Clara Gouvêa/UOL/Folhapress

“É preciso ter paciência”

Luciano Bivar, presidente do PSL de Jair Bolsonaro, defende que os parlamentares do partido tenham mais calma ao cobrar cargos, reclama do fogo amigo de Olavo de Carvalho e garante que o apoio de sua bancada à reforma da Previdência será integral
25.01.19

Há mais de duas décadas na política, o empresário pernambucano Luciano Bivar é dos poucos deputados eleitos pelo PSL com larga experiência nos salões de Brasília. Presidente do partido que elegeu Jair Bolsonaro, ele abriu mão do comando do posto temporariamente, para dar lugar a Gustavo Bebianno, braço-direito do então candidato ao Planalto. Era uma exigência de Bolsonaro, que queria ter, ele próprio, o controle da legenda durante a campanha. Sabedor de que eram grandes as chances de a candidatura sair das urnas vitoriosa, Bivar topou. O acordo poderia significar um salto importante para o PSL. Deu certo. O partido nanico e com baixíssima representatividade até então não apenas ganhou a Presidência da República como elegeu a segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados (em 2014, havia conseguido eleger apenas um).

De cara, a expansão garantiu uma fatia expressiva do fundo partidário: neste ano, o PSL receberá cerca de 110 milhões de reais, 17 vezes mais do que em 2017. Bivar, que retomou a presidência da legenda um dia após o segundo turno das eleições, é quem vai controlar esse caixa. O empresário de 74 anos, dono de firmas de seguro, também terá a tarefa de organizar minimamente sua novíssima e inexperiente bancada. Nesta entrevista a Crusoé, Bivar chamou de exagerado o fogo amigo sofrido pelos deputados do PSL que aceitaram um convite do governo chinês para ir a Pequim. Para ele, os ataques desferidos por Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro e de uma parte de seus apoiadores, foram um “desatino”. Carvalho chamou de “semianalfabetos” e “bando de caipiras” os parlamentares da caravana convidada pelos chineses. Eis os principais trechos da conversa.

Como o sr. recebeu as críticas, inclusive de aliados, à viagem que parlamentares eleitos pelo PSL fizeram à China?
Esses parlamentares não devem nenhuma satisfação antes da posse à Câmara Federal sobre as razões pelas quais estão saindo do País. Não devem satisfação nem ao próprio partido. Além disso, foi um movimento particular de alguns integrantes, juntamente com outros parlamentares de outros partidos, que foram convidados pelo governo chinês. Fizeram uma visita, uma coisa absolutamente normal. A China é um grande parceiro do Brasil. Está aí o sentimento do nosso presidente agora em Davos, dizendo que o Brasil está aberto para fazer negócios com o mundo inteiro, sem qualquer viés ideológico. E a China, mais do que qualquer outro país, é um parceiro comercial importantíssimo. Achei a repercussão muito exagerada. Acho que fizeram uma tempestade em copo d´água. Não havia motivo para ter uma reação dessa magnitude.

Olavo de Carvalho chamou os parlamentares da comitiva de “semianalfabetos” e de “bando de caipiras”.
Toda pessoa no mundo tem chance de ter cinco minutos de desatino. Acho que aquilo foi um desatino do Olavo de Carvalho. Uma coisa absolutamente despropositada. Lamento muito, porque é uma pessoa que a gente considera, mas aquelas declarações fugiram do campo da estabilidade emocional.

A maioria dos deputados do PSL estará em primeiro mandato. A falta de experiência política pode atrapalhar?
Não acredito, porque a bancada do PSL, sem qualquer demérito a qualquer outra bancada, é qualificada. Não vai ser um problema de ordem regimental que vai criar dificuldades. Nossa bancada é formada por agentes federais concursados, generais, sociólogos, jornalistas, advogados. Com pouco tempo, essas pessoas podem dominar o aspecto regimental da Câmara. A gente vai compor com uma assessoria igualmente qualificada, e isso vai fazer com que a bancada do PSL seja diferenciada da tradição que tem hoje a política brasileira.

