RuyGoiaba
Novas sugestões para a bandeira brasileira
14.12.18O patriotismo está na moda, o mundo aplaudiu. Sim, é aquela mesma ideia que Samuel Johnson chamava de “o último refúgio do canalha” e Millôr Fernandes adaptava dizendo que, “no Brasil, é o primeiro”. O presidente eleito já disse que quer “resgatar o orgulho de ser brasileiro” –isto é, habitante de um país em que metade da população faz cocô no buraco–, então vamos lá.
Quem sabe mudar os dizeres da bandeira ajude: todo brasileiro sabe que “ordem e progresso” é um projeto falido. Na verdade, o lindo pendão da esperança já começou meio torto incluindo coisas escritas –tende a não dar certo, como atesta a tradução errada de Virgílio na bandeira de MG (“liberdade que, embora tardia”).
E, como se sabe, o lema original de Auguste Comte falava de amor (“o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”). Mas suponho que os milicos positivistas que fundaram a República tenham achado que era frescura demais escrever também “amor” no símbolo augusto da paz.
Seja como for, se é para ter letrinhas na bandeira, que seja alguma frase que exprima melhor a essência da brasilidade. Como esta coluna não se furta a oferecer propostas para o bem do Brasil, listo uma série de lemas que combinam muito mais com o verde da esperança e o amarelo do desespero (como disse a um jornal, certa vez, uma senhora questionada sobre os significados das cores).
1. “Crime ocorre nada acontece feijoada”
É o meme de internet que melhor descreve o país, de longe. Consegue abranger, numa formulação sucinta, os mais de 60 mil homicídios por ano, a inação e/ou incompetência dos poderes constituídos e o prato nacional brasileiro.
E tem a vantagem de poder ser lido como haicai:
Crime ocorre.
Nada acontece.
Feijoada.
Melhor e mais significativo que a obra completa de Paulo Leminski.
2. “Cuidado com bolsas e carteiras”
Esse teria a vantagem de não apenas alertar turistas como os próprios eleitores do país. Imaginem que beleza uma bandeira “cuidado com bolsas e carteiras” estendida na Câmara, no Senado, nas Assembleias etc.
3. “Rala ralando o tchan aê”
Esse trecho de “Ralando o Tchan (Dança do Ventre)”, do glorioso grupo de Carla Perez e Compadre Washington, simboliza o brasileiro que rala para ganhar a vida –todos nós– e se ferra todo dia, mas sempre com muito bom humor. Ou seja, umas boas bestas de carga —às vezes literalmente. Inclui, ainda, apelos à harmonia entre as nações –“essa é a mistura do Brasil com o Egito”– e um califa que está de olho no decote dela, em vez de sair por aí explodindo coisas.
4. “Sete a um foi pouco”
Para lembrar o nosso momento esportivo mais marcante dos últimos anos. Proponho ainda que se declare feriado o 8 de julho, dia da goleada da Alemanha na Copa de 2014. Em São Paulo, pelo menos, daria para emendar com o 9 de julho –outra derrota– e ganhar um feriado prolongado, que o brasileiro ama.
5. “Nóis capota mais num breka”
Autoexplicativo, incluindo o português errado: é a consequência óbvia de slogans do tipo “acelera, Brasil!”. E o hasteamento da bandeira poderia ser feito ao som do “Tema da Vitória” de Ayrton Senna.
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A GOIABICE DA SEMANA
Está divertido ver os bolsominions tentando justificar –ou mantendo um silêncio estrondoso sobre– essa mal explicada história do ex-assessor de Flávio Bolsonaro e sua “movimentação financeira atípica”. Como sempre, a fábrica de memes da internet já produziu os melhores comentários.
Um dos mais recentes traz os símbolos do “outubro rosa” e do “novembro azul” — meses das campanhas de prevenção do câncer no seio e na próstata. Ao lado deles, a foto do senador eleito como símbolo do “dezembro laranja”.
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