DiogoMainardina ilha do desespero

Cadê o fascista que estava aqui?

09.11.18

A imprensa sempre retratou Jair Bolsonaro como um déspota. Deve ser frustrante preparar-se para o pau-de-arara e constatar que, em sua primeira semana no poder, o tirano recuou em todos os seus projetos autocráticos. Num dia, Jair Bolsonaro vai fechar o STF com um cabo e um soldado. No outro, ele faz cafuné em Dias Toffoli e anuncia que pretende consultá-lo “antes de tomar qualquer iniciativa”. Num dia, ele promete armar os brasileiros e matar os criminosos. No outro, ele diz que vai encontrar um “meio-termo” sobre o desarmamento com Sergio Moro. Num dia, ele vai devastar o planeta. No outro, ele aparece negociando o Ministério do Meio Ambiente com um ecologista. Num dia, ele vai eliminar a propaganda estatal e quebrar a imprensa. No outro, ele e sua equipe telefonam furiosamente para os repórteres e plantam notinhas nos jornais.

A propósito de notinhas plantadas nos jornais, Jair Bolsonaro e sua equipe falam sem parar. Eles falam tanto – e com tanta gente – que os próprios repórteres passaram a recomendar-lhes um comportamento mais recatado. É a maior queixa da imprensa até agora: o presidente eleito faz anúncios demais e é obrigado a se desdizer praticamente todos os dias. A imprensa tem razão, é claro: Jair Bolsonaro não pode jogar conversa fora como se estivesse no clube ou no barbeiro. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que esses seus recuos não denotam um temperamento particularmente autoritário. Ao contrário: alertado sobre seus erros, o presidente eleito se corrige na hora e esquece o assunto. Jair Bolsonaro é o fascista menos fascista de todos os tempos.

Sim, eu posso estar enganado. Ninguém garante que, daqui a alguns meses, os repórteres da Crusoé não estejam presos num porão do Dops, tomando choques elétricos em nome do coronel Ustra. Nesse caso, eu me disponho até a caguetar um ou dois. Mas os primeiros sinais emitidos por Jair Bolsonaro foram de uma brandura extrema: ele delegou poderes a Paulo Guedes e Sergio Moro, aceitou a tutela do general Augusto Heleno no Palácio do Planalto e prestou contas aos eleitores de todas as suas escolhas.

Os nostálgicos da ditadura militar já morreram. A prova disso é que o “ame-o ou deixe-o” se tornou apenas um bordão cafona para as macacas de auditório de Silvio Santos. O Brasil mudou. Estamos prontos para o futuro.

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