Erbs Jr./Agif/Folhapress

As gargalhadas de Doria

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo diz que o partido precisará fazer uma "profunda reflexão" após as eleições e dá muita risada ao ser perguntado se teria um desempenho melhor do que o de Alckmin, caso tivesse sido escolhido pelo tucanato para concorrer ao Palácio do Planalto
28.09.18

João Doria gargalha – e gargalha efusivamente – quando perguntado se deveria ser ele, e não Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Como quem tem a resposta na ponta da língua, mas não quer entrar em atrito com seu mentor político, o ex-prefeito de São Paulo que agora disputa o governo do estado mais rico da federação tenta escapulir da pergunta: “Posso pular?”. E continua a rir. Cria política de Alckmin, ele se afastou do ex-governador paulista quando surgiram especulações de que tinha interesse em ser a opção tucana na corrida presidencial (na verdade, eram bem mais do que especulações). Agora, com a corrida eleitoral em curso, e com o presidenciável tucano estacionado nas pesquisas de intenção de voto, o entorno de Alckmin diz nos bastidores que Doria não estaria se empenhando suficientemente na tarefa de pedir votos para o candidato do PSDB ao Planalto. Há até quem o acuse de estar, por debaixo do pano, apoiando Jair Bolsonaro.

O ex-prefeito, evidentemente, nega a traição. Mas reconhece o crescimento de um movimento que já ganhou o apelido de “Bolsodoria”: as pesquisas mostram a expansão do número de eleitores que votam em Doria para o governo e em Jair Bolsonaro para o Planalto. “Começou no interior do estado, se estendeu pela região metropolitana e chegou na capital também muito rapidamente”, explica, garantindo que não incentiva esse movimento. “Tem que perguntar para o eleitor por que ele está com esse sentimento, não a mim.” Ao falar de Bolsonaro, Doria gargalha de novo. Mas responde: diz que o candidato do PSL é um “fenômeno eleitoral”, produto de um “sentimento popular” que ele prefere não explicar por qual razão o PSDB não soube explorar eleitoralmente. “Acho melhor que você dirija essa pergunta ao partido.” Ele defende, porém, que o comando tucano faça uma profunda reflexão sobre a performance da sigla nestas eleições. E, quase que tripudiando sobre o mau desempenho de Alckmin na cena nacional, volta a citá-lo quando perguntado se corre risco de perder a eleição estadual para Paulo Skaf (os dois aparecem empatados na maioria das pesquisas): “Temos aqui mais do que o dobro do que o Geraldo”. De volta ao tema Bolsonaro, Doria se nega a dizer se o PSDB deveria integrar um eventual governo do capitão da reserva. “Essa não é uma resposta disponível.” E, mais uma vez, gargalha. Eis a entrevista.

Por que Geraldo Alckmin não decola?
Ao contrário das outras eleições, esta é uma campanha de reta final. Nos últimos sete dias ainda vamos ter muitas alterações. Não entregamos os pontos e nem achamos que Geraldo está fora do jogo.

Mas ele não sai da faixa de sete ou oito pontos nas pesquisas. Por que até agora ele não decolou?
É o eleitor que tem que responder. Tem um universo de 30% de eleitores que ainda não tomaram suas decisões de maneira irreversível. Sobretudo o voto feminino. Há um universo maior de mulheres que ainda não decidiram porque elas demoram mais tempo mesmo. Esse fator pode implicar variação mais à frente.

Se fosse o senhor o candidato a presidente, a eleição estaria mais tranquila para o PSDB?
Posso fugir dessa pergunta? Posso pular (gargalhada)? Deixa eu pular? Essa eu pulo. Pulo (gargalhada novamente).

Por que, afinal, o senhor não conseguiu ser o escolhido?
Eu não fiz campanha. Eu não me apresentei como pré-candidato à Presidência. Pessoas falavam sobre isso. A imprensa também. Mas nunca admiti nem me apresentei como tal.

As pesquisas mostram que está havendo em São Paulo o voto “Bolsodoria”, de eleitores que votam no senhor para governador e em Bolsonaro para presidente. Como o senhor, tucano, explica esse fenômeno?
Vou responder em duas etapas. Primeiro: eu continuo apoiando Alckmin e acreditando nele. A segunda parte é que, se é fato há esse movimento (o “Bolsodoria”), ele não é gerado, estimulado ou acalentado por nós. Dizer que não há é faltar com respeito a vocês e a você pela pergunta. Existe esse movimento. Começou no interior do estado, se estendeu pela região metropolitana e chegou na capital também muito rapidamente. Ele não é parte da nossa estratégia nem está integrado na nossa campanha.

Mas qual é a explicação?
Olha, de novo: tem que perguntar para o eleitor por que ele está com esse sentimento, não a mim. Nós estamos trabalhando pelo voto Alckmin-Doria.

Se o segundo turno for entre Haddad e Bolsonaro, quem o PSDB deve apoiar?
Não querendo fugir, mas dando uma resposta política: vamos esperar dia 7 de outubro (data do primeiro turno). O meu cenário é com Alckmin disputando contra Bolsonaro e não com Fernando Haddad.

Reformulo a pergunta. Alguma chance de o PSDB apoiar o PT no segundo turno se Alckmin não avançar?
Da minha parte, nenhuma (risos). Quero deixar claro (risos novamente). Agora, da parte do PSDB, tem que perguntar para a direção do partido. Da minha parte, nenhuma chance. Não há a menor nem a mais remota hipótese de o PT ou de qualquer outro partido de esquerda ter o meu apoio. Não há hipótese. Não há hipótese.

Por quê?
Porque já destruíram o Brasil em 13 anos. Não vamos repetir o erro.

Rovena Rosa/Agência BrasilRovena Rosa/Agência BrasilDoria com Alckmin em tempos de paz: o ex-prefeito garante que tem pedido votos para seu mentor, mas há quem duvide de seu empenho
E qual é a opinião do senhor sobre Jair Bolsonaro?
(De novo, ele gargalha) Reconhecidamente é um fenômeno eleitoral. Não há como negar que é um fenômeno eleitoral, surpreendendo a todos.

Ele é produto do quê?
Produto do sentimento popular. Não tem fenômeno que possa ser classificado como tal se não tiver amparo popular. O Bolsonaro tem isso. É um fato.

Em que momento o PSDB perdeu o “amparo popular”?
Prefiro que você dirija essa pergunta ao partido e aos que dirigem o partido.

Mas qual é a sua impressão?
Eu tenho que ser muito equilibrado nisso para não dar sensação equivocada aos seus leitores. Essa é uma questão que tem que ser colocada ao partido. Sou um candidato do partido, mas não sou dirigente do partido.

O PSDB precisa fazer uma reflexão interna sobre essas eleições?
Sem dúvida. Mas sem dúvida. Aliás, uma profunda reflexão. Um bom partido reflete sobre a campanha para poder aprimorar-se. É prova de grandeza e maturidade fazer uma avaliação sobre essa campanha. Não vejo como o PSDB pode eximir-se disso.

Apesar de o senhor ter mais votos em São Paulo do que Alckmin, sua eleição também parece correr risco, não?
Temos aqui mais do que o dobro do que o Geraldo.

E o que explica essa diferença?
De novo: tem que perguntar para o eleitor. Eu estou fazendo campanha. Eu sou o mesmo João Doria. Não sou outro João Doria. Continuo apresentando os mesmos princípios liberais, a defesa da livre iniciativa, um estado menor, desestatizante e que foque onde é essencial: saúde, educação, habitação, transporte, segurança pública. Meu discurso não mudou. Se você olhar o discurso de hoje e o da disputa para a capital em 2016, é o mesmo. Só que hoje não estou fora da política como estava em 2016. Eu estou na política.

Mas ainda assim há chances reais de o senhor ser derrotado e o PSDB perder sua principal base eleitoral, que é São Paulo.
São dois aspectos. Um, o aspecto de que meu discurso é o mesmo, de uma defesa liberal, que sempre tive. Outro, é que há um sentimento de parte da população da capital paulista que gostaria que eu não tivesse deixado a prefeitura. Eu respeito esse sentimento. Compreendo principalmente pelo lado bom. Eu sempre digo: quando você gosta de um vizinho, de uma pessoa que frequente sua casa, você não quer que ela mude de endereço. Mas acho que as pessoas estão se convencendo de que não estou indo embora. Ao ser eleito, vou governar aqui em São Paulo, na capital, e com o (prefeito) Bruno Covas. Ajudando o Bruno a fazer uma boa gestão. Sobretudo pela dependência que a prefeitura tem do governo do estado.

Johnny Morais/Futura Press/FolhapressJohnny Morais/Futura Press/FolhapressJoão Doria em campanha na última terça-feira. Sobre Bolsonaro, ele diz: “Reconhecidamente é um fenômeno eleitoral”
Acreditava que esta seria uma eleição mais fácil para o senhor?
Nunca achei. Você não vai encontrar nenhuma declaração minha nesse sentido. Sempre disse que seria uma eleição dura. Primeiro, pelos fatores normais. Hoje, eu não sou um nome de fora da política, como era em 2016. Eu estou na política. Dois: o sentimento em relação à esquerda não é o mesmo de dois anos atrás, quando o povo saiu às ruas para pedir o impeachment de Dilma e o “fora Lula”. Se fosse igual, o Lula não teria 35% e o Haddad disparado como um boneco ventríloquo do Lula. O Ciro (Gomes) não teria a intenção de voto que está tendo. Houve uma reversão nesse processo. É assim no país inteiro.

No segundo turno a esquerda vai com Skaf?
(Demora a responder) Não creio. Até porque ele não é da esquerda, embora tenha sido do Partido Socialista Brasileiro. Mas não creio que essa esquerda petista possa votar no Paulo Skaf.

Por quê?
Não vejo sintonia de comportamento.

E a esquerda votaria no senhor?
Comigo, evidentemente, não votará. Até porque sou anti-esquerda, notadamente e declaradamente. Para ficar bem claro qual é o meu lado: meu lado não é o da esquerda. Não dou margem nenhuma para ela estar comigo.

Se Alckmin perder, o senhor pretende conduzir o partido em São Paulo?
De novo. Você sabe que sou muito assertivo. Não sou murista. Essa linha do PSDB não é minha linha. Mas tenho que ser cauteloso. Primeiro, preciso ganhar a eleição. Vencida, aí sim posso responder sua pergunta. Não posso avançar e dar a entender que antes de vencer já estou fazendo considerações sobre o PSDB.

Se Bolsonaro vencer as eleições, o PSDB deve integrar a base do governo dele?
(Demora a responder) Essa não é uma resposta disponível (Solta outra gargalhada).

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO