RuyGoiaba

O cinema não está morto, mas o Brasil ainda há de matá-lo

18.01.19

Você, leitor de Crusoé e viciadinho em política nacional, essa coisa mais nociva do que crack: gosta de cinema? Se sim, já sabe que vários filmes concorrentes ao Oscar serão lançados no Brasil daqui até 24 de fevereiro, data da cerimônia nos EUA – alguns deles, como “Roma”, já podem ser vistos por quem assina serviços como a Netflix.

Ou seja, no próximo mês veremos a habitual lenga-lenga sobre como Hollywood agora se preocupa com a diversidade, sobre a celebridade X ou Y dizendo algo que a fará cair em desgraça entre seus pares, sobre a vitória do cineasta mexicano Z como desafio ao governo Trump etc. É a “festa do cinema” em que o cinema é totalmente secundário – a não ser em categorias como Melhor Filme Estrangeiro, que às vezes, talvez por descuido, até premia filme bom de verdade.

Foi justamente para ajudar você, leitor, a separar o joio do trigo – e jogar o trigo fora — que escrevi este guia para responder às mais cruciais perguntas sobre cinema. Asseguro que, ao final da leitura, você se converterá num verdadeiro amante da sétima arte, no mesmo nível de Rubens Ewald Filho dizendo que o vestido de alguma das atrizes “deixa muito a desejar”. Vamos lá:

1. O cinema está morto?

Ainda não, apesar dos melhores esforços de Jean-Luc Godard e da maioria dos cineastas brasileiros. Mas eles são perseverantes e vão conseguir um dia.

Aliás, adoraria escrever uma biografia do Godard só para poder usar o título “Matou o cinema e foi pra galera”.

2. Se o cinema é a ‘sétima arte’, quais são as outras seis?

Segundo a classificação de @jottape no Twitter: sinuca, PowerPoint, carros rebaixados, memes, parkour e manejo de máquinas agrícolas.

Mas há controvérsias. Eu incluiria escultura com garrafas PET e talvez aquele solinho de sax que abre “Careless Whisper”, do George Michael.

3. Quais prêmios o cinema brasileiro já ganhou?

O Brasil já ganhou o Grande Prêmio da Culpa Burguesa –com aqueles filmes, de Walter Salles e outros menos votados, cheios de gente pobrezinha muito pura e muito sábia — e o Troféu de Nome Mais Ridículo Já Dado a um Prêmio em Todos os Tempos, vencido com louvor pelo Kikito do Festival de Gramado.

(Outros países têm Palma de Ouro, Leão de Ouro, Urso de Ouro; a gente tem o Kikito, que parece nome de cabeleireiro em algum subúrbio nos cafundós do Rio. “Ai, amiga, só confio no Kikito pra fazer luzes no meu cabelo!”)

O país também já foi campeão de Melhor Adaptação de Merda de Algum Texto do Nelson Rodrigues, mas não disputa esse torneio já faz alguns anos.

Continua imbatível, no entanto, nos quesitos Filme com Jegue, Filme com Traficante e Filme com Sotaque Baiano Fake.

4. Ser mexicano aumenta as chances de ganhar um Oscar?

Sim, se você for Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro ou Alejandro González Iñárritu; não, se você for o Cantinflas ou o Chapolim Colorado.

Dá mais chances, porém, de você ser personagem de algum texto idiota dizendo que sua vitória vai “tirar o sono de Trump” e “pode até causar um incidente diplomático sem procedência” (em vez de “precedência”). Como se os mexicanos não tivessem ganhado quatro dos últimos cinco Oscars de melhor diretor – sem efeito algum sobre o tuiteiro alaranjado que manda lá na Casa Branca.

5. Quais os requisitos para apresentar o Oscar?

Não ter votado nos republicanos e nunca ter dito besteira em entrevista ou postado bobagem no Twitter, Facebook, Instagram etc., o que deve excluir de cara 90% dos potenciais apresentadores.

Hoje, parece mais fácil preencher os requisitos para ser canonizado pela Igreja Católica – até porque Deus perdoa, mas as redes sociais não.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Nesta semana, o trófeu vai para o bate-boca entre Olavo de Carvalho e os parlamentares eleitos do PSL que foram para a China. O primeiro, fiel a seu estilo, chamou os segundos de “idiotas” e “palhaços” (“e eu sou guru dessa porcaria? Não sou guru de porra nenhuma”). Um dos “palhaços”, Carla Zambelli, já respondeu que “pelo menos” mora no Brasil, não deve sua eleição ao guru etc.

Na verdade, a própria “polêmica” é made in China. Baratinha, mas quebra na segunda vez que você usa ou se rasga na primeira lavada.

Reprodução/YoutubeReprodução/YouTubeOlavo de Carvalho, “guru de porra nenhuma”, pontifica em sua casa nos EUA

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO