Mateus Bonomi/CrusoéAs imagens da sessão estão sendo analisadas por um grupo de funcionários do Senado

O cerco se fecha

A Corregedoria avança na investigação da fraude histórica na eleição para presidente do Senado, mas uma dúvida persiste: haverá punição? A cobrança popular fará diferença
15.02.19

Foi durante uma reunião no 14° andar de uma das torres do Congresso que Davi Alcolumbre ouviu que é preciso levar às últimas consequências a investigação da fraude na eleição para a presidência da casa, sob pena de iniciar sua gestão desmoralizado. O conselho foi dado ao novo presidente do Senado em um encontro em que também estavam presentes Tasso Jereissati, o dono do gabinete, Esperidião Amin, Otto Alencar, Jaques Wagner e Jarbas Vasconcelos. O grupo de velhos políticos, que virou referência para Alcolumbre, um dos senadores mais novos da atual legislatura, defendeu a necessidade de eliminar todo e qualquer vestígio dos hábitos que dominaram o Senado nos últimos vinte anos. Um bom começo, disseram, seria passar a limpo a fraude histórica na eleição, no último dia 2.

Outra marca a ser apagada, na opinião dos conselheiros, é a oferta de blindagem no Conselho de Ética da Casa a senadores envolvidos em malfeitos. Com o Senado sob o comando de Renan Calheiros e seu grupo, só Delcídio do Amaral não se salvou, justamente por ter delatado o cacique de Alagoas e outros integrantes de seu entourage. Os vários conselhos dados a Alcolumbre naquele almoço de quarta-feira tinham, ao fim e ao cabo, o mesmo pano de fundo: se tudo caminhar como deve, o Senado terá que debater, muito em breve, a cassação do mandato do senador que, mesmo diante das câmeras que transmitiam a sessão para todo o país, jogou na urna não apenas um, mas dois votos. Um escândalo monumental, que precisa ter resposta.

Há uma semana, a Corregedoria do Senado vê e revê as imagens da sessão — são quase 10 mil fotos e cerca de dez horas de vídeos gravados por três câmeras da TV Senado e outras três do circuito interno de segurança do plenário. Já foi possível obter alguns resultados. Como mostrou o Diário de Crusoé, as suspeitas recaem sobre seis dos 81 senadores. O corregedor, senador Roberto Rocha, evita falar em nomes. Mas, nos bastidores, ganha força a leitura de que o autor da fraude está entre os últimos que votaram. Eliminando todos aqueles que as imagens mostram que votaram corretamente, com a cédula acondicionada dentro do envelope, sobrou meia dúzia de excelências. O trabalho prossegue, agora com a ajuda de vídeos de celulares gravados por quem estava no plenário.

Agência SenadoJefferson Rudy/Agência SenadoRoberto Rocha, o corregedor: caberá a ele dizer quem fraudou a eleição
A participação, ainda que indireta, de servidores não está descartada. Nesta semana, o diretor da Polícia Legislativa, Pedro Carvalho, foi demitido por Alcolumbre. A decisão guarda alguma relação com a fraude. Senadores cobraram a demissão ao saberem que Carvalho teria, logo após a constatação da fraude, se trancado na sala de controle em que as imagens das câmeras de segurança são processadas. A atitude levantou suspeitas. Estaria ele tentando proteger alguém?

Se a investigação conduzida pelo corregedor Roberto Rocha avança, há nos bastidores um esforço para evitar que o mandato do culpado seja cassado. Alguns senadores dizem, à boca miúda, que é preciso verificar se houve má-fé no voto duplicado. Outros já pensam até em pena alternativa: lembram que o regimento do Senado prevê sanções mais brandas, como a suspensão temporária do mandato. Em sintonia com esse pensamento, aliados de Alcolumbre relatam que em um primeiro momento sua ideia era não aprofundar as investigações. Além de uma eventual retaliação de Renan, ele temia que um aliado seu pudesse acabar sendo culpado. Isso porque a urna poderia, em última análise, ter sido fraudada para anular a votação e fazer com que o movimento em prol do voto aberto ganhasse força na rodada seguinte, o que acabou ocorrendo. Sim, agora as suspeitas recaem também sobre o outro lado. Até a semana passada recaíam apenas sobre a ala renanzista,

A ideia inicial, portanto, era varrer a sujeira para debaixo do tapete. Mas a pressão cresceu e o presidente do Senado determinou a instauração da investigação. Alcolumbre, porém, tomou cuidados. Proibiu, por exemplo, que terceiros tivessem acesso a qualquer informação que pudesse elucidar o caso. Para se ter uma ideia, a despeito de ser um órgão público, a TV Senado foi proibida de repassar cópias das imagens de todas as suas câmeras. Só a Corregedoria pôde ter acesso às gravações. Tão logo seja possível afunilar ainda mais o rol de suspeitos, a ideia do corregedor é requisitar uma perícia nas imagens, para que não pairem dúvidas sobre quem foi o autor da fraude. O ato seguinte, já planejado, será a discussão sobre o que fazer. Nessa etapa, a voz dos cidadãos que rejeitam a ideia de um acordão será, mais uma vez, de grande valia.

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