LeandroNarloch

Bom e ruim ao mesmo tempo

25.01.19

O governo Bolsonaro é um gin tônica com coentro. É como o Rio de Janeiro: muito bom e muito ruim ao mesmo tempo. O governo Bolsonaro é um chinelo crocs: cai bem, dá uma sensação deliciosa de conforto – mas exala uma cafonice…

Eu sei: ainda não faz um mês que o homem está no governo; não teve tempo de mostrar resultado. Meu ponto é o perfil dos ministros. Superstars convivem na Esplanada com quem acabou de passar no teste para figurante. Cavalos alados participam de reuniões ministeriais com rinocerontes a la Ionesco.

Paulo Guedes, por exemplo, não é só um ministro, é uma benção para o Brasil. Planeja, além da reforma da Previdência, uma mudança radical da gestão de funcionários públicos para poder demiti-los por baixo desempenho. Quer reduzir o número de carreiras (hoje em mais de 300) para facilitar a transferência entre cargos. Seu ministério aproveitou o melhor do governo Temer (Mansueto Almeida) e atraiu gente séria como Salim Mattar, dono da Localiza, que ficará a cargo das privatizações e da venda de patrimônio imobiliário.

Mas se Guedes é motivo de admiração, Damares Alves, ministra dos Direitos Humanos, é motivo de chacota. Sobra muito pouco ali além do discurso careta de igreja neopentecostal e da luta contra inimigos imaginários. Damares dá tanta vergonha alheia quanto Mercadante como ministro da Educação ou Aldo Rebelo quando ministro da Ciência e Tecnologia.

Em compensação, há Sérgio Moro no time de estrelas. O herói que botou Lula na cadeia se mostrou muito mais que um juiz de primeira instância. Sabe o que precisa dizer em entrevistas, é cuidadoso e inteligente ao lidar com a imprensa. Jogou água na histeria da esquerda ao deixar claro, desde a primeira coletiva, que o governo obviamente protegeria minorias. Conhece a Justiça brasileira e tem ideias precisas para a segurança pública.

Diferente do ministro da Educação. Até meses atrás, educação sequer era a especialidade do teólogo e filósofo Ricardo Vélez Rodríguez. Ainda hoje, parece que Vélez está tentando entender como a administração federal e o ministério funcionam, e que negócio é esse de educação pública. A nomeação de blogueiros e similares para cargos relevantes do ministério é sintoma que o ministro tem ideologia demais, ideia de menos.

E há o ministro das relações exteriores. Gosto da ideia de um chanceler à direita, que confronte organizações de esquerda (como o governo Maduro, o PT, a ONU), e que mude a embaixada de Israel para Jerusalém. Mas Ernesto Araújo, como chanceler, está se saindo um excelente blogueiro. Enquanto Paulo Guedes e Sérgio Moro anunciam precisamente o que vão fazer, Ernesto, o gongórico, o esbanjador de eruditismo, escreve à Bloomberg sobre o parágrafo 5.631 do “Tratactus Logico-Philosophicus” de Wittgenstein, para depois afirmar: “Eu não gosto de Wittgenstein”. Me desculpe, senhor chanceler, mas os brasileiros não estão muito interessados na sua opinião sobre filosofia da linguagem.

Se o governo Bolsonaro fosse um programa de humor (e às vezes parece), seria como se Larry David e Jerry Seinfeld aceitassem atuar em “Praça é Nossa”. Uma mistura estranha entre gênios, iniciantes e fanfarrões.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO