DiogoMainardina ilha do desespero

O risco do contágio emburrecedor

15.11.18

Jair Bolsonaro disse que poderia nomear “até um gay” para o Itamaraty. O Antagonista reproduziu sua fala e, dez minutos depois, teve de fechar a caixa de comentários.

É sempre assim: o site publica algo relacionado a homossexuais e é imediatamente emporcalhado por mensagens nojentas. Durante a campanha eleitoral, os petistas espalharam o temor de que, se Jair Bolsonaro fosse eleito, o Brasil seria tomado por trogloditas racistas e homofóbicos, dispostos a reprimir na marra todos os direitos das minorias. Isso é propaganda de uma gente vagabunda que só quer escapar da cadeia. Não é disso que se trata, claro. O que incomoda nessas mensagens é a apoteose do insulto tosco, do humor ordinário, do desaforo adolescente. Não corremos o risco de uma guinada autoritária, e sim de um contágio emburrecedor.

Na quarta-feira, Jair Bolsonaro – finalmente – escolheu seu chanceler. Não, ele não é gay. Ele é, de acordo com seu blog, um antiglobalista. É bizarro pensar que um diplomata brasileiro possa ser antiglobalista. O Brasil é antiglobalista por natureza. O Globo, de fato, ignora nossa existência. E nós ignoramos a existência do Globo. O único momento em que o Brasil teve alguma influência externa foi no governo Lula. Não por causa de Celso Amorim ou Marco Aurélio Garcia, e sim por causa da decisão de Lula de transferir o Itamaraty para o departamento de propinas da Odebrecht e trabalhar como seu lobista em lugares remotos como Venezuela e República Dominicana.

A propósito do departamento de propinas da Odebrecht, sou obrigado a dedicar algumas linhas ao interrogatório de Lula, realizado no mesmo instante em que Jair Bolsonaro anunciava o novo chefe do Itamaraty. Dois meses atrás, aqui na Crusoé, fiz uma coluna intitulada “Minha anta morreu”. Nela, eu dizia:

Lula não vai fazer falta para mim. Ele não vai fazer falta para ninguém. Se tudo correr direito, o Brasil vai poder se aposentar dele em outubro, elegendo um candidato que não atropele as leis para tirá-lo da cadeia.

Foi exatamente o que ocorreu. No depoimento à juíza Gabriela Hardt, minha anta estava morta. Mais do que isso: ela estava empalhada, com os olhos de vidro. Numa conversa recente com Mario Sabino, ele notou que as reportagens sobre Lula começaram a ganhar apenas duas linhas no rodapé das primeiras páginas dos jornais. Até aqui, em minha coluna, ele virou uma nota de rodapé. Mas podem insultá-lo à vontade.

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