Jair Bolsonaro discursa para prefeitos em Brasília: plano de ampliar as verbas para os municípios (Adriano Machado/Crusoé)

O fator Bolsonaro

O deputado e ex-capitão do Exército que lidera a corrida presidencial se equilibra entre o estilo que o colocou na dianteira da preferência do eleitorado e a necessidade de suavizar a própria imagem para ampliar suas chances de chegar ao Planalto
25.05.18

Jair Bolsonaro vive dias de celebridade. Na última quarta-feira, ele chegou apressado para a tradicional marcha dos prefeitos a Brasília. Entrou escondido, por uma porta lateral. Estava acompanhado do também deputado Onyx Lorenzoni, do DEM, e de um auxiliar que faz as vezes de segurança. Descoberto nos bastidores, foi logo abordado por prefeitos em busca de selfies. Por um corredor lateral, seguiu em passos firmes até uma saleta reservada onde encontraria os organizadores do evento. Onyx, alçado à condição de conselheiro do pré-candidato, tentava agradá-lo de todo jeito. “Quer um suco de laranja?”, perguntou. “Quero natural”, respondeu, à vontade em meio à bajulação geral. Nos dez metros de trajeto entre a sala e o amplo palanque em que falaria para 4 mil pessoas, Bolsonaro ouvia atentamente as orientações do colega. Onyx sugeriu que ele criticasse o Ministério Público, uma conhecida pedra no sapato de prefeitos por todo o país. Era um atalho fácil para agradar a plateia. Propôs também que Bolsonaro anunciasse que, se eleito, trabalhará para extinguir uma taxa cobrada pela Caixa sobre os repasses da União aos municípios – outro motivo de queixas frequentes de prefeitos em geral. Bolsonaro ouviu atentamente as sugestões. E, em nova fase, tentando se mostrar um pouco mais leve, as acolheu integralmente. Durante seu discurso, chegou a ser vaiado por alguns prefeitos, mas na sequência ganhou aplausos da maioria. Saiu satisfeito.

Com cerca de 20% nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro vive hoje sua terceira e melhor fase na pré-campanha presidencial. Há um ano era considerado o candidato folclórico da disputa, como tantos outros o foram em todas as eleições desde a redemocratização. No início de 2018, conforme crescia nas sondagens, os críticos diziam que ele tinha um teto. Agora, já é considerado por muitos um nome certo no segundo turno. São vários os fatores que explicam a ascensão do pré-candidato. O primeiro deles guarda relação com a maneira com que ele surfou na derrocada do PT, atolado em denúncias de corrupção, para atrair o eleitorado antipetista. Aos poucos, construiu um personagem com discurso eloquente contra bandeiras tradicionais da esquerda. Sem se importar com a pecha de machista, homofóbico e racista que viria junto. Outro elemento a explicar seu sucesso nas pesquisas foi ter explorado o fato de não ter figurado como parte em escândalos de corrupção, especialmente na Lava Jato. Ele se vende como um político diferente, a despeito dos sete mandatos como deputado federal e um como vereador no Rio. Mas não é só. Bolsonaro também atrai o voto de protesto que outrora era comum em eleições legislativas, como na que elegeu deputado o palhaço Tiririca, em 2014. Tamanha é a frustração do brasileiro com a política e a economia que ele virou uma espécie de refúgio dos indignados. “Ele atende aos descontentes com o Brasil atual, principalmente os descontentes com a corrupção”, diz David Fleischer, professor de ciências políticas da Universidade de Brasília. “A figura que ele encarna é quase ideal. É um personagem de um drama, comédia ou tragédia política”, afirma Roberto Romano, professor aposentado de Ética e Filosofia da Unicamp.

Com o pé no segundo turno, o debate que se impõe é: se eleito, Bolsonaro terá condições de presidir o país? Além disso, qual Bolsonaro seria presidente? O Bolsonaro mais radical, com forte discurso contra a política, contra o sistema, ou aquele que agora começar a vestir um figurino um pouco mais flexível para atrair um eleitorado que ainda duvida da sua capacidade para conduzir o Brasil em um dos períodos mais conflagrados da história?

O deputado avança sobre a petista Maria do Rosário no plenário: papel de antípoda do PT o projetou (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Capitão da reserva do Exército, Bolsonaro sempre voltou a sua atuação política para assuntos caros a seu eleitorado original, os militares. Foi erguendo bandeiras de interesse dos colegas de farda que ele se elegeu pela primeira vez. Era um rebelde nos quartéis, lutando por melhorias nas condições de trabalho de soldados e cabos, o baixo clero da caserna (leia, nesta edição, reportagem especial sobre a ficha militar de Bolsonaro). Da Câmara de Vereadores do Rio, levou a bandeira para a Câmara dos Deputados, em Brasília. Foi eleito pela primeira vez deputado federal em 1990. Passou os anos 90 com uma apagada atuação parlamentar, focada no atendimento de demandas corporativas das Forças Armadas. São dessa época as suas primeiras frases de efeito, em geral relacionadas à defesa de regimes militares. Disse, por exemplo, que “Pinochet deveria ter matado mais gente” e que na ditadura “deveriam ter fuzilado uns 30 mil corruptos a começar pelo (então) presidente Fernando Henrique”.

A chegada do petista Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, em 2003, daria ao deputado um inimigo de peso para combater — e aparecer. Foi a partir daí que se deu a primeira guinada política da carreira de Bolsonaro. Na era petista, ele ampliou o foco de sua atuação. Passou a falar não apenas para os militares de baixo coturno, o que se comprova por uma redução significativa no número de projetos corporativistas apresentados por ele, e adotou bandeiras conservadoras para rebater as políticas públicas propostas pelo PT. Focou na segurança pública e em assuntos ligados a comportamento – se os petistas defendiam a diversidade sexual, por exemplo, ele falava na linha oposta. Aos poucos, foi se consolidando como um dos mais virulentos críticos do petismo e ganhou protagonismo. Ainda no governo Lula, disse a Maria do Rosário (PT-RS) que ela não merecia ser estuprada, depois de ser abordado agressivamente pela deputada. O debate, se assim pode ser chamado, era sobre redução de maioridade penal e rendeu a Bolsonaro um processo por ofensa à honra. No começo do governo Dilma Rousseff, em 2011, comprou a briga contra o chamado kit-gay, uma espécie de cartilha contra a homofobia que o Ministério da Educação queria distribuir às escolas. Ao deputado Jean Willys (PSOL-RJ), assumidamente homossexual, disse que não teria orgulho em ter um filho como ele.

Cada polêmica era bem explorada pela equipe de Bolsonaro nas redes sociais, o que fez com que seu nome passasse a ser admirado (e também odiado por grupos mais simpáticos às bandeiras de esquerda) pelo país afora. Os vídeos foram viralizando — e, paulatinamente, ajudando o deputado a fidelizar o eleitorado anti-PT. Foi durante o governo Dilma, com o recrudescimento da crise econômica e o avanço da Lava Jato, que ele conseguiu multiplicar sensivelmente os seus apoiadores. O número de eleitores do deputado saltou de 120 mil em 2010 para 464 mil em 2014, quando foi reeleito para o sétimo mandato na Câmara. O terceiro deputado mais votado do país começou, então, a pensar em voos mais altos. O Palácio do Planalto entrou no seu radar.

Com pesquisas à mão indicando seu potencial, Bolsonaro já havia considerado a ideia anteriormente. Levantou a hipótese ainda em 2014, mas não encontrou apoio no partido que o abrigava àquela altura, o PP. Na tentativa, ele fez algumas abordagens ao presidente da sigla, o notório senador Ciro Nogueira. Ciro sempre fugia do assunto. Mas Bolsonaro não desistia. Um certo dia, foi até o Senado e o pegou desprevenido no Salão Azul, o grande hall acarpetado contíguo ao plenário. Passou o braço em volta do pescoço do senador e cobrou, em tom firme: “Olha aqui, Ciro, tenho chance”. Foi ignorado. Na convenção para decidir o rumo do partido nas eleições daquele ano, Ciro apenas anunciou apoio à reeleição de Dilma. Bolsonaro abandonaria o partido seis meses depois. Foi para o PSC, que também não garantiu legenda para seu projeto nacional. Em 2017, já projetando que em uma sigla menor teria mais chances de se candidatar a presidente, aproximou-se do nanico PEN, o Partido Ecológico Nacional, mais tarde rebatizado de Patriota a pedido do próprio Bolsonaro. Não deu certo. Acabou ingressando no PSL.

