DiogoMainardina ilha do desespero

Bem-vinda, cadeia

14.01.22

A nova variante do vírus invadiu minha casa no mesmo dia em que Jair Bolsonaro deu-lhe boas-vindas. Meu filho mais velho, Tito, está com Covid. Essa é a notícia mais desinteressante do planeta, considerando que, neste momento, não há uma única pessoa que não esteja doente, exceto o próprio Jair Bolsonaro e eu.

Tito, que já tomou a terceira dose da vacina, só está com um sintoma: o nariz cheio de meleca. Além de dar boas-vindas à nova variante do vírus, Jair Bolsonaro deveria dar boas-vindas também à meleca do Tito, como um vendedor de berimbau na loja do aeroporto. Welcome, meleca. A coisa pode ser meio nojenta, sobretudo quando Tito espirra, mas não é preocupante. Meu medo, na verdade, é o mesmo de sempre, há mais de dois anos: que um de nós contamine alguém mais frágil — minha sogra, por exemplo — e acarrete sua morte. Eu sei o que isso significa. Meu pai morreu de Covid na primeira onda da epidemia. Minha cota, portanto, já foi paga.

O que a meleca do Tito tem a ver com a disputa presidencial? Tudo. Jair Bolsonaro vai ser punido por sua conduta criminosa com uma derrota vexatória nas urnas e, em seguida, com uns anos de cadeia. Assim como eu colaborei para prender Lula, minha meta profissional, de uns tempos para cá, tem sido colaborar para prender o sociopata. É o que me faz apoiar com tanto entusiasmo a candidatura de Sergio Moro: ele promete romper o ciclo de impunidade que tirou Lula da cadeia e que vai tirar também, no ano que vem, o vendedor de berimbau. Já é o bastante para mim.

Na quarta-feira, escarafunchei os números da pesquisa da Quaest e concluí, mais uma vez, que Moro pode vencer. Há muita torcida em meus cálculos, mas há igualmente um bocado de aritmética. Para que isso ocorra, é preciso contar com alguns fatores nos próximos meses. O primeiro deles é que Moro monte uma campanha de verdade. O segundo é que outros candidatos da terceira via desistam de suas candidaturas bisonhas. O terceiro é que Ciro Gomes se mantenha na disputa até o fim, apesar da surra que está levando. Se ele abandonar, de fato, aumenta a probabilidade de um triunfo de Lula no primeiro turno.

Quanto a Jair Bolsonaro, só espero que ele continue a fazer exatamente o que já vem fazendo. É a garantia de sua derrota em outubro. O eleitorado vai cobri-lo de meleca. E, em 2023, em vez de dar boas-vindas à nova variante do vírus, ele vai dar boas-vindas à cadeia.

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