Ian Cheibub/FolhaPress

“Eu tenho luz própria”, diz Marinho

O empresário afirma que não precisa da proximidade com políticos para fazer negócios e ganhar dinheiro. E nega que tenha interesses especiais no governo de Jair Bolsonaro
09.11.18

Paulo Roberto Fonseca Marinho, 66, é quase unanimidade entre políticos, famosos e ricaços: quem o conhece o define, na maioria das vezes, como uma figura amigável e muito bem relacionada. Ele tem o típico perfil de empresários e consultores que prosperam dentro ou fora do governo. Sempre há alguém simpático que conhece alguém, que conecta pessoas — que, enfim, fazem negócios. Não há, necessariamente, crime nesse tipo de atuação. Paulo Marinho refere-se ao seu jeitão com orgulho: “Durante a minha vida inteira eu fiz isso, entendeu? Amizade. Então, eu conheço pessoas de todo o tipo”. Nesta quinta-feira, ele atendeu Crusoé. Falou de sua trajetória, de como ajudou José Dirceu, do apoio que deu ao filme de Lula, da amizade com João Doria e, claro, da proximidade com Jair Bolsonaro. “Tudo o que estão te falando aí de negativo eventualmente pode te dar problema, só isso. Entendeu?”

O que o sr. tem a dizer sobre ser comparado por algumas pessoas com o mensaleiro Marcos Valério?
Desculpa, querido. Sabe o que é isso? Isso é fruto deste momento de exposição… Porque também é o seguinte: eu, para ser uma pessoa reconhecida, não preciso trabalhar na campanha eleitoral de ninguém, de nenhum político, entendeu? Eu tenho luz própria. Tenho 66 anos de idade. Estou na última quadra da minha vida, minha vida está feita. Está entendendo? A minha história de vida não vai começar agora. Ela já começou há muito. Minha vida não começou na campanha do capitão Bolsonaro, entendeu? Não tenho nenhum interesse. Tenho o maior apreço pela família, o capitão sempre foi muito cordial comigo, nunca estive em nenhum evento em que eu não tivesse sido convidado para estar.

O senhor pretende assumir a cadeira de Flávio Bolsonaro no Senado, como foi ventilado recentemente?
Não, eu não pretendo assumir, a não ser que o capitão me convoque para assumir. Aí eu faria com o maior prazer. Eu acredito no governo dele. Então, a liderança dele para mim é a grande liderança nacional no Brasil. Eu estou num governo, no Brasil hoje, de direita, entendeu? É isso o que me move, uma questão ideológica. Não tenho nenhum interesse no governo de forma nenhuma. Jamais serei um personagem que transita dentro do governo. Jamais. Pode esquecer. Isso não é minha praia. Tenho uma vida feita, quatro filhos para cuidar, tenho uma família maravilhosa. Tudo o que estão te falando aí de negativo, eventualmente pode te dar problema, só isso. Entendeu? Mas se você for correto na sua apuração, você vai ver que não tem nada disso, entendeu? Não tem problema nenhum, aí você me bota como o futuro Marcos Valério de alguma porra, entendeu?

Há pessoas no entorno do presidente eleito que têm receio quanto ao seu papel no futuro governo.
Eu não tenho nenhuma intenção em participar do governo. A minha participação na campanha foi a pedido do capitão, durante o período da campanha. Ali se encerrou meu trabalho de ajudá-lo. Foi uma questão de natureza ideológica. Só para ficar claro: não tenho nenhum interesse, nenhuma intenção, nem próxima, nem longe do governo. Aliás, me desculpe, não é a primeira vez que eu tenho participação em projeto político-eleitoral. Eu ajudei a eleger o Moreira Franco governador em 1986. Atuo na política do Rio de Janeiro há muito tempo. Conheço todos os políticos do Rio. Nunca quis entrar na política. Então essa questão de preocupação em relação a mim — não há nenhum sentido lógico nisso.

O que o sr. pretende fazer, então, nos próximos anos?
No governo, nada. Eu pretendo continuar minha vida. A minha participação no episódio do capitão Bolsonaro se encerra para mim no final da campanha eleitoral. Eu não tenho nenhuma intenção. Não fui convidado para absolutamente nada. Prefiro ficar fora de qualquer atividade de governo, porque acho que estou na torcida aqui, como todos os brasileiros, para que o governo seja um sucesso, como eu acredito que vai ser.

Como se aproximou de Bolsonaro?
Sou amigo do Gustavo Bebianno (assessor de Bolsonaro) há 30 anos. Nós nos conhecemos no escritório do doutor Sérgio Bermudes, de quem eu sou irmão e amigo. Ele era estagiário, eu era empresário, já tratava de assuntos jurídicos com o Sérgio, e o conheci lá. Depois, em 2000, ele era diretor jurídico do Jornal do Brasil. Quando o Nelson Tanure comprou o Jornal do Brasil, eu cheguei e ele estava lá como diretor jurídico e nós trabalhamos durante um período juntos no Jornal do Brasil. E, desde então, a gente mantém um relacionamento social, de amizade, enfim. Há um ano, ele me procurou, me perguntando se eu estaria disposto a ajudar na campanha do capitão Bolsonaro, eu aceitei o convite e imediatamente fiz parte do grupo que estava ajudando o capitão na campanha. Foi isso.

Quais são seus negócios hoje?
Minha vida é calma. Tenho quatro filhos maravilhosos, uma família maravilhosa. Eu tenho uma empresa de consultoria comercial, tenho alguns clientes, trabalho, faço alguns negócios na área imobiliária, e é isso. A minha vida é isso. Exatamente como eu te contei agora.

O que diz sobre os relatos de que há diferenças entre o sr. e Gustavo Bebianno e os filhos de Bolsonaro?
Deixa eu te falar a verdade, tá? Para você ficar bem informado em relação a isso. Eu tenho uma ótima relação, recente, mas muito boa, com o Flávio, de quem eu sou suplente no Senado. E, aliás, só um registro: foi ele quem me fez o convite para que eu aceitasse a honrosa função de suplente dele. Então tem uma relação recente, mas muito boa com ele. Eu admiro muito o Flávio, um cara preparado, acho que ele vai fazer um belo trabalho no Senado. Em relação aos outros dois irmãos, o Eduardo eu praticamente não conheço. (Ele) foi uma única vez na minha casa durante o período da campanha, tá? E o reencontrei no dia da apuração na casa do pai, onde a gente se cumprimentou, mas não tenho nenhuma relação com ele pessoal. Com o Carlos, idem, eu não tenho nenhuma relação pessoal com ele. Assim, toda vez que eu fui à casa do pai dele, a convite do pai, e que eu cruzei com ele, sempre foi muito amistoso comigo, e eu com ele. Mas é uma coisa assim absolutamente formal. Nunca trocamos mais do que dez palavras. E não tenho nenhuma animosidade. Ao contrário, o Gustavo (Bebianno) se dá muito bem com os três, os três reconhecem o trabalho que o Gustavo fez para a campanha. Então eu acho que isso aí é uma coisa fruto da… Sabe aquela coisa da intriga palaciana? Aquela coisa do início do governo, botando uns contra os outros?

O sr. apoiou o João Doria antes de se aliar a Bolsonaro?
O Doria é amigo meu de longa data. E quando ele ensaiou que ia disputar a presidência, eu, de fato, achei que era uma boa alternativa. E eu comecei a ajudá-lo nos trabalhos. Fiz dois encontros no Rio para viabilizar esse apoio.

O sr. é tido como um abridor de portas no meio empresarial de Rio e São Paulo e no Poder Judiciário.
Eu deixei saudades e amigos por onde passei. Então, como me considero uma pessoa do bem, e eu já tenho 66 anos de idade… Eu tenho muitos anos de vida. Durante a minha vida inteira eu fiz isso, entendeu? Amizade. Eu conheço pessoas de todo o tipo. Empresários, jornalistas. Aliás, onde eu tenho mais amigos é no jornalismo.

Como foram seus anos em Brasília?
Morei três anos em Brasília. Fui muito feliz lá. Meus filhos eram pequenos, estudavam na Escola Americana. Eu na época aluguei uma casa muito boa, ali na Península dos Ministros (área nobre do Lago Sul). Fui muito feliz. Fui vice-presidente do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil. Fiz um trabalho muito interessante para o jornal na época. Foi um período muito agradável da minha vida. Gostei muito da cidade.

O sr. fazia festas para convidados ilustres na sua casa?
Eu fiz muitas, muitas. Eu recebia muito, porque é uma cidade que tem um pouco essa característica, né? Mas eram todas reuniões, recepções voltadas para o interesse do jornal, entendeu? Como eu representava dois jornais importantes na época em Brasília, eu promovi vários encontros lá, seminários, palestras, coquetéis, jantares, enfim, eu recebia muito na minha casa.

Dirceu, Dilma e Sarney passaram por lá?
Exatamente. Todos esses que você falou passaram por lá. E eram pessoas com quem eu mantinha relacionamento. Na época que eu cheguei em Brasília, era no período do primeiro mandato do presidente Lula. E naquela ocasião o Zé Dirceu era ministro-chefe da Casa Civil e ele, enfim, era convidado para os eventos do Jornal do Brasil, sempre prestigiou o jornal na época. O presidente Sarney era o presidente do Senado naquela ocasião. Eram pessoas com quem eu mantinha uma relação institucional.

Com Lula também?
Não, o Lula, eu estive com ele uma única vez no palácio, acompanhado do Nelson Tanure, para uma entrevista… uma visita de cortesia do jornal.

Por que o sr. ajudou a arrecadar fundos para o filme do Lula?
Eu sou muito amigo do Luiz Carlos Barreto, e o Barretão foi produtor do filme do Lula. Naquela ocasião, eu ajudei a encaminhar alguns contatos para que ele pudesse apresentar o projeto. Mas não estive diretamente envolvido na produção do filme, não.

José Dirceu estava na sua casa na véspera de ser cassado na Câmara, e o sr. chamou parlamentares para tentar evitar que ele perdesse o mandato.
De fato eu mantinha relação de amizade… quer dizer, não uma amizade, mas enfim, tinha uma relação com o ministro Zé Dirceu, e ele naquela ocasião me procurou, porque eu tinha um grande amigo meu que era deputado, para me pedir para dar uma palavra com um amigo meu deputado, que era uma pessoa da minha amizade, que iria votar e provavelmente… acabou votando, infelizmente, contra ele, lá naquela votação da cassação. Mas foi exclusivamente (para perguntar) se eu poderia apresentar esse amigo meu, deputado do Rio de Janeiro, para ele. Foi isso.

Além de representar o JB e a Gazeta Mercantil, o sr. fazia lobby para Nelson Tanure, seu ex-chefe, em Brasília.
Trabalhei com o Nelson Tanure durante 17 anos, tá? E, além de trabalhar com ele, nós tivemos uma relação pessoal, de amizade. Inclusive ele é padrinho de batismo da minha filha. Além de trabalharmos juntos, nós éramos amigos. E obviamente que no período em que eu estive em Brasília representando o Jornal do Brasil, em algum momento ele me pediu alguma ajuda para estabelecer algum contato em Brasília, que eu não me recordo exatamente em que situação foi isso, mas enfim… Nada que eu tenha feito sistematicamente, entendeu?

O sr. ajudou Tanure no acordo milionário que ele fez com a Petrobras?
Ele tinha uma ação de realinhamento de preços de um navio que os japoneses construíram para a Petrobras, e essa ação foi herdada pelo Tanure. E tinha lá um contencioso em relação a isso, mas nada diferente do que eu estou te falando. Aliás, essa ação nem era do Tanure, originalmente era uma ação de um grupo japonês. Foi esse estaleiro dos japoneses, o Tanure comprou no Brasil.

O sr. fez lobby para que o acordo saísse? Pediu ajuda para Dirceu?
Não, eu não fiz… Imagina… Nem, pô, pelo amor de Deus.

Por que o sr. ganhou 20% do valor desse acordo de Nelson Tanure com a Petrobras?
Eu fiz um acordo com o Tanure, ele me pagou um dinheiro da rescisão trabalhista, e eu fiquei credor de uma série de ações judiciais que o estaleiro tinha contra algumas empresas, entendeu? Eu fiquei com um percentual de 20% do resultado dessas ações que transitavam na Justiça, contra várias entidades. Então é isso.

Restabeleceu relações com Tanure?
Restabeleci. Nós estamos concluindo um acordo naquelas ações, naquele contencioso que eu tinha contra ele e ele contra mim. Enfim, foi um período em que a gente esteve distante, mas que a gente está acertando agora. Eu fico muito feliz por isso, inclusive.

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