AndreBueno-CMSP'Pacheco não tem dificuldade para decolar. Ele ainda não se apresentou como candidato'

‘Temos o nosso timing’

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, diz acreditar em Rodrigo Pacheco como pretendente ao Planalto, mas não crava candidatura. Ele defende que ainda há tempo hábil para a melhor decisão
14.01.22

Gilberto Kassab personifica como poucos o pragmatismo político. Para tentar ocupar o vácuo da terceira via e se consolidar como ator fundamental no ano eleitoral, o presidente nacional do PSD fez dois importantes movimentos de 2020 para cá: atuou fortemente nos bastidores para afastar o partido do governo Jair Bolsonaro e trabalhou para levar às fileiras da sigla nomes de peso da política nacional, como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Nas duas frentes, foi bem-sucedido.

O maior desafio do ex-ministro de Dilma Rousseff e de Michel Temer agora é fazer com que o PSD esteja nas principais rodas de conversas da campanha presidencial e seja capaz de eleger uma robusta bancada no Congresso. Só assim, Kassab e o seu partido conseguirão o protagonismo político que tanto almejam a partir de 2023. Para alcançar o objetivo, no entanto, é necessário que a pré-candidatura de Pacheco ao Planalto, lançada no final do ano passado, ganhe fôlego. Por ora, o nome ainda não empolgou os eleitores, mas Kassab tira isso por menos, embora não trate como fato consumado o lançamento do presidente do Senado como candidato – uma decisão que, diz, deverá ser tomada até março. “Pacheco não tem dificuldade para decolar. Ele ainda não se apresentou como candidato. Ele tem cumprido o planejamento. Temos o nosso timing.”

Nos últimos dias, especulou-se que Kassab estaria, na verdade, se articulando para virar vice na chapa de Lula. Nesta entrevista a Crusoé, o presidente do PSD rechaça a hipótese de maneira contundente. “Olha, seria um desrespeito… Tenho o mínimo de inteligência política. A chance de eu ser candidato nessas eleições é zero”, diz. Com a mesma veemência, ele rebate as acusações de fisiologismo que pesam sobre o partido, criado em 2011. A prova do contrário, afirma, é que o PSD não foi cooptado pelo governo. A propósito, Kassab não economiza nas críticas ao se referir a Jair Bolsonaro. “As pessoas hoje têm desprezo por ele.”

O que explica a manutenção do cenário de polarização extrema entre Lula e Bolsonaro?
Essa polarização existe mesmo e se consolida, mas é cedo para firmarmos convicção de que esse será o resultado das urnas. Estamos nos aproximando do período das janelas partidárias, e a partir de abril é pré-campanha em período eleitoral. O que posso dizer é que o PSD não está preocupado com a polarização. O PSD vai ter candidatura própria justamente porque quer discutir o Brasil, discutir propostas, quer mostrar o que pensa, quer o debate. Estamos cansados de observar manifestações em relação a compromissos com o país no campo social, do desenvolvimento, da infraestrutura, mas que são folhas de papel que não vêm acompanhadas de nenhum plano de governo ou de manifestação em relação às contas públicas. É muito fácil falar que vai cuidar dos menos favorecidos, dos mais pobres, mas, antes de mais nada, é preciso cuidar das contas públicas. Só consegue cuidar dos menos favorecidos quem cuida das contas públicas. Não estou vendo ninguém debater o fortalecimento do SUS, o aporte de mais recursos ao sistema de saúde, por exemplo. Sou favorável a que as pessoas debatam propostas. Por isso, o PSD lançará candidatura e debaterá.

Caso Rodrigo Pacheco não decole, a quais possibilidades de aliança o partido estará aberto?
Primeiro, quero enfatizar que Pacheco não tem dificuldade para decolar. Ele ainda não se apresentou como candidato. Ele tem cumprido o planejamento e está avaliando a candidatura à Presidência. É uma decisão que não sai antes de março. Não tem por que sair. Não precisamos fazer como outros pré-candidatos, que tiveram que questionar, fazer prévias. O Pacheco vem levando essa discussão junto com o partido. Ele volta a Brasília em fevereiro e, aí sim, é hora de definir. Espero que ele seja candidato. E será um bom candidato. É uma pessoa muito inteligente e preparada, se tornou um dos principais advogados do Brasil. E entrou na politica para seguir seu sonho, com ascensão meteórica. Se elegeu deputado, presidiu a CCJ, principal comissão da Câmara, logo depois se elegeu senador e presidente do Senado. Hoje, é pré-candidato à Presidência, respeitado por todos. Temos o nosso timing. Não precisamos precipitar nada.

E se Pacheco lhe disser que não será candidato ao Planalto? Qual a alternativa?
Aprendi nesses quase 30 anos de vida pública que tem pergunta que não pode ter resposta. Se disser que tem plano B, C ou D, aí não tenho mais o plano A. Tudo tem seu tempo na política. Não é inteligente fazer essa discussão.

Há especulações de que o sr. estaria mesmo é tentando ser vice na chapa de Lula.
Olha, seria um desrespeito… Tenho o mínimo de inteligência política e bastante experiência. A chance de eu ser candidato nessas eleições é zero. Eu defini já, comigo mesmo, a minha participação nessas eleições. E ela se dará no campo partidário, nos planos nacional, estadual e municipal, junto com os candidatos.

Avener Prado/FolhapressAvener Prado/Folhapress‘As pessoas hoje têm desprezo por ele (Bolsonaro)’
Como vê a possibilidade de uma chapa Lula-Alckmin?
Quando a gente não conhece as circunstâncias, fica complicado opinar. Como estamos distantes, prefiro não me manifestar. Geraldo foi correto com o PSD. Nos procurou dizendo que era candidato a governador, repetiu à exaustão que era candidato a governador. E demos nosso apoio público, mesmo que fosse por outro partido. Num determinado momento, ele nos procurou e disse que deixava de ser candidato a governador para ir para um projeto nacional. Estamos procurando alternativas, pois teremos candidato a governador em São Paulo. Não ficou mágoa porque ele avisou com antecedência. Se fosse em abril, quando o partido não tem mais prazo para procurar outros projetos, diria que ele cometeu um erro. Mas nos procurou antes para avisar. Diante da realidade político-partidária brasileira, não ficou nenhum trauma.

O sr. descarta o apoio do PSD a Lula?
Em relação à candidatura do presidente Lula, como tenho companheiros de partido que defendem essa aliança, que são minoritários, não vou usar a palavra “impossível” porque seria um desrespeito com eles, mas não acredito. O senador Otto Alencar é aliado do PT na Bahia. O deputado (federal) Fábio Mitidieri é aliado em Sergipe. O senador Omar Aziz é aliado no Amazonas. São pessoas que ficariam felizes se houvesse essa aliança entre PSD e PT, mas não acredito que vá acontecer. Não falo que é impossível porque estaria agredindo essas pessoas. Tenho o bom hábito de saber respeitar as divergências e as opiniões diferentes.

Há quem diga que o PSD é uma espécie de “novo PMDB”, com grande capilaridade, com políticos da esquerda à direita e que procura compor com governos. Como o sr. enxerga essa comparação?
São pessoas mal informadas. Quem acompanha a política sabe que o PSD não tem esse perfil. Desde o primeiro dia deste governo, assumimos postura independente. Está acabando o governo e permanecemos independentes. Cadê o fisiologismo? Você tem alguma dúvida de que, se quiséssemos ter postura fisiológica, não seríamos atendidos pelo governo?

Quais são as suas impressões sobre Lula? Em sua avaliação, por que ele lidera as pesquisas?
Olha, primeiro, o Lula e o Bolsonaro têm recall (são lembrados pelo eleitorado). O recall ajuda muito. Lula, pelas diversas eleições e pelos oito anos de governo. Bolsonaro, porque foi eleito quatro anos atrás e é o atual presidente. O eleitor ainda não enxerga as outras candidaturas. Lula tem pontos negativos e positivos. Os negativos são todos os desmandos, as denúncias que não foram esclarecidas até hoje. E os positivos são os bons programas que o governo teve, como o Minha Casa, Minha Vida, o Saúde da Família, o programa de satélites, do qual participei, e que agora permitiu a tecnologia 5G… Eu elencaria aqui uns dez bons programas que são reconhecidos por todos e justificam o vinculo dos eleitores com ele ainda hoje. 

Avener Prado/FolhapressAvener Prado/Folhapress‘Olha, seria um desrespeito… (se articular para ser vice de Lula). Tenho o mínimo de inteligência política e bastante experiência’
Até que ponto os desmandos podem prejudicar Lula?
Eles vão voltar ao debate eleitoral e são temas importantes. Lula tem que se preparar para responder, para justificar.

Como o sr. avalia a gestão de Bolsonaro e a viabilidade eleitoral dele?
Avalio de maneira muito negativa. Não vejo, infelizmente, pontos positivos. Gostaria de ver, mas não vejo. Me fala uma marca do governo Bolsonaro. O Auxílio Brasil, esquece… É um Bolsa Família turbinado. Satélite 5G foi feito lá atrás. O Minha Casa, Minha Vida acabou. Fazia 1 milhão de casas por ano, agora o Casa Verde e Amarela faz 10 mil, 15 mil. Bolsonaro fala que está levando água do Rio São Francisco, mas isso começou no governo Lula.

Em 2018, o eleitor apostou na “nova política”. Haverá um novo fenômeno neste ano? Qual será a marca das eleições de 2022?
Será a marca da eficiência, dos resultados, da boa política. A eleição do Bolsonaro foi a eleição da negação da política. E foi uma experiência muito ruim. As pessoas vão olhar para candidatos e entender currículo, seus compromissos, a sua história.

Por essa ótica, a dos “resultados”, Rodrigo Pacheco não pode ser prejudicado por nunca ter administrado uma cidade ou um estado?
Discordo. Ele hoje é gestor público de um dos maiores orçamentos do país, que é o do Congresso Nacional. Ele tem experiência, sim. Foi muito bem-sucedido na iniciativa privada e é agora, na vida pública, na política e na gestão. Ele é chefe de um poder.

Avener Prado/FolhapressAvener Prado/Folhapress‘Você tem alguma dúvida de que, se quiséssemos ter postura fisiológica, não seríamos atendidos pelo governo?’
Como o sr., que já foi e ainda hoje é investigado, observa o movimento para enterrar a Lava Jato?
Eu não vou defender nem atacar ninguém. Só posso dizer que, em relação a mim, tive conduta ilibada em todos os cargos que ocupei na vida pública e estou muito tranquilo em relação ao presente e ao passado. E confiante em relação ao futuro. Não vou me manifestar porque todos sabem que houve erros e acertos. De todos. Seja do lado do Executivo, com corrupções, seja do lado do Ministério Público e do Judiciário, com exageros que claramente ocorreram. Não vou pormenorizar esses erros e acertos. Só posso falar por mim.

O perfil da nova política não se sustentou no Congresso. A atual legislatura não trouxe grandes novidades. Por quê?
A pandemia congelou muito as discussões no mundo. Isso é mais do que compreensível. No Brasil, o governo fez uma parte, distribuiu recursos depois de ser muito pressionado, mas por outro lado a política negacionista fez com que ele perdesse credibilidade. Cada pessoa morta impacta mais ou menos 100 pessoas, entre família, vizinhos, colegas de trabalho, amigos. E tivemos 700 mil mortos. Quando o presidente vem negando a máscara, participa de aglomeração e ignora a vacina, perde o respeito dessas 70 milhões de pessoas, que passam a não considerar mais o presidente. Ele foi perdendo legitimidade. As pessoas hoje têm desprezo por ele. Falo isso de maneira bem isenta, porque a recomendação do nosso partido para as bancadas é ajudar o Brasil. Se o governo explodir, o Brasil explode junto. Também não aceitamos aquela conduta de esmagar o adversário, é isso que diferencia o PSD de outros partidos. Vamos fazer a boa política e discutir políticas públicas.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO