RuyGoiaba

Cinco livros para morrer antes de ler

21.12.18

Você é masoquista? Quer romper relações com parentes chatos? Odeia Natal, como o Grinch? Não sabe o que dar àquela pessoa execrável que você tirou no amigo secreto? Quer transformar sua festa de fim de ano numa versão com chester e fios de ovos da briga naquela música de Adoniran Barbosa (“era só pizza que avoava junto co’as braciola?”)

Se você se enquadra em algum dos casos acima, sabe que nenhuma lista com sugestões de presentes natalinos é feita para você. Mas seus problemas acabaram! Esta lista de livros para morrer antes de ler pode ser sua introdução à grande arte de perder amigos e irritar pessoas. E, se você for masoquista, seu deleite será garantido. Vamos a ela:

– Jessé de Souza, “A Elite do Atraso”

O sociólogo Jessé de Souza se tornou um especialista em contos da carochinha para petistas: foi golpe, o PT é lindo, a Globo é malvada, a Lava Jato “faz o jogo do capitalismo financeiro” (ou seja, empreiteiros e banqueiros presos na operação não são “capitalismo financeiro”), a crítica ao populismo “criminaliza” as classes populares etc. É tudo tão absolutamente cretino que o leitor é incapaz de entender como Souza consegue amarrar os sapatos sozinho todo dia –quanto mais ter sido presidente do Ipea. Jessé por Jessé, melhor ficar com o cantor de “Porto Solidão” (“rimas de ventos e velas…”).

– Fernando Henrique Cardoso, “Legado para a Juventude Brasileira – Reflexões sobre um Brasil do Qual se Orgulhar”

O legado do velho sábio FHC é um partido incapaz de defender a própria gestão federal, que apanhou cinco vezes nas últimas eleições presidenciais (quatro do PT e uma de Bolsonaro), encolheu drasticamente na mais recente e teve seu candidato, o Chuchu, queimado pelo próprio FHC, que preferia o apresentador do Caldeirão do Huck. Suspeito que até crack seja menos prejudicial à juventude do que as “reflexões” que o Príncipe da Sociologia Brasileira propõe. Evite.

– Luiz Inácio Lula da Silva, “A Verdade Vencerá: o Povo Sabe Por Que Me Condenam”

Esse é ideal para dar ao seu inimigo secreto. Por mais que ele odeie ler, vai ler só para se irritar. E terá razão: “o povo”, que varreu o petismo na eleição, sabe muito bem que condenam Lula porque ele é corrupto e lavador de dinheiro. Pelo menos há humor –involuntário– nas inúmeras vezes em que o criador de Dilma Rousseff joga a criatura embaixo do ônibus. (Metaforicamente –não como Maninho do PT fez com aquele empresário que protestava no Instituto Lula.)

– Bráulio Bessa, “Poesia Que Transforma”

Bessa, um barbudinho simpático, é apresentado como o poeta que lê suas obras no programa da Fátima Bernardes. Você já pensa “hmm, não deve ser exatamente um João Cabral”. Depois, “poesia que transforma” –ou seja, em tese há uma poesia que não transforma e, portanto, não serve para nada, mas essa serve. Hmmmm, que cheirinho gostoso de autoajuda.

Aí você se depara com os seguintes versos:

“Pinte a parede da sala, sem medo de se sujar
Devore a lasanha, a coxinha… sem culpa por engordar
Frequente novos lugares, respire outros ares
Pois é preciso mudar!”

Garçom, minha porção de coxinhas é SEM poesia, por favor.

– Rupi Kaur, “Outros Jeitos de Usar a Boca”

Kaur é descrita como
“poeta feminista
contemporânea”. Parece
achar que basta
escrever desse jeito, quebrando
as frases, para que tudo se con-
verta em “poesia”. É até
OK se você quiser boas legendas
para suas fotos do Insta-
gram. Se preferir poesia
mesmo, largue já esse
livro e pegue qualquer um da
Wislawa Szymborska.

Léo Burgos/FolhapressLéo Burgos/FolhapressAs livrarias no Brasil morrem, mas passam bem: o papel ainda aceita tudo

***

A GOIABICE DA SEMANA

Não há concorrência possível à lambança do ministro Marmello (“marmelada de banana, bananada de goiaba, goiabada de Marmello”). E lambança, claro, é a hipótese mais caridosa –“acordei invocado e vou soltar mais de 150 mil condenados em segunda instância! Feliz Natal!”. Enquanto Marco Aurélio Mello continuar a ser o Senhor Voto Vencido, talvez ainda haja salvação para nós.

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