Adriano Machado/Crusoé

Devemos manter o rumo certo

28.12.18
Henrique Meirelles

Há ansiedade natural com relação ao próximo ano. Um novo governo assumirá o comando do país e da economia. É compreensível que seja um momento em que as esperanças de um futuro melhor se misturem com muita curiosidade e, como sempre acontece em situações como essa, haja um certo receio do futuro.

O que de fato os brasileiros podem esperar de 2019? A maior recessão da história do Brasil, que destruiu milhões de empregos e devastou a renda das famílias ficou mesmo para trás? A crise pode voltar? O que é preciso fazer para que o país acelere a criação de postos de trabalho, gere e distribua mais riquezas?

Há muitas variáveis nos cenários interno e externo que precisarão ser enfrentadas adequadamente pelo novo presidente e por sua equipe. Apesar da dúvida, há bons motivos para encerrar 2018 com otimismo.

A crise econômica está superada, apesar de isso não ser ainda percebido por grande parte das pessoas. Gradualmente, no entanto, a população notará que a recessão ficou para trás. Já não são mais que páginas do passado os graves erros de política econômica cometidos durante o governo anterior. Eles levaram a uma queda do PIB de 7,2% em dois anos, mas foram corrigidos.

Foi necessário fazer uma mudança de rumos radical em maio de 2016, quando assumi o Ministério da Fazenda. O fim da recessão dependeu do diagnóstico correto das razões da crise, da formação de uma equipe dos sonhos para gerir a economia, de uma injeção de confiança nos agentes econômicos e, claro, de muito trabalho.

Com apoio do Congresso, adotamos medidas para corrigir o rumo das contas públicas. Instituímos o teto de gastos, a reforma trabalhista e a lei de governança das estatais. Apresentamos o projeto de reforma da Previdência e abrimos caminho para aprovação de um projeto que solucione essa que é a chave do problema fiscal.

Eliminamos as iniciativas da gestão anterior que contrariavam as leis do mercado e procuravam arbitrar a taxa de retorno dos investimentos. Deixamos claro que o governo não mais interferiria em decisões empresariais. O apoio aos investimentos privados foi confirmado com a proposta de privatização da Eletrobras.  Ela pode ser concluída em breve, o que melhorará o desempenho do setor elétrico e deixará de ser um problema fiscal.

Com o suporte do Banco Mundial, fizemos um minucioso levantamento de inciativas que podem ser adotadas para aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro. O resultado desse estudo foi sintetizado em quinze propostas de melhoria do ambiente econômico. A maioria delas já está em tramitação no Congresso.

Mantenho contatos frequentes com alguns dos maiores executivos e empresários internacionais. Sei que eles programaram grandes investimentos no Brasil. Os desembolsos foram represados durante o período eleitoral, que, naturalmente, aumenta as incertezas sobre o futuro da economia. Passado esse período, em outubro os investimentos diretos no país superaram 10 bilhões de dólares, melhor resultado em sete anos e muito superior a qualquer previsão do mercado e mesmo do Banco Central.

A economia está crescendo há dois anos. O PIB subiu em 2017, um pouco mais em 2018 e acelerou o ritmo passada a incerteza eleitoral. O Brasil tem tudo para fechar 2019 com o PIB aumentando 3% ou mais. Se isso se confirmar, serão criados 2 milhões de novos postos de trabalho. Ainda não é o suficiente para recuperar todos os empregos destruídos durante a recessão provocada pelo governo anterior, mas estamos na direção certa.

Em economia existem apenas o que a experiência mostra que costuma dar certo e o que certamente dá errado. A boa notícia é que a equipe que assumirá a economia em janeiro sinaliza estar no rumo certo. As indicações são de que manterá as apostas na reforma da Previdência, na redução do tamanho do estado, na abertura da economia, na desestatização, na reforma tributária e no aumento de produtividade do trabalho.

Tem gente competente para adotar as medidas corretas. Com foco e perseverança, é possível dizer que 2019 pode terminar com mais crescimento, emprego e renda.

Henrique Meirelles é ex-presidente do Banco Central, ex-ministro da Fazenda e ex-candidato a presidente da República.

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