É você quem paga por isto
Fora da Presidência da República, Dilma Rousseff ganha um salário de 17 mil reais e mais uns trocados em dinheiro vivo para despesas comezinhas. Como presidente do PSDB, Aécio Neves gastou mais de 300 mil reais com jatinhos, incluindo voos na véspera do carnaval, e contratou uma varredura antigrampo – o partido diz que o serviço foi prestado antes de fevereiro de 2017, mas a nota foi emitida quatro dias após a operação da Polícia Federal que, na sequência da explosiva delação da JBS, resultou em seu afastamento do Senado e na prisão de sua irmã. O PMDB, hoje MDB, pagou 660 mil reais ao marqueteiro do presidente Michel Temer. O PSL, legenda do presidenciável Jair Bolsonaro, aluga em Recife uma sala de uma empresa cujo dono, por coincidência, é o homem que controla o partido há anos. Ciro Gomes, que tentará ser presidente da República pelo PDT, recebia uma mesada do diretório nacional da sigla: quase 30 mil reais.
Esses são alguns dos gastos de 2017 do multimilionário fundo do qual os partidos podem usufruir livremente. É dinheiro público, dinheiro do contribuinte, que os dirigentes partidários gastam livremente, sem serem obrigados a seguir normas da lei de licitação. Em suma, os partidos gastam, gastam como querem, e é você quem paga. Em 2017, as 35 legendas oficialmente registradas no país receberam 665 milhões de reais do fundo partidário, formado com recursos da União. Este ano, com as eleições, essa montanha de dinheiro público pode chegar a 2,6 bilhões de reais – além do fundo partidário, as siglas terão direito ainda ao chamado fundo eleitoral, criado pelas excelências que as comandam para compensar a proibição das doações de empresas. Um passeio pelas prestações de contas entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dá a exata dimensão de como.
O valor da despesa, 19 mil reais, é baixo se comparado aos milhões do fundo partidário. Mas levanta uma questão: qual é o interesse público em caçar grampos? Evitar investigações da PF ou espionagem de adversários? O fato é que a despesa foi paga com recursos do fundo partidário. A nota fiscal, emitida pelo Instituto Brasileiro de Peritos é, como costuma ser no ramo da inteligência, genérica. “Prestação de serviços especializados em vistoria e avaliação da integridade e segurança dos recursos informáticos, ambientais e das telecomunicações”. O partido diz que os serviços foram prestados entre fevereiro de 2016 a fevereiro de 2017. A nota fiscal, contudo, é só de maio de 2017 – ou seja, 15 meses após o início do serviço.
No PT, o fundo partidário rendeu uma boquinha para a ex-presidente Dilma Rousseff. Quando a petista sofreu o impeachment, em 2016, uma das justificativas para não cassar seus direitos políticos – como determina a Constituição – foi a de que ela ficaria inviabilizada financeiramente, com uma aposentadoria de 5 mil reais. Longe do Planalto, do poder e da megaestrutura oferecida na Presidência, Dilma de fato não vive mais o luxo dos banquetes oficiais, mas segue uma vida confortável – também com dinheiro público. A ex-presidente recebe salário de 17 mil reais da Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT. Na prática, sua função é a mesma que teria com ou sem cargo: defender seu governo e o partido. Os pagamentos mensais para a ex-presidente saem do caldo do fundo partidário despejado nas contas petistas. Dinheiro público, portanto. E não é só.
Já no MDB de Michel Temer e do pré-candidato Henrique Meirelles, quem aparece como beneficiário da farra com o dinheiro do contribuinte é Elsinho Mouco, o marqueteiro do presidente – o mesmo que ensaiou lançar, a propósito dos dois anos de governo, o primoroso slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. O publicitário trabalha há anos para Temer. Desde 2017, para formalizar sua relação com o Planalto, ele foi contratado como diretor da Isobar, agência que detém desde 2015 um contrato para cuidar da comunicação digital da Presidência. O pedido foi feito pelo próprio governo, que providenciou uma sala para Mouco no Planalto. Embora receba da Isobar, o marqueteiro também ganha do partido do presidente. Ou seja: ele ganha duas vezes. Do partido, foram 660 mil reais no ano passado. A maior parte foi a título de “consultoria publicitária”, algo como 50 mil reais por mês.
Mouco é mesmo um sujeito de sorte. Em agosto do ano passado, o MDB contratou por 190 mil reais uma empresa para lançar um concurso que escolheria a nova marca do partido. O prêmio seria de 30 mil reais para o vencedor. A ideia, porém, ficou pelo caminho – os caciques do partido acharam melhor não inovar tanto assim. A marca ficou a mesma, com uma solução trivial: saiu o “P” do MDB. Quase três meses antes da ideia da campanha, o marqueteiro de Temer já tinha recebido 60 mil reais para tratar da nova marca. E quem pagou, como nos demais casos, foi você, seu azarado.
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