DiogoMainardina ilha do desespero

Como reprimir e amansar um canibal

18.05.18

Como é que se convive com um canibal sem ser devorado por ele?

É a questão central de Robinson Crusoé. É também – e não se trata de um exagero – a questão central da humanidade.

Depois de vinte e cinco anos na Ilha do Desespero, sozinho, conversando apenas com seu papagaio, Robinson Crusoé encontra uma pegada humana.

Aterrorizado, ele avista numa praia alguns canibais que executam e devoram outros canibais, que pertencem a uma tribo inimiga.

Ele mata os canibais agressores e salva um daqueles que estava para ser comido, que se joga aos seus pés, agradecido.

A partir daquele momento, o canibal se torna seu companheiro na ilha deserta.

É Sexta-Feira.

Inicialmente, Robinson Crusoé teme ser morto e devorado por seu canibal. À noite, para se proteger de um ataque sorrateiro durante o sono, ele se entrincheira em sua gruta.

Aos poucos, porém, Robinson Crusoé consegue domesticar o selvagem.

Ele lhe dá umas roupas, inculcando-lhe o conceito de vergonha.

Ele lhe oferece carne de cabrito, em vez de carne humana.

Ele mostra seu poder de fogo, matando animais com sua espingarda.

Ele estabelece uma hierarquia social, na qual Sexta-Feira aceita seu papel de subordinado e se dirige a Robinson Crusoé como seu Senhor.

Ele lhe ensina a falar inglês – a língua que só ele domina.

Ele o catequiza, com leituras diárias da Bíblia.

Da mesma maneira que Robinson Crusoé doma a natureza selvagem da Ilha do Desespero, recorrendo aos rudimentos da vida civilizada, ele doma também a natureza selvagem de Sexta-Feira.

A bestialidade está sempre à espreita, e se manifesta de maneira imprevista, como a pegada de um canibal. Mas Robinson Crusoé mostra que ela pode ser reprimida e amansada. Sim, Senhor.

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