As cotoveladas para garantir um lugar entre os postulantes ao Planalto deram certo. Os grandes institutos de pesquisa começaram a incluir o nome de Bolsonaro em suas sondagens. No Datafolha, ele começou a aparecer com 4% das intenções de voto em 2015, 7% em 2016 e, em 2017, já havia atingido 15%. O carimbo de sectário, porém, continuava a ser um problema a resolver, juntamente com a crítica frequente de que era mau conhecedor de temas importantes para alguém que pretende comandar o país. Foi então que, no final do ano passado, começou a modular o seu discurso e a terceirizar a elaboração de propostas em algumas áreas cruciais. Para tentar uma aproximação com o mercado, ator relevante em eleições presidenciais, Bolsonaro escalou o economista Paulo Guedes, fundador e ex-sócio do Banco Pactual, hoje BTG Pactual, e doutor em economia pela Universidade de Chicago, umas das principais referências liberais do mundo. A ideia de convidar Guedes para coordenar o programa econômico de sua campanha teve efeitos positivos. Ali, em meio ao deserto de opções que se desenhavam, Bolsonaro começou a ser um pouco mais bem visto por empresários e operadores de mercado.

Ao votar a favor do impeachment, Bolsonaro homenageou Brilhante Ustra, “o pavor de Dilma Rousseff”(Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O deputado passou, então, a participar de sabatinas organizadas por bancos e associações empresariais. Em discurso já incorporado em parte (frise-se, em parte) por Bolsonaro, o economista Paulo Guedes defende, por exemplo, a privatização das estatais como forma de reduzir a dívida pública. Também advoga que os recursos hoje utilizados para pagar juros sejam destinados aos prefeitos, para investimentos em educação e segurança. Disse o economista a Crusoé na quinta-feira: “A economia terá um novo eixo, o federalismo fiscal. O dinheiro tem que ir aonde o povo está. Mais Brasil e menos Brasília”. Guedes também defende foco nas reformas. “A fiscal para descentralizar os recursos, a tributária para simplificar impostos e a previdenciária para reduzir a dívida”, emenda. Ocorre que Bolsonaro sempre quis o oposto. Suas posições ao longo da carreira eram mais próximas do nacional-desenvolvimentismo e não do liberalismo. Seus projetos de lei na área econômica partem do mesmo fundamento adotado pela esquerda quando ela governou, como a concessão de benefícios ao setor privado. Na era petista, por inúmeras vezes, ele acompanhou o governo em votações econômicas. Um consultor do deputado que concordou falar sob reserva disse que, em longa conversa recente, notou que Bolsonaro ainda mantém posições muito estatizantes e nacionalistas no que se refere à economia. Esta semana, por exemplo, titubeou quando perguntado sobre a proposta de privatização da Eletrobras. “Tem que ver o modelo. A princípio eu reagiria a isso aí. O Brasil não pode ser um país em leilão”, disse Bolsonaro após um encontro na Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Outro ponto do programa é a redução da estrutura do governo. A ideia é que o número de ministérios, 29 atualmente, caia para 14 ou 16. O Ministério das Cidades seria extinto. O do Meio Ambiente seria anexado ao da Agricultura. O da Segurança, criado por Temer, seria mantido, mas ocupado por um general — provavelmente o general da reserva Hamilton Mourão, que no ano passado fez barulho ao defender uma intervenção militar no país. Para outras áreas cruciais, ainda não estão claras as ideias de Bolsonaro. Vez por outra, em discurso, ele tangencia algumas delas. A viabilidade dessas ideias varia a depender da área (confira quadro). O pré-candidato se recusa a revelar os nomes de quem o ajuda a traçar seu programa nas áreas social, de saúde, educação. A justificativa para o segredo: ele diz que, se conhecidos, esses conselheiros seriam perseguidos por apoiá-lo. Bolsonaro cita o exemplo de dois irmãos que o ajudam na campanha, Abraham e Arthur Weintraub. Segundo ele, ambos estariam sendo alvo de patrulha administrativa na Universidade Federal de São Paulo, onde lecionam – a Unifesp nega haver qualquer processo administrativo aberto “contra esses ou outros membros da comunidade acadêmica em função de posições político-partidárias”.

As propostas de Bolsonaro

 

Na política, coube ao deputado Onyx Lorenzoni, aquele do suco de laranja do início desta reportagem, a tarefa de organizar um grupo de parlamentares para tentar mostrar que, a despeito de todas as declarações de Bolsonaro contra a política, ele conseguiria assegurar a governabilidade. O novo partido do ex-capitão, o PSL, tem apenas 8 dos 513 deputados. Para aprovar uma emenda constitucional como necessário para as reformas defendidas pelo auxiliar econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, são necessários 308 votos. Tendo por base a chamada ”bancada da bala”, grupo com o qual Bolsonaro tem maior intimidade no Congresso e que tem como principal bandeira liberar o uso de armas pela população, Onyx começou a organizar reuniões suprapartidárias em Brasília para montar uma rede de apoio. Os encontros geralmente são quinzenais e ocorrem no apartamento funcional do próprio Onyx ou na casa de outro parlamentar do DEM, Alberto Fraga (DF), um dos pontas de lança da “bancada da bala”. Nesses encontros, são apresentados planos gerais de como se dará a relação entre um eventual governo Bolsonaro e o Congresso.