Não é uma jogada arriscada escolher um deputado de primeiro mandato para ser líder do governo na Câmara?
O Hugo (Major Vitor Hugo, deputado eleito pelo PSL de Goiás) é um técnico legislativo já há quatro anos, formado, concursado, conhece bastante o regimento da Câmara. É um rapaz com formação em direito. Mais da metade da Câmara será composta por novos deputados, mas tenho absoluta convicção que, nesse governo do Bolsonaro, vai prevalecer o bom senso, independente de cor, raça, se é novo, se é velho. Acho que as pessoas mais velhas são até viciadas, porque têm relacionamentos antigos que foram promíscuos e aos quais fica difícil até de se contrapor. Um deputado novo já tem essa vantagem. Ele parte de zero.

Por que houve tanto bate-cabeça entre os deputados eleitos pelo PSL nos últimos meses?
Estamos ainda sem teto, organizando nossas instalações. E, por isso, nossas discussões, neste momento, têm sido públicas, em grupo de WhatsApp. Todos nós protestamos quando isso vaza, mas a gente não tem outro meio de se comunicar. Você sabe que essa tecnologia de hoje é vulnerável.

Mas e as discussões?
As discussões são interna corporis. São normais. Mas elas transcendem e vão a público e parece que só nós fazemos isso. No caso do PT, por exemplo, houve quase agressão física pelo fato de a Gleisi Hoffmann ter ido à posse do Maduro. E não se tem conhecimento disso. Foi entre quatro paredes.

Diego Nigro/JC Imagem/FolhapressDiego Nigro/JC Imagem/FolhapressCom Bolsonaro: Bivar cedeu o partido ao ex-capitão e agora colhe os dividendos
Alguns deputados do PSL reclamam nos bastidores por não conseguirem emplacar aliados em cargos do governo. A que se deve isso?
As reclamações por falta de espaço são sempre naturais, porque cada município, cada estado, é uma aldeia. E muitos deles trabalharam muito em favor do presidente, em favor da ideia, em favor do partido. De repente, quando eles veem alguém que é nomeado, sem terem sido consultados, há um sentimento de desconforto no começo. Isso é natural, mas vamos nos adequando. Um pouco de paciência e cautela não faz mal a ninguém. Mesmo porque tem gente que ajudou na eleição do presidente, mas que não está qualificada para exercer esse ou aquele cargo. Então, toda a bancada tem que ter paciência, tem que ter consciência disso aí.

O sr. considera que o PSL está bem contemplado neste início de governo?
Nenhum deputado do PSL tem dificuldade de falar com esse ou com aquele ministro. A facilidade é muito grande. Conheço governador que quer falar com o presidente já faz um mês e não consegue. Nenhum deputado do partido pede hoje para não ser atendido amanhã. Não sei o que você entende como contemplado, mas o PSL tem o presidente da República. Então, o partido jamais vai ser desprestigiado pelo governo quando ele tiver pessoas adequadas para determinados postos.

Como vê a atuação dos filhos do presidente em relação ao governo?
Acho que a atuação dos filhos do presidente são até tímidas. Nenhum deles é líder do governo, nenhum deles procura ser do primeiro escalão, com ministério. Eles estão exercendo os cargos deles como parlamentares e têm todo o direito de dar suas opiniões. Agora, o pecado deles é que são filhos do presidente. Mas isso a gente tem que entender. Vejo-os até com um certo recato.

Alguns integrantes do PSL reclamam de tuítes do vereador Carlos Bolsonaro, como aquele que levantou suspeitas sobre “pessoas próximas” que estariam interessadas na morte do presidente.
Não vejo  ele levantar suspeitas no Twitter contra A, B ou C.

As investigações que envolvem o senador eleito Flávio Bolsonaro podem fragilizar o governo?
Há uma exploração imensurável com relação a esse caso. Mas ele é pontual, não tem nada a ver com o governo. Por outro lado, as instituições do nosso país funcionam plenamente, são independentes. Elas não têm quaisquer amarras. Então, o que for será. Eu, particularmente, acho que é um caso absolutamente sem qualquer fundamento. Hoje, o sistema é viciado. Como é que pode um deputado nomear 25 cargos para o gabinete, se é que precisa de 25 cargos? Todos preenchem a cota porque cada chefe de gabinete aproveita para botar pessoas que façam políticas voltadas para a próxima eleição. Você está na mão de quem seleciona, porque eu não seleciono o meu assessor legislativo, quem faz isso é o chefe de gabinete. Se ele contratar alguém que não combina, como posso ser responsabilizado por isso individualmente?

Divulgação/PSLDivulgação/PSLO presidente do PSL, que ocupou uma vaga na Câmara entre 1999 e 2003, voltará a ser deputado em fevereiro
O senhor está se referindo à contratação da mãe e da filha de um acusado de ser chefe de milícia no Rio. Mas há também a investigação do MP sobre a suspeita de que havia um “esquema rachid” no gabinete.
Sobre essa suspeita ele já falou. Disse que não existiu no gabinete dele. Ninguém melhor do que ele para informar isso. Não vi nenhuma declaração de alguém dizendo: “não, parte do meu salário eu passei para o deputado”. Não tem nenhum depoimento nesse sentido, muito menos prova. A gente não pode usar a ilação.

E quanto ao cheque de 24 mil reais depositado por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro?
Quando se criou o Coaf, há 12, 14 anos, já fui contra, porque o Coaf é feito para vigiar as transações financeiras, desde que haja autorização do Poder Judiciário. Eu disse que isso cheirava a regimes totalitários. É um sistema que está muito para Big Brother e que, para limpar o que é sujo, atinge o que é puro. Isso é muito ruim. O cara era motorista, gozava de uma confiança pessoal. Os Bolsonaro são muito simples. Não distinguem muito os relacionamentos. Tratam todos da mesma maneira. Então, esse empréstimo, o cara chega lá e diz: “olha, estou precisando de 40 mil reais, porque vou comprar um carro novo”. Eu já fiz muito isso. Não sei se fiz para alguém do meu gabinete, mas emprestei muito dinheiro. E nem sei quando é que paga. Falo para minha secretária cuidar. O cara não está ali para fazer agiotagem. Está ali para ajudar.

Alguém que movimentou mais de 7 milhões de reais em poucos anos precisaria de um empréstimo de 40 mil reais?
Olha, o Lula movimentava bilhões e bilhões. Aí, para comprar uma granjinha lá não sei onde, que custava uma besteira, ele preferiu tomar uma propina. Quer dizer, dinheiro nunca é demais. Quando o cara gosta de fazer negócio, está sempre pedindo emprestado. Sei porque sou empresário. Tua mulher às vezes fica metendo a mão na tua carteira, quando tu vai ver a caderneta de poupança dela, está cheia de dinheiro (risos). Essa é a natureza humana, rapaz.

O senhor colocaria a mão no fogo por Flávio Bolsonaro?
Olha, não sei a que fogo você se refere. Mas eu acredito. Se fosse um juiz de Direito e se ele estivesse na minha frente, com essas informações que se tem hoje, eu o absolveria plenamente, convicto, sem nenhum problema de consciência.

Quantos votos o PSL dará para aprovar a reforma da Previdência?
100% dos votos.

Mesmo havendo na bancada vários militares e funcionários públicos, categorias que têm resistido à reforma?
Discutimos isso amplamente. A reforma ainda não está pronta para ir ao forno. Mas o sentimento é de desprendimento até entre os próprios militares. Eles estão conscientes desse necessidade, a começar pelo nosso vice-presidente, Hamilton Mourão.

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