LeandroNarloch

Israel, capital Jerusalém

08.02.19

Por que a embaixada brasileira na Itália está no centro de Roma? Porque os italianos consideram Roma sua capital. Por que temos uma embaixada em Washington? Porque Washington é a capital dos Estados Unidos. Mas então por que a embaixada brasileira em Israel fica em Tel Aviv e não em Jerusalém Ocidental?

O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a existência do estado de Israel, em 1949. E desde então esse país que nós reconhecemos considera Jerusalém sua capital.

O mesmo vale para o escritório da representação brasileira na Palestina, que existe desde 2004, em Ramala. Em 2010, Dilma reconheceu a existência do estado Palestino segundo as fronteiras de 1967 (ou seja, Cisjordânia e Faixa de Gaza formando o estado Palestino; Jerusalém dividida entre os dois países).

Depois que Bolsonaro anunciou que seguiria Trump e mudaria o endereço da embaixada, o governo tem fraquejado nessa decisão. Não deveria. Israel é um oásis de liberdade, democracia e direitos humanos no Oriente Médio – é importante que o Brasil sinalize apoio a sua autonomia. A atitude não precisa soar como provocação aos árabes. Se algum dia houver um estado Palestino, a embaixada também pode ser em Jerusalém, na parte oriental.

Argumentos muito ruins costumam aparecer nesse debate. “Trata-se de um território em disputa”, me diz um amigo contrário à mudança da embaixada. Sim, territórios da região têm sua posse contestada. É o caso dos assentamentos judeus na Cisjordânia, uma controvérsia que divide até mesmo os israelenses. Estive lá em novembro: a tensão é evidente. Jornalistas e turistas que se aventuram a passear pela região de Eli, no norte da Cisjordânia, costumam usar ônibus blindados para se proteger de pedras e tiros disparados por palestinos. Ao volante, o motorista listava locais de atentados recentes; na porta de uma fábrica, faixa e flores lembravam o atentado contra dois israelenses duas semanas antes.

Mas esse não é o caso de Jerusalém Ocidental. Só o mais radical defensor dos árabes deve achar que os palestinos têm direito ao território onde está a sede do governo israelense desde 1950. O Parlamento, a Suprema Corte e os ministérios ficam em Jerusalém desde quando a cidade ainda era dividida entre Israel e a Jordânia. Ninguém sensato defende controle palestino na área do Museu do Holocausto, por exemplo. Só pensa assim quem reivindica a “Palestina Original”, sem nenhum estado judaico. Mas, para esses, a embaixada até mesmo em Tel Aviv é motivo de ofensa.

“Se mudarmos a embaixada, os países do Oriente Médio vão retaliar e boicotar produtos brasileiros”, diz outro argumento duvidoso. Aqui é preciso levar em conta a tal “soberania nacional”. Tenho calafrios com essas duas palavras – elas já serviram para Ernesto Geisel justificar a proibição de computadores importados no Brasil. Mas esse caso é, sim, questão de soberania. Ora, quem decide onde instalaremos representações diplomáticas somos nós, não a Turquia ou a Arábia Saudita. O Oriente Médio responde por 4% das exportações brasileiras – isso já é o suficiente para baixarmos a cabeça?

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO