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Bolsonaro mais perto da faixa

A última pesquisa Crusoé-Empiricus sobre a sucessão presidencial mostra que o candidato do PSL tem 60,6% dos votos válidos, contra 39,4% do petista Fernando Haddad. Indagados sobre a razão do voto, a maioria dos entrevistados confirma o que já estava, de certa forma, desenhado: o antipetismo e a rejeição a Lula devem definir o resultado da eleição
26.10.18

A campanha presidencial de 2018 chega ao fim marcada como a mais atípica desde a redemocratização. Foi curta, intensa, conflagrada e pontuada por interrogações que até recentemente pairavam no ar. Ao longo das sete semanas e meia desde seu início oficial, contou com uma sucessão de episódios surpreendentes, como a tentativa de assassinato do líder das pesquisas, Jair Bolsonaro, do PSL, e a insistência, até o último instante, do PT em viabilizar a candidatura de Lula, condenado e preso pela Lava Jato e, portanto, impossibilitado de participar pela lei da Ficha Limpa.

Prestes a ser definida, a disputa caminha para um desfecho que, desde o resultado do primeiro turno, já se mostrava o mais provável. A dois dias da etapa final da eleição, a quinta pesquisa Crusoé-Empiricus mostra que Bolsonaro segue como franco favorito, com uma vantagem considerável. O militar da reserva está, por assim dizer, com a mão na faixa. A diferença entre ele e o candidato do PT, Fernando Haddad, diminuiu muito pouco em relação à última pesquisa, divulgada no dia 17 de outubro: Bolsonaro aparece com 60,6% e o petista com 39,4%. No último levantamento o candidato do PSL tinha 60,9% dos votos válidos ante 39,1% de seu oponente petista.

O levantamento foi feito pelo Instituto Paraná Pesquisas entre os dias 23 e 25 de outubro. Foram entrevistados 2.120 eleitores em 160 municípios de todos os estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Considerando os votos totais, o percentual fica em 53% para Bolsonaro e 34,4% para Haddad. Na primeira pesquisa, eram 52,9% para o militar e 33,9% para o petista. O número de eleitores que declararam que não votarão em nenhum dos dois diminuiu dentro da margem de erro. Era de 9,4% no dia 17 e agora é de 8,6%. Os dados mostram ainda que a rejeição do candidato do PSL também ficou estável. Era de 38 % e agora é de 39,4%. Continua menor que a de Haddad, que ficou em 54,5%, ante 55,2% no dia 17.

Rovena Rosa/Agência BrasilRovena Rosa/Agência BrasilHaddad, em encontro em São Paulo, na quinta: o PT vive o seu inferno eleitoral
Em relação à última sondagem, não houve alterações significativas quanto às regiões do país e às faixas de escolaridade. Entre os eleitores com ensino superior, Bolsonaro vence por 61,7% a 29,3%. Ele repete a dianteira nas demais faixas. Entre os que têm até o ensino médio, o placar fica em 55% a 31,1%. No ensino fundamental, outrora uma fortaleza petista, Bolsonaro se distanciou de Haddad em relação à última pesquisa. Tem 45,4% contra 41,6% do petista. Antes, era de 43,5% contra 43,3%. O Nordeste continua sendo a única região em que Fernando Haddad vence. Lá, tem 51,9% e o adversário, 35,6%.

A nova pesquisa também procurou entender os motivos pelos quais os eleitores escolhem um candidato ou outro. O resultado geral mostra que o desejo de mudança e o antipetismo são os principais definidores desta eleição. Para 32,2% dos que dizem que votarão em Jair Bolsonaro, a opção se deve ao fato de ele “representar a mudança”. É o caso do advogado Rômulo Sulz, de 54 anos, nascido e criado em Brasília e residente na Asa Norte, região de classe média da capital federal. Ele votou em Bolsonaro no primeiro turno e repetirá o voto neste domingo. “Meu voto é pela mudança de rumo. É como quando o time de futebol está ruim. O dono do clube troca o técnico. Além da mudança em si, gera um efeito psicológico muito grande. A gente precisa de mudança.”

