Adriano Machado/CrusoéO chefe da Secretaria-Geral da Presidência em seu segundo dia de trabalho no Planalto: lealdade canina ao chefe

O outro pitbull de Bolsonaro

Gustavo Bebianno, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, diz que Sergio Moro pode virar ministro do Supremo, mas também é um “belo nome” para suceder o atual presidente
04.01.19

Gustavo Bebianno é uma espécie de pitbull honorário de Jair Bolsonaro. Assim como o filho Carlos — o pitbull oficial, segundo a própria família–, ele se diz disposto a matar e morrer pelo presidente. Por muito tempo, o advogado carioca de 55 anos, lutador de jiu-jitsu, buscou se aproximar de Bolsonaro. Foram muitas tentativas até o dia em que, durante um compromisso do então deputado no Rio de Janeiro, ele conseguiu chegar perto para uma conversa. Deu liga. Àquela altura, a Presidência da República era um sonho ainda distante, mas ambos viam chances reais de torná-lo realidade. Aos poucos, Bebianno foi se credenciando como um dos homens de confiança do ex-capitão. Uma vez consolidada a relação, abandonou a banca de advocacia em que trabalhava para dedicar-se integralmente ao projeto de alçar Bolsonaro à cadeira mais importante do Palácio do Planalto. Na campanha, teve papel decisivo: ajudou nas finanças e na articulação política ao mesmo tempo em que funcionava como uma espécie de secretário particular do candidato. Com a vitória no horizonte, chegou a ser cotado como possível ministro da Justiça. Mais tarde, com o convite a Sergio Moro, acabaria perdendo o posto. Mas ganhou outro. Foi convidado a assumir a Secretaria-Geral da Presidência, com a missão de modernizar a máquina estatal e aproximar o governo da população. Hoje, Bebianno ocupa um gabinete logo acima do de Bolsonaro, no quarto andar do Planalto. Em sua primeira entrevista exclusiva após assumir o cargo, ele apontou o colega Moro como um “belo nome” para suceder o próprio Bolsonaro e falou sobre o papel dos filhos do presidente, que não o veem com bons olhos, no governo recém-empossado. A seguir, os principais trechos.

O sr. gostou da decisão do PSL de apoiar a reeleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara?
Acho que o Brasil tem que estar acima de quaisquer diferenças do passado. Vejo com bons olhos. Ruim seria uma interferência muito explícita e intensa por parte da Presidência da República (na eleição para o comando da Câmara). Todas as vezes em que vimos esse tipo de tentativa, acabou terminando mal. Tomando conhecimento hoje, de forma muito superficial, não tive oportunidade ainda de conversar com o presidente Luciano Bivar, também não tive oportunidade de conversar com o presidente Jair Bolsonaro, mas vejo com bons olhos. O presidente Rodrigo Maia já está afeito às rotinas da Casa e tem comandado a Câmara de forma correta, ao meu ver. Isso pode ser muito benéfico para os objetivos do governo, o que inclui a reforma da Previdência e tantos outros temas polêmicos que, tendo o apoio do presidente da Casa, sempre ajuda.

O PSL poderia, ele próprio, lançar um candidato?
O PSL cresceu muito e tem vida própria. Nosso trabalho é para que o PSL permaneça sempre alinhado ao governo. Afinal de contas, dos deputados ali eleitos, a maioria conquistou seu mandato por causa da bandeira de Jair Bolsonaro. Então, esperamos fidelidade desses deputados e alinhamento ideológico de propósitos. É legítimo que o PSL, como a segunda maior bancada, tivesse as suas aspirações à presidência da Casa, mas o presidente deixou claro desde o início que não se envolveria nisso e que esse processo de eleição andaria por si só.

O apoio a Maia não significa uma aliança com a “velha política”?
Temos que ter maturidade para a gestão do país. Não se pode imaginar que vá haver uma ruptura ampla com a realidade de Brasília. O jogo político exige conversas, aliados, troca de ideias. O jiu-jitsu tem um lema que é: ceder para vencer. Na política é muito importante que se saiba o momento de ceder. Não estou dizendo que tenha existido aqui, mas, por analogia, dá para captar o que eu quero dizer. Uma coisa é você falar, outra coisa é você ter o comando do país nas suas mãos e precisar da aprovação de medidas que são importantes. A velha política é o toma lá dá cá, condicionar a aprovação de determinados temas à troca de benesses, sejam elas quais forem. Isso não aconteceu e não acontecerá no governo do presidente Jair Bolsonaro. O que houve, pelo que percebo, foi simplesmente uma medida estratégica que acho positiva.

Como o governo pretende se relacionar com o Congresso sem o toma lá dá cá que reinou por tantos anos? Já há insatisfações até mesmo no PSL.
Na verdade, muitas vezes as pessoas têm ansiedade em fazer valer seus interesses, suas perspectivas. Mas o governo começou agora. A coisa vai ganhar velocidade, harmonia, com o passar do tempo. Não temos essa pretensão de controlar o Congresso. A relação tem que ser a melhor possível. Os deputados merecem respeito, têm que ser ouvidos sempre. E algumas insatisfações de que se tem registro são muito por causa dessa expectativa.

Como enxerga a presença de tantos militares no primeiro escalão do governo?
Minha avaliação é extremamente positiva. Um governo que com influência do universo militar já tem uma grande vantagem de ser um governo constituído por patriotas acima de tudo, por pessoas que têm amor ao Brasil, não olham para si, para os seus interesses pessoais e sim para os interesses da nação. Além disso, os militares são muito preparados. Ser aprovado na Aman (a Academia Militar das Agulhas Negras, que forma oficiais do Exército) é dificílimo. Concluir o curso é mais difícil ainda. São pessoas que têm estratégia, estão acostumadas a lidar com momentos de adversidade.

Qual será o tamanho da influência dos militares? Há quem diga que eles terão mais influência do que a própria área política.
A coisa é bem combinada, bem temperada. Eu mesmo escolhi dois militares para trabalhar na Secretaria-Geral: o general Santa Rosa, que é um ícone dentro das Forças Armadas, e o general Floriano Peixoto, que também é um homem de muita experiência. Foi uma escolha minha, para que eu me sentisse até seguro no andar dos trabalhos. Porque é muita coisa, muita gente, muito problema o tempo inteiro. Então, é preciso uma equipe forte e confiável, e minha base hoje é em cima de dois generais. Tenho aqui advogados, executivos, mas eu tenho ali como meu braço direito e esquerdo dois generais. Os militares fazem parte da nossa sociedade. E têm muito a somar em termos de organização e disciplina. Veja a China. Em cada passo que dá, a China está olhando 50 anos para frente. O Brasil não tem essa cultura estratégica. As coisas são feitas sempre para atendimento a interesses imediatos e, muitas vezes, interesses privados. Acho que os militares vão combinar bem com esse governo.

Durante a formação do governo, houve uma disputa por espaço entre as alas militar e política.
É natural que haja disputa. Isso existe na iniciativa privada.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/Crusoé“Sergio Moro tem envergadura para qualquer coisa”, diz Bebianno
E, afinal, quem Bolsonaro escuta mais?
Ele escuta a todos. Ele escuta muito o ministro-chefe da Casa Civil, o Onyx Lorezoni, escuta muito o general (Augusto) Heleno (ministro do GSI), escuta o general Santos Cruz (ministro da Secretaria de Governo), escuta o Paulo Guedes.

E qual será o tamanho da influência do ministro da Justiça, Sergio Moro?
O ministro Sergio Moro é acima de tudo um patriota, tão ou mais que qualquer militar. Um homem que coloca sua vida, sua integridade física em risco por conta de uma postura correta no cumprimento da sua missão. Então é um homem que merece respeito, um homem de muita valentia e que vai desempenhar um papel técnico, analisando toda a estrutura do Ministério da Justiça, aquilo que pode ser unificado em termos de informação e de inteligência para que se combata o crime organizado.

E quais são os planos futuros de Bolsonaro para Moro? Ele irá para o Supremo?
O trabalho nem começou. Mas acho que o ministro Sergio Moro tem envergadura para qualquer coisa: para o Supremo, para o Executivo. Ele tem luz própria, fez sua própria história, é um nome respeitadíssimo que a população brasileira apoia e reconhece.

Na negociação para Moro ser ministro, Bolsonaro se comprometeu a indicá-lo para o STF?
Acho que é o caminho natural para ele, no futuro, ingressar na Corte Suprema do país. O ministro Moro tem relevantes serviços prestados ao país. Essa gama será amplificada agora com o poder que ele tem. É um homem que tem notório saber jurídico. É natural que ele ingresse, em algum momento, no Supremo Tribunal Federal.

Mas houve alguma sinalização de que seria indicado para o Supremo futuramente?
Houve uma conversa nesse sentido, sim. Não tenho esse detalhe específico para dizer se houve uma garantia ou não. Um aceno, sim. Como eu disse, é o caminho natural.

Moro poderá ser o sucessor de Bolsonaro, caso o presidente não tente a reeleição?
Talvez. Por que não? O presidente Jair Bolsonaro cogita fortemente a hipótese de não concorrer à reeleição, desde que haja para isso um posicionamento muito firme por parte do Congresso em relação à aprovação de uma PEC nesse sentido. Seria, digamos, um preço político que ele estaria disposto a pagar. Caso realmente ele não seja candidato à reeleição, o ministro Sergio Moro seria um belo nome.

A atuação dos filhos do presidente poderá prejudicar o governo?
Todos eles tiveram, até aqui, um papel muito importante, cada qual em um segmento. O deputado Eduardo é um rapaz de extremo valor, muito estudioso, um patriota, tem preocupação legítima em relação ao país. Acho que, como o deputado federal mais bem votado da história, tem legitimidade para atuar no universo político. O Carlos Bolsonaro foi uma peça fundamental para a eleição do presidente, desenvolveu um trabalho magnífico nas redes sociais, um instrumento novo, um ingrediente novo, pelo menos aqui no Brasil, em termos de campanha. E eu acho legítimo que eles tenham essa proximidade com o governo. O próprio Flávio, eleito senador agora… Cabe ao presidente eleito determinar limites. Não me compete esse tipo de julgamento.

Os excessos dos filhos, inclusive os retóricos, nas redes, podem atrapalhar o governo?
Acho que excesso de qualquer pessoa pode ser prejudicial. Não identifico excesso por parte de nenhum deles. Até agora. E excesso qualquer um pode cometer. Eu posso cometer.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéMudança, mas com limites: “Não se pode imaginar que vá haver uma ruptura ampla com a realidade de Brasília”
Que limites o sr. acha que o presidente deveria estabelecer?
Não digo que seja bom estabelecer. Disse que compete a ele estabelecer, no momento em que ele achar, se ele achar. É uma atribuição que compete ao presidente.

As explicações que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro deu sobre as transações suspeitas apontadas pelo Coaf convenceram?
Não assisti a essa entrevista ainda. Estou com o link para assistir, ainda não tive tempo. Acho que ele tem que prestar os esclarecimentos. Não tenho contato algum com esse ex-assessor. O que a mim interessa é aquilo que diz respeito ao presidente da República.

Houve um cheque depositado por esse assessor, Fabrício Queiroz, na conta da primeira-dama.
Em relação a isso, ele já esclareceu que foi um empréstimo que fez, que ele recebeu dez cheques de 4 mil reais.

Alguém que movimentou 1,2 milhão de reais em um ano precisa de empréstimo?
Não sei. Porque, na verdade, não foi feito um único empréstimo até onde eu sei. Houve uma sucessão de pequenos empréstimos. Até onde eu sei é isso. Não conheço muito bem o assunto. O que posso dizer é que qualquer esquema ilegal não seria feito por cheque, seria feito por dinheiro vivo. O presidente Jair Bolsonaro já deu a explicação que lhe cabia e não tenho elementos novos para dar.

Se o filho do presidente estiver envolvido nessas operações, o governo não acaba atingido também?
Acho que não envolve o filho dele de maneira alguma. O Queiroz tem que dar as explicações dele, vamos aguardar. Como disse, não tenho contato com ele, não sei o que ele tem para dizer. Mas o Flávio é uma pessoa extremamente correta.

Acredita na inocência de Flávio Bolsonaro nesse caso?
Confio plenamente.

Qual será o papel do empresário Paulo Marinho, seu amigo, no governo?
O Paulo é um amigo que colaborou na eleição. Teve um papel importante. Tínhamos muita dificuldade de caixa. Nossos recursos eram muito poucos para a campanha. Ele mora numa casa muito grande e fez a gentileza de ceder um pequeno espaço para que fosse improvisado um estúdio. Ele colaborou, foi um ativista ao longo da campanha. E é isso. O papel dele para por aí. Ele é primeiro suplente do senador Flávio, foi agraciado com essa suplência, mas nunca houve nenhuma conversa de que teria alguma participação no governo. Isso nunca nem foi cogitado.

O senhor sempre diz que não é da política. Até que ponto está disposto a engolir sapos para continuar no governo?
Olha, tenho engolido vários sapos, de todos os tamanhos e sabores. O dia de amanhã a gente nunca sabe. O que garanto é minha lealdade ao presidente, minha fidelidade a ele. Se em algum momento algo for intransponível para mim, a conversa será leal da mesma forma.

Qual será o foco de atuação da Secretaria-Geral da Presidência?
A área da saúde, inicialmente, porque quem sente dor não pode e não deve esperar. Temos como foco o Rio de Janeiro, que concentra ainda uma grande estrutura federal na área da saúde. São seis hospitais mais os institutos. Pretendemos começar por ali, fazer um processo de saneamento. Em algum momento pode até se falar em privatização. Mas agora é preciso tornar cada instituição eficiente, para que o serviço chegue lá na ponta ao cidadão, com qualidade, de forma acessível, fácil. Pretendemos transformar o Rio de Janeiro em um paradigma para o Brasil.

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  1. Houve 2 infelicidades nesta entrevista: 1) O título: na GloboNews e nesta entrevista não há vestígios de que Bebianno é um “pitbull”. Ele mostra uma lealdade condicional a Bolsonaro. Protege, mas não a qualquer custo. 2) Apoio à Saúde no RJ: Bebianno é do RJ, Bolsonaro era deputado eleito pelo RJ. A justificativa de que lá ainda há muitas instituições e servidores federais pode esconder uma certa preferência para recursos federais.

  2. Acho que esse cara não dura. Só de dizer que vai priorizar a saúde do RJ, como se o Bolsonaro tivesse sido eleito governador do estado, já mostra a falta de noção. Aí dizer que quer sanear a saúde para depois privatizar, mostra ignorância. Se tá ruim e a intenção é privatizar, privatiza de uma vez. Não fica gastando tempo e nosso dinheiro com isso.

  3. Adorei a reportagem e adoro a isenção com que Crusoé tem feito suas reportagens. Embora alguns reclamem da linguagem eu gosto muito. Acho que os direitopatas estão com muito mimimi

  4. Tomara que mantenha a lealdade demonstrada na entrevista! E sem Paulo Marinho!!! Mas nossos protagonistas não dormem de olhos fechados...E dr. Moro SEMPRE será certo para qualquer cargo, em muitos países!!! Como acertadamente disse o entrevistado , ele tem luz e capacidade próprias...

    1. Não acho correto o titulo da reportagem. É meio despreparado, coisa chula. Acredito que o nível gramatical deve melhorar na CRUSOÉ. Até porque os assuntos tratados foram de ótimo nível. Muito bem respondidos, bom esse Bebiano.

    1. Não acho correto o titulo da reportagem. É meio despreparado, coisa chula. Acredito que o nível gramatical deve melhorar na CRUSOÉ. Até porque os assuntos tratados foram de ótimo nível. Muito bem respondidos, bom esse Bebiano.

  5. A briga de foice no PSL é aberta: Joyce X Mj Olímpio, E. Bolsonaro X Joyce, Bebiano X Irmãos Bolsonaro, etc. É um partido jejuno que já caiu nas mãos dos políticos profissionais. Maia, Marun e, futuramente, Renan, notaram a fraqueza do PSL pelo cheiro. Afinal, são profissionais. Vão deitar e rolar. Sabem perfeitamente que um partido em que uma das figuras de proa é o Alexandre Frota não tem consistência. Pior é que os eleitos na onda Bolsonaro se acham e nem desconfiam da arapuca armada contra

    1. O pessimismo politico, sobretudo quanto o profissionalismo de Renan Calheiros pode cair assim como caiu todos previsões em relação a Jair Bolsonaro perder no segundo turno

  6. Só não entendi a prioridade que é dada à saúde do RJ na última resposta, porque a situação é muito ruim em todo o Brasil.

    1. Oi Rafael. Pelo fato de ter sido capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, ainda mantém um número grande de órgãos e servidores federais. E olhe que já são quase 60 anos da mudança.

    2. Rafael, como o colega já disse, o Rio concentra vários hospitais e centros de saúde federais em estado de calamidade. Se o Governo resolver o problema do Rio, pode resolver o problema em qualquer lugar do Brasil. Ele decidiu começar pelo mais urgente e complicado. Acho que é uma estratégia válida. Abs!

    3. Obrigado pela explicação. Não obstante, a ressalva que fiz continua pertinente.

    4. Prezado, o Rio por ter sido Capital Federal, possui vários Hospitais e Clínicas ainda na esfera Federal. Hospitais de ponta que foram sucateados. Apenas isso. Abraço.

  7. Vi a entrevista dele na GloboNews e agora essa foi coerente e mais e leal uma virtude difícil de encontrar nesse meio em que todos estão em uma banca ,só esperando a melhor oferta pra se venderem e venderem seus ideais,sendo assim se mantiver essa postura tudo de bom pro presidente e como consequência pro país

  8. Eu não tenho grande simpatia por Bebbiano. Mas o jornalista Igor Gadelha podia ter um vocabulário melhor, mais astuto, e inteligente. Isso aqui não é a Folha de S. Paulo. Ou é? Dá pra fazer melhor do que usar a palavra pitbull. Pobreza sem fim. Vício ou sintoma? A gente merece outro nível.

    1. Concordo plenamente! Pagamos para que tenhamos um vocabulário de direita e não para lermos o que repetem os papagaios de pirata da Globo, Folha ou Estadão! Por favor senhores!

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