Embora tenha construído sua candidatura em cima de um forte discurso avesso à política tradicional, Bolsonaro já cede em alguns pontos. Um deles é justamente o que, desde sempre, define a relação do Planalto com os parlamentares. Já admite até ceder aos deputados mais do que eles têm hoje, por meio de uma reformulação do tradicional modelo consagrado, o chamado “presidencialismo de coalizão”, em que o governo libera emendas parlamentares e oferece cargos em troca de apoio nas votações de projetos prioritários para o Executivo. Sua ideia, ao fim e ao cabo, é ampliar o acesso dos parlamentares aos recursos públicos. Além da liberação de emendas, cujo pagamento passou a ser obrigatório em 2015, seriam utilizados recursos do Tesouro para financiar diretamente projetos de desenvolvimento regional que os parlamentares levarem ao presidente da República. Se um deputado leva o projeto de uma ponte no Piauí, o governo libera o recurso, se responsabiliza pela obra e ganha o apoio do parlamentar. Outra medida prometida é descentralizar os recursos da União, repassando-os em maior volume, e também diretamente, para prefeitos indicados por deputados da base governista.

Nesta semana, a lista de parlamentares-apoiadores tinha 63 deputados. Os deputados são separados em três tipos. Os “rasga-bandeira” são aqueles que estão em campanha aberta por Bolsonaro, apesar de integrarem outros partidos. Os “contidos”, por sua vez, compõem o grupo dos que perceberam que estar ao lado de Bolsonaro pode ser importante em suas bases eleitorais, mas aguardam as definições das cúpulas de suas legendas para decidir como irão se equilibrar. E há finalmente os “parlamentares de segundo turno”, aqueles que irão apoiar outro candidato na primeira etapa da campanha, mas garantem fazer campanha para Bolsonaro caso ele vá para o segundo turno. O objetivo é chegar a 100 deputados até agosto, quando começa a campanha de fato.

As reuniões também funcionam para debater estratégias eleitorais. Recentemente, começou-se a cobrar de Bolsonaro um estilo mais leve para conseguir a simpatia da fatia do eleitorado que o vê com desconfiança. Na casa de Alberto Fraga, ele foi aconselhado a, em vez de falar em “dar fuzil para a população”, dizer “liberar o porte de arma”. Em outro encontro, no apartamento de Onyx, os deputados pediram que ele passasse a falar menos sobre “militarismo” e centrasse mais seu discurso em áreas como saúde e educação, sob pena de virar um candidato monotemático.

Hoje a força de Bolsonaro está no eleitor masculino urbano e jovem, das classes A e B e de parte da classe C. Um levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, com base nas sondagens de maio, mostra que, dos eleitores que dizem votar em Bolsonaro, 63,6% são homens e 66,4% têm entre 16 e 44 anos. A metade deles estudou até o ensino médio. E 25% têm diploma universitário. Aparentemente, a incontinência verbal atrapalha na adesão feminina. Algumas pesquisas tentam medir o chamado voto “envergonhado”, aquele do eleitor que pretende optar por Bolsonaro, mas, para não ser repreendido por amigos, parentes e colegas de trabalho que podem reagir à opção, não manifesta a sua preferência. Para alguns analistas, a parcela dos cidadãos que se encaixa nesse perfil pode alavancar ainda mais o candidato.

O grande dilema da campanha de Bolsonaro hoje é conseguir dosar a flexibilização em curso de sua imagem com o risco de perder aquele eleitor mais antigo e fiel que o levou ao topo das pesquisas. Vender-se como liberal sem de fato ser, passar a ideia de antipolítico incrementando sugestões oriundas da política mais tradicional e contendo seu ímpeto figadal quando claramente o faz de modo forçado são opções que podem ser malvistas pelo adepto mais tradicional do deputado. Mesmo assim, ele tem se testado. No evento dos prefeitos nesta semana, fugiu de polêmicas e tentou passar a imagem de que está em constante aprendizado. Usou expressões como “no meu humilde pensamento”, “eu, como leigo”, “não tem pergunta fácil de responder” e “desculpe se não respondi”. Nem as vaias que tomou, ao declarar que o serviço prestado pelas prefeituras é de baixa qualidade, fizeram com que ele mudasse o tom. “Meu pavio foi curto no passado, mas cresceu agora”, disse. Dois dias antes, porém, não conseguiu se segurar. Durante o encontro na Associação Comercial do Rio, disse ser necessário usar “mais violência para combater a violência”, “chumbo” para reagir a invasões de sem-terra e “lança-chamas” contra defensores de métodos esquerdistas na educação.

Enquanto isso, seus adversários começam a elaborar estratégias para realçar essas contradições. Bolsonaro é o homem a ser abatido. A equipe de Geraldo Alckmin (PSDB), o pré-candidato que mais perde eleitores para o ex-capitão do Exército, tem na ponta da língua os tópicos que pretende começar a explorar brevemente. O rol inclui provocações relacionadas ao patrimônio da família, avaliado em mais de 15 milhões de reais e ao que chamam de “desvios éticos” do pré-candidato, como o fato de ter empregado a ex-mulher e parentes dela em seu gabinete. E Ciro Gomes, no polo oposto, já o chama abertamente de “fascista”.

Bruna Prado/Apex-BrasilO economista Paulo Guedes, escolhido para ser o guru de Bolsonaro na economia (Bruna Prado/Apex-Brasil)
Outro dilema de Bolsonaro diz respeito ao tamanho da estrutura que irá acompanhá-lo daqui até outubro. A equipe do pré-candidato, se comparada às dos principais adversários, é amadora, e a pressão para profissionalizá-la começa a vir de aliados e correligionários. Hoje, os filhos-políticos são seus principais auxiliares. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), 33 anos, é quem acompanha o pai em seus compromissos em Brasília. Funciona como uma espécie de ajudante de ordens de luxo. Do Rio, o vereador Carlos Bolsonaro cuida das redes sociais. O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, é o advogado do candidato. O custo estimado da campanha é de 3 milhões de reais, um orçamento compatível com a disputa para deputado federal em um estado pequeno como Sergipe. Bolsonaro rejeita marqueteiros e consultores. Quer alugar um estúdio pequeno em Brasília, para gravar o horário eleitoral a partir de um roteiro que, garante, será redigido por ele próprio.

Tamanha modéstia de meios é desproporcional com a sua estatura nas redes sociais. Especialistas dizem enxergar a ação de uma estrutura profissional trabalhando a favor do pré-candidato. É justamente na internet que Bolsonaro aposta para chegar ao segundo turno. Se a campanha começasse hoje, ele teria apenas 8 segundos no horário eleitoral gratuito na televisão. Em um eventual segundo turno, as condições melhorariam: como o tempo é dividido igualmente, cada candidato tem dez minutos. O apoio de uma ampla rede de entidades militares espalhadas pelo país é outro ponto considerado vital por sua campanha. Na seara das possíveis alianças, Bolsonaro espera atrair o senador Magno Malta, do Espírito Santo, para ser seu vice. O parlamentar é estrela entre os evangélicos. A desejada aliança, porém, é outro ponto em que Bolsonaro terá necessariamente de ceder em relação a seu velho discurso: Magno Malta é do PR, partido comandado por Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão. Para fechar o acordo, as conversas precisam necessariamente passar por ele. Nesse debate sobre a escolha de seu vice, aliás, há uma curiosidade que explicita o grau de desconfiança de Bolsonaro. Ele quer escolher a dedo o ocupante do posto, temendo ficar vulnerável caso seja eleito. Teme repetir o drama de Dilma com Michel Temer.

A campanha de Bolsonaro rejeita a ideia de que ele representa a extrema-direita, embora enxergue no cenário brasileiro semelhanças com disputas recentes ao redor do mundo, como a que elegeu Donald Trump nos Estados Unidos – o próprio Bolsonaro diz ver similitudes entre ele e o presidente americano (leia aqui). A leitura é de que o fracasso de políticos e partidos tidos como progressistas mundo afora e no Brasil fez surgir um movimento favorável à eleição de candidatos mais conservadores. Bolsonaro seria o beneficiário desse movimento. O próprio candidato e seus assessores torcem, e trabalham, para uma polarização contra a esquerda. Na hora de colocar as peças no tabuleiro, a campanha avalia ser melhor enfrentar um candidato do PT ou do PDT no segundo turno. Contra um petista ou pedetista, o debate que deverá predominar é se vale a pena a esquerda voltar ao comando. Se for do outro campo, é se valerá a pena o risco de eleger um presidente com o perfil de Bolsonaro. Nesse sentido, um candidato como Ciro Gomes, por exemplo, é menos temido pelo ex-capitão do que o tucano Geraldo Alckmin. A avaliação é a de que Alckmin conseguiria agregar mais setores, como o financeiro e o produtivo, na reta final. Enquanto isso, Bolsonaro vai tentando se equilibrar entre seus estilos.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO