DiogoMainardina ilha do desespero

Menos Lula, mais Bolsonaro

23.11.18

Tenho um encontro marcado com 550 leitores na segunda-feira, num teatro de São Paulo. Já me empetequei todo: cortei o cabelo (18 euros), comprei uma camisa (azul), renunciei ao panettone (com grande dor). Fiz dois videozinhos para vender ingressos, um pior do que o outro. Até dediquei alguns minutos à pavorosa tarefa de pensar no que dizer.

O organizador do evento, que é um dos pioneiros de O Antagonista, garantiu que ninguém está disposto a ouvir pela quadragésima vez nossas anedotas sobre a origem do site. Como o ingresso custa dinheiro – e custa absurdamente caro -, é natural que os espectadores queiram tirar algo desse encontro, e não apenas assistir à nossa patuscada autocongratulatória. Em resumo: menos passado, mais futuro; menos Lula, mais Jair Bolsonaro.

Falar sobre Jair Bolsonaro é moleza. Sua história correu paralelamente à nossa. Assim como o site, ele é um produto da internet. Assim como o site, ele cresceu com a Lava Jato. Assim como o site, ele era um nanico. Nas primeiras conversas sobre o jornal, pensamos em chamá-lo 1 Por Cento. O nome condizia com nosso caráter minoritário, exacerbado pelo fato de que havíamos decidido inaugurá-lo no dia da posse de Dilma Rousseff, depois do quarto sucesso consecutivo do petismo.

Espantosamente, tudo mudou nos últimos quatro anos. Jair Bolsonaro, que tinha 1 por cento do eleitorado, alargou-se até conquistar o Brasil inteiro. E O Antagonista, que nasceu como 1 Por Cento, tornou-se um dos maiores veículos de imprensa do país, sobretudo agora, com a Crusoé.

Eu tive a sorte imensa de testemunhar uma reviravolta irrepetível. É isso que eu gostaria de dizer na segunda-feira, antes de comer uma fatia de panettone.

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