RuyGoiaba

O incrível exército de Bolsoleone

01.11.18

Onyx –pronuncia-se “Onics”– diz que a reforma da Previdência da gestão Temer é uma porcaria. Paulo Guedes responde que Onics é político e não sabe de economia. Chamados às falas pelo chefe, ambos asseguram que Meio Ambiente e Agricultura vão se fundir. À noite, o ruralista Nabhan Garcia diz que não é bem assim. De lambuja, o general Mourão deixa seu silêncio obsequioso e compara Magno Malta a um elefante na sala e a um camelo sem deserto.

Jair Bolsonaro mal se elegeu e a arca de Noé –ou o incrível exército de Bolsoleone– que o acompanha já é diversão garantida. Nesse contexto, o convite a Sergio Moro para o Ministério da Justiça parece até uma tentativa de desviar a atenção da balbúrdia reinante, incluindo o astronauta do feijãozinho no algodão, que mandará na ciência e tecnologia do país.

E os petistas tiveram a manha de ser derrotados por isso. Sempre achei que Hillary Clinton, depois de conseguir perder a Casa Branca para um bilionário de reality show, deveria andar com um saco de supermercado cobrindo a cabeça. Também o pessoal do PT que adorou o segundo turno contra Bolsonaro –por achar barbada– deveria cobrir a cabeça com o saco se tivesse vergonha na cara.

(Claro: se tivessem vergonha na cara, para começar, nem seriam petistas. Aliás, mal passou a eleição e já voltaram a ser a seita do “presidente Luuuula”, como diria Marcelo Adnet imitando Fernando Haddad.)

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Diante da cafonice da estética bolsonarista (jogador de futebol com sobrancelha desenhada, memes de WhatsApp, Barra da Tijuca, aquela pavorosa ilustração do olho verde-e-amarelo chorando), a esquerda responde com “ninguém solta a mão de ninguém”. Outra cafonice, só que naquela vibe esquerda cirandeira-Vila Madalena-abraço na Lagoa Rodrigo de Freitas, que talvez incluísse trilha sonora de Mercedes Sosa e seu bumbo se ainda estivéssemos nos anos 70.

Dirão vocês que o Brasil é um país cafona. Parafraseando Nelson Rodrigues, compreendo e aceito a cafonice como uma graça de Deus. Mas a política brasileira é jeca demais até para nossos padrões. E estética é destino. Um país em que Edison Lobão usa aquela tintura e Renan Calheiros aquele implante de cabelo –sem serem punidos por isso– não corre o menor risco de dar certo.

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A GOIABICE DA SEMANA

Hoje a seção é dedicada a essa praga da modernidade que são os rockstars fazendo hora extra como comentaristas políticos. Por exemplo, Roger Waters, que passou uns 200 anos no Brasil, apresentando-se na República de Curitiba depois de ter tentado, sem sucesso, visitar Lula. Ninguém disse ao ex-Pink Floyd que não haveria a menor chance de ele NÃO ser vaiado?

Tivemos também Bono, que disputa com Waters o prêmio de Rockstar Ativista Mais Chato do Mundo, opinando sobre a eleição de Bolsonaro e dizendo que ele pode “transformar o Carnaval numa parada militar”, quando qualquer um no Bananão sabe que o risco maior é exatamente o oposto. Os gringos subestimam o incrível talento do brasileiro para esculhambar tudo –incluindo a democracia.

Rogério Águas, ex-líder do Pink Floyd, comentarista político e chato de galocha

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AVISO DE FÉRIAS

Deixei a boa notícia para o pé do texto: por um mês, vocês serão poupados da chatice deste colunista. Vemo-nos em dezembro, se ainda houver alguém por aí (e se ainda houver Brasil). Au revoir!

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