem recebe comida e quem não recebe.

Como o sr. enxerga a atuação dos opositores da ditadura? Eles teriam capacidade para derrubar o ditador rapidamente?
A oposição anteriormente esteve dividida, desorganizada e desmoralizada. Isso está mudando agora, e eu imagino que Maduro irá embora em breve. Lembro-me de quando estive na Polônia, em novembro de 1989, celebrando o fim do comunismo na Europa Oriental. Durante um jantar em Varsóvia, chegou a notícia de que a ‘Revolução de Veludo’ estava em andamento na então Tchecoslováquia. Então, eu perguntei a um amigo polonês: “Quando você acha que a ditadura de Ceaucescu na Romênia cairá?”. Ele balançou a cabeça e disse: “Vai levar muito tempo porque seu aparato de segurança é muito poderoso”. Como se viu, Ceaucescu foi embora no mês seguinte. Nunca subestime o poder das pessoas que perderam a paciência e que estão determinadas a se libertar.

DivulgaçãoDivulgação“Nunca se deve esperar que governos ensinem liberdade ou caráter”
Que lições o governo de Maduro pode dar para a América Latina?
As lições da tragédia do socialismo na Venezuela são enormes e numerosas. Elas se aplicam para todos os países, não apenas para a América Latina. Em primeiro lugar, não compre aquilo que o economista ganhador do Prêmio Nobel, Friedrich Hayek chamou de “arrogância fatal”. É a ideia de que uma elite pode planejar a sociedade, que pode empurrar pessoas como peões em um tabuleiro de xadrez e criar uma utopia terrena. Quando adultos combinam essa fantasia arrogante e infantil com armas e poder político, o resultado é sempre violento e regressivo. Sempre. O poder atrai os corruptos e os corrompe ainda mais. Uma segunda lição é a seguinte: o governo não tem nada para dar a ninguém, exceto aquilo que ele primeiro tomou de alguém, e um governo grande o suficiente para dar tudo o que você quer é grande o suficiente para tirar tudo que você tem. O governo é essencialmente redistributivo, não criativo. Quando isso mantém a paz, é uma coisa boa. Quando o estado decide ser sua babá, seu médico, seu professor, sua mídia, seu posto de gasolina e seu restaurante, isso só perturba a paz. Uma terceira lição é dirigida especialmente para todas as pessoas em todos os lugares que têm a ambição de administrar a vida dos outros: seus dias estão contados. Se você vive pela espada, as chances são boas de que você também morrerá por ela. Você responderá, cedo ou mais tarde, por sua estupidez e arrogância. Será lembrado algum dia como um lixo sem consciência. Então, é melhor repensar suas premissas e encontrar outra linha de trabalho.

Como a tragédia na Venezuela pode influenciar partidos na América Latina?
Pode-se esperar que, da experiência da Venezuela, os partidos de esquerda aprendam a parar de adorar o estado. Talvez eles aprendam economia básica. Mais importante, podemos esperar que eles entendam que a pilhagem legalizada e a compra de votos com o dinheiro de outras pessoas é um beco sem saída. No mínimo, talvez os partidos de esquerda da região aprendam a confiar menos nas boas intenções da política e mais nos resultados reais delas.

Por que os russos estão apoiando Maduro? Isso tem algo a ver com ideologia e o fim da União Soviética?
O governo russo provavelmente sente muita nostalgia pelos velhos tempos em que o país era um ator muito maior no cenário mundial. De minha parte, gostaria que isso fosse superado e que o governo russo se concentrasse nos assuntos de seu próprio país. Claro, esse é o conselho que eu daria a qualquer governo, incluindo o de Washington. Na medida em que os regimes de Chávez e Maduro difamaram os Estados Unidos e seus aliados, eles procuraram ter relações mais estreitas com governos comunistas e ex-comunistas. Fizeram acordos com a Rússia e a China. É por isso que os russos e os chineses têm participações na Venezuela. Eles estão todos juntos em uma rede de negócios que inclui petróleo, dívidas e outras coisas.

Ao final, o sr. acha que a ditadura de Maduro cairá sozinha ou será necessária alguma intervenção externa?
Provavelmente, o regime cairá por conta própria, cedo ou tarde, por causa dos defeitos inerentes do socialismo, embora isso possa levar a um enorme derramamento de sangue. Mas estou esperando que o povo da Venezuela, com o apoio da comunidade internacional, o empurre para a beira do penhasco em questão de semanas. Poucas coisas me agradariam mais do que ver Maduro e seus companheiros criminosos na Justiça. O melhor cenário é que tudo aconteça dentro do país. Se os países vizinhos da região quiserem intervir, isso caberá a eles. Temo, no entanto, que uma intervenção militar dos Estados Unidos acabe se tornando um tiro pela culatra e dê a Maduro alguma legitimidade que ele não merece.

Como o sr. avalia a presidência de Donald Trump?
É uma mistura de coisas boas e ruins. Do lado bom, ele conseguiu desregulamentar e reduzir impostos consideravelmente. As nomeações judiciais têm sido em grande parte muito boas porque os homens e mulheres escolhidos são pessoas sérias. Eles não veem a Constituição como um brinquedo que possa ser deixado de lado quando se quer aumentar o governo. Do lado ruim, o gasto imprudente da administração anterior continua, e está acumulando uma montanha de dívida. Até agora, não houve foco em consertar o problema fiscal de longo prazo dos gastos dos direitos insustentáveis do estado de bem-estar social. Os déficits orçamentários, apesar do forte crescimento econômico, estão aumentando. Essas são tendências terríveis que nem o partido republicano nem o democrata, parecem dispostos a abordar. Teremos uma crise no futuro se não isso não for tratado.