Resultados da pesquisa

Na segunda posição entre as razões do voto em Bolsonaro, aparece o fato de o candidato “ser contra Lula e o PT”. Essa foi a resposta de 19% dos entrevistados. “Vejo no meu voto em Bolsonaro uma forma de protestar contra todos os desmandos que os governos do PT impuseram ao país”, emenda o advogado Rômulo, cujas opiniões sintetizam as dos entrevistados. O advogado diz que antes da era petista, principalmente do governo Dilma Rousseff, sua renda era 70% maior. Agora, é obrigado, por exemplo, a atrasar o pagamento da pensão alimentícia das filhas. O antipetismo também norteia o voto de Cristiano Veloso da Silva, de 33 anos, que em 2005 trocou o Recife por Santa Maria, cidade satélite de Brasília. Ele se considera um antipetista “convicto”, diz que Haddad é um “fantoche” de Lula e se incomoda com as visitas frequentes do candidato ao ex-presidente na prisão em Curitiba. “É um absurdo um candidato a presidente visitar um presidiário.”

Além da vontade de mudança e da rejeição a Lula e ao PT, na pesquisa os eleitores de Jair Bolsonaro disseram que o escolheram “pelos projetos anticorrupção” (6,9%), “pela defesa dos valores da família” (6%), “por ser honesto/confiável” (4,4%), “pelos projetos para a área de segurança pública” (4,3%) e porque “se identifica com o discurso do candidato” (4,3%).

Já as declarações de voto em Haddad são fundamentadas na rejeição à figura de Bolsonaro e na simpatia por Lula. Dos entrevistados que disseram que irão votar no candidato petista, 20,3% dos eleitores afirmam que o escolheram “por não gostar do candidato Jair Bolsonaro”. É a mesma linha de raciocínio da advogada Rosana Fay, 50 anos, moradora de Águas Claras, cidade de classe média vizinha a Brasília. “Jamais votaria nele. Em hipótese nenhuma. Nem sob tortura. Ele está na política há 30 anos e nunca fez nada relevante”, diz, mesmo após a ressalva de que se decepcionou com o PT no poder. “Não voto nele por convicção. Na Dilma (Rousseff), em 2014, já não votei por convicção. Estou decepcionada com o PT. Não pesquisei nada sobre o Haddad. Mas Bolsonaro é pior”, explica.

Os outros motivos apontados pelos eleitores de Haddad como a razão do voto no petista são os seguintes: “defesa da democracia” (12,5%), “por ser candidato do ex-presidente Lula” (12,3%), “se identifica com o discurso do candidato” (7%) e “pela defesa dos direitos humanos” (4,9%). Parte desses argumentos está presente na opinião da bacharel em serviço social Vanessa Moreira Diniz, 29 anos, moradora da periferia da capital federal. “Bolsonaro não respeita os direitos humanos. Não tem perfil para liderar o país. Não vai governar para todos. Representa as pessoas que não se importam com os diretos dos outros. Não respeita a democracia”, diz ela, que no primeiro turno votou em Ciro Gomes, do PDT, por também se considerar crítica à era petista.

Crusoé pediu ao Instituto Paraná que perguntasse aos entrevistados qual deve ser, para eles, a prioridade do próximo presidente da República. Para 35,2%, a saúde pública tem de ser objeto primordial de atenção do novo mandatário. A segurança pública aparece em seguida, apontada por 20,5% dos entrevistados. Depois, vêm educação pública (19,2%) e geração de empregos (8%). Em tempos de Lava Jato, o combate à corrupção foi citado, curiosamente, por apenas 4,5% dos eleitores ouvidos. Para 3,6%, a prioridade deve ser a recuperação da economia e para 1,1%, o próximo presidente deve se dedicar em maior medida à área social.

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