DivulgaçãoDivulgação“Lições da tragédia na Venezuela se aplicam para todos os países”
Como o sr. vê a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China?
É algo que não está ajudando. Se isso acabar fazendo com que todos reduzam suas tarifas, vou aplaudir. Mas, por enquanto, essa disputa está gerando enormes custos e deslocamentos, consequências que historicamente as guerras comerciais sempre trazem.

O estilo de Trump o incomoda?
Eu preferiria que ele fosse mais articulado e possuísse uma pequena porção da graça, do temperamento e da simpatia de um Ronald Reagan. Por causa de sua personalidade abrasiva e excessivamente sensível, ele atira no próprio pé mesmo quando está certo. Apesar disso, penso que qualquer coisa que acontecer nos próximos dois anos ainda assim será algo muito melhor do que o que provavelmente teríamos com a democrata Hillary Clinton.

Os britânicos tomaram a decisão certa ao votar por sair da União Europeia?
Dada a burocracia massiva e intrusiva e o aparato regulatório que a UE construiu, não creio que os britânicos tivessem outra opção senão partir. Margaret Thatcher estava certa sobre para onde a UE provavelmente iria se tivesse a chance: na direção de centralizar o poder em um estado supergigantesco. Melhor sair agora do que ser arrastado ainda mais para aquele pântano. Se a UE tivesse se concentrado desde o início em ser uma verdadeira zona de livre comércio, sem a centralização, teria sido uma ótima ideia.

A primeira-ministra Theresa May conseguirá concretizar a vontade dos seus cidadãos, expressa no plebiscito?
O problema é realmente como sair. O chamado “Brexit duro”, que seria sair sem nenhum acordo com a UE, é uma possibilidade real no final de março. Mas sou daqueles que acreditam que o perigo de um Brexit duro está sendo exagerado, e que a Grã-Bretanha passaria por essa mudança em boa forma e ficaria feliz por isso. Muito dependerá, entretanto, da capacidade da Grã-Bretanha em negociar acordos de livre-comércio por conta própria. Acho que os Estados Unidos deveriam agir rapidamente para adotar o livre-comércio com os ingleses e oferecer o mesmo para o resto da Europa. Isso, claro, se os europeus do continente desistirem de suas tentativas de punir os ingleses.

Qual é o seu prognóstico de longo prazo para a União Europeia?
Receio que o projeto europeu seja demasiado ambicioso, demasiado controlador e corrupto para prevalecer. A Grã-Bretanha não é o único país descontente com isso. A UE está se desgastando em todas as suas margens, principalmente porque tentou fazer muito às custas da liberdade e da soberania nacional.

O sr. tem alguma opinião sobre o governo de Jair Bolsonaro?
Estou muito otimista. Ele enfrenta enormes desafios que decorrem de tantos anos de corrupção profunda e do governo de um único partido por muito tempo. Sua direção geral é aquela de que o Brasil precisa desesperadamente: melhorar o clima de negócios, diminuir o tamanho do governo, extirpar o capitalismo de camaradagem e combater o socialismo em todas as suas formas. O presidente Bolsonaro não pode perder tempo. Deve ainda aproveitar esse período natural de lua de mel com os eleitores para fazer o máximo possível, especialmente as coisas dolorosas que devem ser implementadas para que a prosperidade retorne. Em dois ou três anos, poderemos saber se o governo de Bolsonaro foi bem-sucedido olhando para o tamanho do governo central. Se ele não fizer um grande esforço nisso, se o governo acabar ficando maior do que já é, então diremos que foi um fracasso. Por isso, ele deve ser ousado, decidido e firme. Se alguém tem o câncer do socialismo no corpo, não pode tomar uma aspirina. É preciso cortar o problema e jogá-lo fora.

Mas e se a opinião pública for refratária a reduzir o tamanho do estado?
A opinião pública também deve mudar para valorizar a propriedade privada, a liberdade, o empreendedorismo, o livre-mercado, a responsabilidade pessoal e o caráter. Também é preciso que se faça um esforço conjunto para educar e inspirar os brasileiros nessas ideias. Há várias organizações no Brasil fazendo um ótimo trabalho para ensinar a liberdade.

Em muitas escolas e universidades brasileiras, esses princípios têm dificuldade de entrar. Por quê?
Quando as escolas pertencem aos governos e são administradas por eles, com o tempo elas se tornam um imã para as pessoas que ensinam fielmente o que o governo quer que elas façam. Os professores trabalham para o governo e eles querem que o governo cresça. Isso não deveria surpreender ninguém. Nunca se deve esperar que os governos ensinem liberdade ou caráter. Eles não podem e não vão fazer isso porque não é do interesse deles. A doutrinação é mais importante para os governos do que a educação.

Trata-se de um fenômeno global?
Sim. E esse é um bom motivo para separar a escola dos governos em todos os países. Não acredito que governos possam fazer um bom trabalho administrando colégios, da mesma forma que não confio que possam conduzir restaurantes ou empresas de petróleo.

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